Interesse de busca por umbanda no Brasil cresce e bate recorde em 2023, segundo dados do Google Trends. O período compreende desde 2004, ano do começo da série histórica da plataforma. As buscas pela religião atingiram picos em maio e outubro.
Além de além de ser feriado nacional por conta da Proclamação da República, esta quarta (15) também é o Dia Nacional da Umbanda que foi oficializada em 2012 pela então presidente Dilma Rousseff (PT). Essa data foi escolhida porque a umbanda surgiu no Brasil no dia 15 de novembro de 1908 por meio do médium fluminense Zélio Fernandino de Moraes (1891-1975).
Para pai Denisson d’Angiles, sacerdote no terreiro CEU Estrela Guia, o aumento do interesse por umbanda se dá porque é uma religião que absorve e compreende a pluralidade do mundo. “Assim como a miscigenação brasileira, onde há orientais, descendentes de africanos, descendentes de europeus e descendentes de indígenas dos povos originários”.
João Luiz Carneiro, autor dos livros “Religiões afro-brasileiras: Uma construção teológica” e “Os Orixás na Umbanda”, diz que a umbanda é uma das tradições mas sincréticas porque tem muitos pontos de contato com diversas tradições religiosas.
“Há um fenômeno cada vez mais crescente de uma certa customização da experiência religiosa. É como se você não fosse vinculado a uma instituição religiosa, mas gostasse de associar-se a diversas formas de crenças e valores”, afirma Carneiro.
De acordo com Denisson, grande parte dos brasileiros são umbandistas sem saber. “Quem nunca vestiu branco no Réveillon ou pulou sete ondas ou acendeu uma vela na praia ou colocou flores na areia do mar? Essas são práticas umbandistas”, diz.
Além disso, Carneiro lembra que durante a pandemia, muitos líderes espirituais religiosos da umbanda se manifestarem para além dos livros e começaram a utilizar as plataformas de streaming e as mídias sociais como veículos de comunicação dos seus fundamentos e preceitos religiosos.
Assim, começou a ter uma aproximação do público que antes não tinha conhecimento sobre a umbanda e passou a se relacionar por meio das mídias.
Denisson foi um dos sacerdotes que adotou as videochamadas e lives durante a pandemia. No início, ele conta que foi relutante em transmitir as cerimônias de seu terreiro de umbanda nas redes sociais. Mas depois percebeu que a mensagem da religião oferecia motivação, paz e uma visão de futuro que seria possível superar o período pandêmico.
Para Carneiro, o aumento do interesse pela religião não significa que diminuiu a intolerância religiosa em relação às religiões de matriz africana. Reportagem da Folha traz estudo que fala sobre essa religiões, como umbanda e candomblé, ainda serem os alvos preferenciais de discriminação por conta de fé.
Denisson diz que sofre preconceito no dia a dia, mesmo quando está fazendo um trabalho social. “Quantas vezes eu ouço algo como ‘a comida da macumba?’ Algumas religiões fazem questão de rotular a Umbanda e os Candomblés como algo do submundo, como algo criminoso, quando na realidade é criminoso quem propaga isso”.
Fabiana Cavalcanti, 41, dirigente da Casa de Caridade Pai João de Oyó, que representa a maioria dos pais e mães de santo de Sumaré, já foi alvo de ataques em setembro de 2021.
“Foram ataques muito violentos, pois as pessoas arrombaram o terreiro, quebraram coisas sagradas para nós. Escreveram palavrões na parede, fizeram coisas absurdas, rasgaram roupas e adornos de entidades”, diz Fabiana.
Ela diz que, por ora, essas situações foram cessadas, mas está percebendo que muitos centros espíritas estão sendo fechados por questões judiciais por falta de alvará.
(Vitória Pereira / Folhapress)
Compartilhe: