Com expectativa de ser difundido para os 853 municípios do Estado, numa iniciativa envolvendo as demais unidades regionais da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais – (SES-MG), a Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros – (SRS) iniciou neste mês, de forma pioneira, o repasse do Protocolo de Enfermagem para Atendimento Antirrábico Humano nos serviços municipais de atenção primária do Norte de Minas. O protocolo elaborado pela referência técnica das coordenadorias de Vigilância Epidemiológica e de Saúde da SRS de Montes Claros, Amanda de Andrade Costa, visa agilizar o atendimento de pessoas vítimas de acidentes com animais transmissores da raiva, uma vez que se trata de doença com alta taxa de letalidade.
“O objetivo é validar a prática da enfermagem e ampliar as atribuições do (a) enfermeiro (a) na atenção primária da rede municipal, através de um guia simples e prático para a consulta do profissional quanto à prescrição de vacina, soro ou imunoglobulina antirrábicos”, explica Amanda Costa.
A elaboração do Protocolo contou com a participação de equipe multiprofissional formada por especialistas atuantes no Norte de Minas nas áreas da enfermagem, veterinária e medicina.
Em Montes Claros a apresentação do Protocolo foi concluída quarta-feira, 28, envolvendo 160 enfermeiros que atuam em Unidades Básicas de Saúde – (UBS). Também neste mês o Protocolo foi apresentado a profissionais da atenção primária e da assistência hospitalar dos municípios de Monte Azul, Mamonas, Gameleiras, Catuti, Mato Verde e Espinosa. Em março a apresentação contemplará profissionais de São João do Pacuí.
Amanda Costa observa que apesar da adoção e utilização do Protocolo ter respaldo legal dos conselhos Federal e Regional de Enfermagem, bem como da Lei Federal 7.498 que regulamenta o exercício da enfermagem, a utilização depende de aprovação de cada município. Em novembro de 2023 o Comitê de Urgência e Emergência aprovou a adoção do Protocolo pelos 86 municípios que integram a macrorregião de saúde do Norte de Minas. Na SRS de Montes Claros estão jurisdicionados 54 municípios; 25 pertencem à Gerência Regional de Saúde – (GRS) de Januária e, sete, à GRS de Pirapora.
O cenário epidemiológico preocupante com aumento de animais positivos para raiva; a rotatividade ou ausência de profissionais médicos em alguns municípios, impactando a assistência recebida pelos usuários vítimas de agressão animal e a letalidade da raiva humana que chega a 99%, foram alguns dos motivos que levaram a Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SRS de Montes Claros a elaborar o Protocolo de Atendimento Antirrábico Humano.
Dados do Centro de Controle de Zoonoses de Montes Claros apontam que entre 2018 e 2023 foram capturados no município 27 morcegos, todos portadores do vírus da raiva. Além disso, em áreas urbanas e rurais a doença pode ser transmitida às pessoas por cães, gatos, equinos, bovinos, suínos e animais silvestres, entre eles morcegos, gambás, micos, saguis, gato do mato e raposas.
De acordo com o Protocolo, entre os procedimentos que os profissionais de enfermagem deverão adotar quando uma pessoa vítima de agressão por animal potencialmente portador da raiva procurar uma unidade de saúde estão: consulta de enfermagem; limpeza do ferimento; confirmação da agressão; notificação do agravo; avaliação da imunização antitetânica e aplicação de vacina quando indicado.
O ferimento deve ser lavado imediatamente com água e sabão por 15 minutos, mesmo que o paciente já tenha realizado uma limpeza. Não é recomendada a sutura dos ferimentos. Quando imprescindível, as bordas podem ser aproximadas com pontos isolados, uma hora após a infiltração de soro.
O atendimento de pessoas menores de 18 anos e de portadores de problemas cognitivos, mesmo devido a idade avançada, deve ser realizado pelos enfermeiros mediante a presença de um cuidador ou familiar. A consulta deverá ser registrada em prontuário ou formulário específico cedido pelo município.
A doença
A raiva é uma doença quase sempre fatal, para a qual a melhor medida de prevenção é a vacinação pré ou pós-exposição ao vírus. A doença é transmitida às pessoas pela saliva de animais infectados, principalmente por meio da mordedura. A doença também pode ser transmitida pela arranhadura ou lambedura desses animais.
Após o período de incubação, surgem os sinais e sintomas clínicos inespecíficos da raiva, que duram em média de dois a dez dias. Nesse período, o paciente apresenta mal-estar geral, pequeno aumento de temperatura, anorexia, cefaléia, náuseas, dor de garganta, entorpecimento, irritabilidade, inquietude e sensação de angústia.
Pode ocorrer inchaço, aumento da sensibilidade ao tato ou à dor, frio, calor, formigamento, agulhadas, adormecimento ou pressão no trajeto de nervos periféricos, próximos ao local da mordedura e alterações de comportamento.
A infecção da raiva progride, surgindo manifestações mais graves e complicadas, como: ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre, delírios, espasmos musculares involuntários generalizados ou convulsões.
A raiva não tem cura e sua evolução é muito rápida. Entre o começo dos sintomas e o estado de paralisia, podem se passar apenas sete dias.
É por conta disso que, assim que alguém é mordido, lambido ou arranhado por um animal urbano ou silvestre que não esteja vacinado contra a raiva, é preciso tomar a vacina e realizar os procedimentos para impedir que o vírus entre em contato com o sistema nervoso central.
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