Referências técnicas de serviços de atenção primária e de vigilância epidemiológica e de saúde de 12 municípios que integram as microrregiões de Montes Claros e Bocaiúva conheceram sexta-feira, dia 1º de março, detalhes do Projeto de Rastreamento da Doença de Chagas por meio da realização de exames de Eletrocardiograma (ECG). O Projeto é coordenado pelo Centro São Paulo–Minas Gerais para Tratamento da Doença de Chagas (SaMi-Trop) que realiza, desde 2013, pesquisas envolvendo doenças negligenciadas. O Centro é composto por cientistas colaboradores de quatro instituições de ensino: Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes); Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Universidade Federal de São João Del Rey e a Universidade de São Paulo (USP).
Com atividades previstas para serem iniciadas na segunda quinzena deste mês, no período de um ano pessoas residentes nos municípios de Bocaiúva, Claro dos Poções, Engenheiro Navarro, Francisco Dumont, Glaucilândia, Guaraciama, Itacambira, Joaquim Felício, Juramento, Mirabela, Montes Claros e Olhos D´Água que forem submetidas a exames de eletrocardiograma terão os laudos analisados por sistema de inteligência artificial. Quando forem identificadas alterações sugestivas para a doença de Chagas, um sistema de alerta informará esse resultado aos serviços de vigilância epidemiológica do município de residência do paciente.
Com o resultado do exame laboratorial, a secretaria municipal de saúde deverá proceder a busca ativa do paciente para a coleta de sorologia e encaminhamento de material para análise no laboratório da Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte. Para os casos de sorologia positiva para a doença de Chagas, o município deverá realizar o registro no Sistema de Agravos de Notificação (Sinan), mantido pelo Ministério da Saúde. Em seguida, caso seja recomendado, o município deverá ofertar ao paciente o tratamento antiparasitário, além de acompanhamento médico.
O Projeto começou a ser implementado em abril de 2023 na microrregião de Monte Azul e, no segundo semestre contemplou cinco municípios da microrregião de Coração de Jesus. Já em fevereiro deste ano a iniciativa foi adotada por seis municípios da microrregião de Francisco Sá.
Já no dia 1º de março a apresentação do Projeto foi realizada no auditório do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas da Unimontes. Os trabalhos foram conduzidos pelas professoras, Ariela Mota e Dardiane Santos, referências técnicas do Centro Ambulatorial de Especialidades Tancredo Neves (Caetan), administrado pelo Hospital Universitário Clemente de Faria. Com apoio da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros (SRS), o Caetan é responsável pela difusão do Projeto no Norte de Minas, repasse de orientações aos profissionais de saúde e atendimento especializado a pacientes.
João Alves Pereira, coordenador de Assistência à Saúde na SRS de Montes Claros explica que a previsão é de que na segunda quinzena deste mês o Projeto seja apresentado a gestores e referências técnicas de atenção primária e de vigilância em saúde das microrregiões de Salinas, Taiobeiras e Janaúba. Isso porque, ainda neste semestre o Projeto será estendido para todas as microrregiões da área de atuação da SRS, com prazo de duração de um ano.
“Trata-se de uma iniciativa muito importante para o Norte de Minas pois, assim como outros agravos negligenciados, a doença de Chagas está associada a situações de pobreza envolvendo pessoas que residem em imóveis em situações precárias. O Projeto constitui uma grande oportunidade para o Norte de Minas contribuir para o avanço do diagnóstico, acompanhamento e tratamento de pacientes, além de viabilizar a eficácia e a introdução de novas tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS)”, avalia João Alves.
A doença de Chagas é transmitida por diferentes vias, sendo a vetorial que envolve espécies de triatomíneos, insetos chamados popularmente de barbeiros. Estima-se que, no mundo, entre 6 e 8 milhões de pessoas têm a doença e mais de 75 milhões moram em áreas de risco de contágio. Menos de 10% dos casos são diagnosticados precocemente e menos de 1% dos pacientes são tratados e acabam evoluindo para formas crônicas da doença, com comprometimento cardíaco e digestivo.
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