A mãe do menino Davi, de 5 anos, assassinado pelo próprio pai nesta quarta-feira (1º de novembro), ainda não consegue acreditar que perdeu o “amor da sua vida”. “Ele (Davi) achou que o pai havia ido lá vê-lo porque estava com saudades”, contou Nicole Nayara Dias, de 28 anos. Após avistar Manoel, Davi foi atingido por um tiro.A criança foi sepultada às 15h desta quinta-feira (2 de novembro).Conforme a Polícia Militar, o garotinho teve quatro paradas cardiorrespiratórias e não sobreviveu à quinta. O homem viajou da cidade onde vivia (Serro) até o município de seu filho, Claro dos Poções. Todos acreditavam que se tratava de uma visita.
O pai ainda acertou Jhonatas, o namorado da ex-companheira e, em seguida, tirou a própria vida. A tragédia ocorreu no momento em que Jhonatas chegava com a criança no CEMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) Tia Naza. Nicole detalhou que, ao ver a aproximação de Manoel, de 52 anos, Jhonatas correu com Davi para entrar na unidade escolar. Porém, o esforço foi inútil, já que o vigia foi ameaçado de morte, e o homem conseguiu entrar na escola. Davi chegou a pedir o auxílio do porteiro, após ter visto a arma, dizendo: “Tio, me ajuda”, conforme relato de moradores.
Criança amorosa
Emocionada, a mãe relata que Davi sempre foi amoroso. “Meu filho tinha cabelos cacheados enormes e loiros. Ele era igual um anjo. Ele era inteligente. Ele era amigável com todo mundo, abraçava todo mundo. Tanto que ele achou que o pai estava com saudades dele”.
Manoel já havia dado, segundo Nicole, vários sinais de que poderia tomar alguma atitude violenta. Por um ano, a mulher tinha, inclusive, uma medida protetiva em desfavor do homem. Ela já havia relatado aos militares da cidade, que tem pouco mais de 7 mil habitantes, que sofria agressão.
“Eu nunca o proibi (Davi) de conversar com o pai. Foi um pai maldoso, que o sequestrou duas vezes. Não me ajudava em nada. Só queria me atingir. Ele sempre falou que quando a gente fosse atingir alguém, a gente tinha que focar no lado mais sensível. Foi isso que ele fez. Ele matou o amor da minha vida, o meu menino, o meu mundo”, desabafou.
Um policial militar da cidade confirmou, sob a condição de anonimato, que o homem nunca aceitou o fim do relacionamento e tinha ciúmes da relação de Nicole com Jhonatan.
Nicole não sabe o que será de sua vida daqui para frente. “Todo dia ele dizia que me amava. E agora? Como vai ser? Agora não tem mais nada. A única coisa que posso fazer é reclamar da falta de proteção que tive de todo mundo. Não quero que isso aconteça com nenhuma mãe mais. Queria o meu filho na minha casa, gritando, bagunçando. Agora, peço a Deus para me levar o mais rápido possível. Eu só quero chegar na minha casa, deitar na minha cama e dormir. Eu não quero mais nada”, lamenta.
Mãe considera que não foi acolhida
A jovem reclama que não conseguiu a ajuda necessária para evitar o pior. “Clamei por Justiça, por proteção. Me expus na internet pedindo ajuda. Avisei que isso poderia acontecer. O Conselho Tutelar me ajudou, mas desconfiava de mim e acreditava nas palavras dele (Manoel)”. Ela revelou ainda que um irmão de Manoel, que trabalha na prefeitura da cidade, a incomodava.
Nicole afirma ainda que nenhum representante da escola a procurou antes de postar sobre a morte do filho na internet. “Só postaram na internet para mostrar que estão me apoiando. Apoio que estou tendo é dos meus amigos e da família, e de gente de fora, que eu não conheço”, reclama.
Outro lado
A reportagem tentou, na manhã desta quinta-feira (2), contato com a Polícia Militar, com a prefeitura de Claro dos Poções, com o Conselho Tutelar de Claro dos Poções e com a escola infantil municipal. Os retornos serão publicados assim que recebidos. A prefeitura publicou uma nota de pesar sobre o caso, nessa quarta-feira (1º).
Leia na íntegra:
“O município de Claro dos Poções, por intermédio da Secretaria Municipal de Educação, vem, com muito pesar, informar que hoje, dia 01 de novembro de 2023, um de seus alunos foi vítima de um crime bárbaro que ceifou sua vida. O município expressa suas sinceras condolências a todos os familiares da criança vitimada.O menor vinha sendo acompanhado pelo Conselho Tutelar do município que também está dando suporte ao caso. Nesta oportunidade, também vem esclarecer que o crime não foi cometido em detrimento da colatividade de alunos, tampouco contra a instituição de ensino em si. O fato aconteceu por volta das 13 horas, horário de início do turno vespertino no CEMEI. Ressalta-se que o crime deverá ser investigado pelas instituições competentes.Insta salientar que os primeiros socorros foram feltes pela equipe da Secretária Municipal de Saúde e depois com apoio do SAMU, Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar, e neste ensejo aproveitamos para agradecer encarecidamente a todos estes colaboradores que tentaram de todas as formas, preservar as vidas que ali estavam sob perigo. Até o momento da confecção desta nota, os adultos sobreviventes estão sendo atendidos. Que Deus conforte o coração dos enlutados“.
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