Agentes da Polícia Federal (PF) identificaram que o major Rafael Martins de Oliveira, integrante das Forças Especiais do Exército, usou dados falsos para tramar contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
De acordo com a investigação, ele habilitou uma linha telefônica em nome de um homem com quem se envolveu em um acidente de trânsito.
O major passou pelo local, “em baixíssima velocidade”, dirigindo um veículo de modelo VW T-Cross. Ao passar por uma curva no local, Lafaiete contou que o carro de Rafael estava “quase parado” e ele não conseguiu frear a tempo de evitar a colisão. O homem também registrou que o outro envolvido era Rafael Martins de Oliveira.
Depois da batida, os dois conversaram e acionaram a seguradora para retirar os carros da pista. Na mesma situação, Rafael tirou duas fotos que ficaram armazenadas em seu celular pessoal. Uma delas foi da CNH de Lafaiete, registrada na íntegra e mostrando os dados pessoais do homem, que depois foram usadas pelo major para ativar a linha telefônica.
Nessa foto, Rafael deixou à mostra seu dedo indicador. Quando encontrou a imagem, a PF a enviou para o Instituto Nacional de Identificação (INI), que identificou as impressões digitais como sendo de Rafael depois da realização de perícia papiloscópica.
“O Laudo Papiloscópico […] obteve êxito em identificar que as impressões papilares do dedo indicador esquerdo coincidem com as digitais de RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA”, informou a PF. A perícia também identificou que a foto foi tirada do celular de Rafael por volta de 1h37 da madrugada de 25 de novembro de 2022 no local do acidente, na BR-060.
Os agentes também fizeram a consulta da placa do carro dirigido por Rafael e identificaram que o veículo pertence a uma empresa de aluguel. Quando questionada pela PF, a empresa informou que o veículo foi alugado para Rafael, que o retirou no aeroporto de Goiânia às 16h40 de 21 de novembro de 2022. A devolução foi feita no dia 25 de novembro, às 13h34.
Na investigação, a operadora de telefonia em que o número foi registrado informou que a linha foi habilitada em 8 de dezembro de 2022, dias depois da batida, e os dados cadastrais estavam em nome de Lafaiete.
“A partir dessa constatação, que demonstrou imediata correlação entre os dados vinculados ao terminal telefônico 61-98178- 9891 e a pessoa envolvida no acidente de trânsito, a equipe de investigação chegou à conclusão de que RAFAEL DE OLIVEIRA utilizou os dados de LAFAIETE TEIXEIRA CAITANO, terceiro de boa-fé, para habilitar número telefônico que, posteriormente, foi utilizado na ação clandestina do dia 15 de dezembro de 2022”, concluiu a PF.
Os agentes também indicaram que a técnica faz parte de um processo chamado de “anonimização”, uma “técnica prevista na doutrina de Forças Especiais do Exército que possui como finalidade não permitir a identificação do verdadeiro usuário do prefixo telefônico”.
Entenda
A PF deflagrou na terça-feira a operação de Contragolpe. Agentes descobriram o planejamento de um golpe de Estado e plano de assassinato de autoridades. Os alvos eram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e Moraes.
Foram presos de forma preventiva quatro militares do Exército com formação em Forças Especiais. Conhecidos como “kids pretos”, eles são treinados para operações sigilosas e que exigem alto desempenho.
Foram presos preventivamente os seguintes integrantes dos “kids pretos”:
- Mário Fernandes
General reformado, foi assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) e ministro interino da Secretaria-Geral da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro. Após deixar o governo, assumiu, entre 2023 e o início de 2024, um cargo na liderança do PL na Câmara dos Deputados, lotado como assessor de Pazuello, com um salário de R$ 15,6 mil.
Foi desligado da função em 4 de março deste ano, após o ministro Alexandre de Moraes determinar seu afastamento das funções públicas. Quando foi chamado a depor pela PF em 22 de fevereiro de 2024, Mário Fernandes, contudo, optou por ficar em silêncio, alegando não ter tido acesso ao inteiro teor dos conteúdos da investigação e, em especial, à delação do tenente-coronel Mauro Cid.
- Hélio Ferreira Lima
Ex-comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais em Manaus, foi destituído de sua posição em fevereiro de 2024, durante investigações sobre planos antidemocráticos. Quando convocado a depor à PF sobre sua suposta ligação com o golpe de Estado, optou por permanecer em silêncio. Com formação em Operações Especiais, integra o grupo de elite do Exército conhecido como “kids pretos”.
- Rafael Martins de Oliveira
Major das Forças Especiais, é acusado de negociar com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o financiamento de R$ 100 mil para levar manifestantes a Brasília, como parte de um suposto plano de golpe de Estado. Em mensagens de novembro de 2022, ele discutiu custos de logística com Cid, incluindo hospedagem e alimentação para grupos vindos do Rio de Janeiro.
Rafael foi preso pela PF em fevereiro de 2024 durante investigações sobre sua participação na organização de movimentos antidemocráticos. Ele havia sido solto e usava tornozeleira eletrônica.
- Rodrigo Bezerra de Azevedo
Considerado um militar altamente qualificado, é doutorando em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme) e tem especialização em operações de guerra não convencional. Formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 2003, serviu como instrutor no Western Hemisphere Institute for Security Cooperation, nos EUA.
O militar participou de missões no exterior, como na Costa do Marfim. Comandou a Companhia de Comando do Comando Militar da Amazônia e tem expertise acadêmica em terrorismo e relações internacionais. Ele também integra o grupo “kids pretos”.
O quinto alvo da operação é o policial federal Wladimir Matos Soares. “As investigações apontam que a organização criminosa se utilizou de elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022. Os investigados são, em sua maioria, militares com formação em Forças Especiais (FE)”, disse a PF.
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