DECEMBER 9, 2022

Deficiência não impede que pessoas tenham uma vida sexual saudável

Preconceito e visão limitada sobre o sexo costumam causar impactos na vida de pessoas com deficiência.

Foto: iStock

Embora a sexualidade seja parte fundamental da experiência humana, a possibilidade de exercê-la com dignidade não parece ser algo que atinja todas as pessoas. Não por acaso, as representações mais difundidas sobre o sexo não abarcam todos os tipos de corpos, tampouco todas as variadas formas e atitudes que envolvem o ato sexual. O tema, até hoje visto como tabu por muita gente, torna-se ainda mais delicado quando tratamos de pessoas com deficiência.

“A questão física ainda conta muito em relação à sexualidade, ao sexo e à atração. Quando se fala em pessoa com deficiência, há um envolvimento da questão física, e isso ainda é um tabu. Muitas vezes, não somos vistas como atraentes, porque não temos o corpo dentro do padrão, daquele estereótipo considerado bonito ou sexualmente atrativo”, explica a blogueira e servidora do STJ Fernanda Zago (@fernandazago).

Cadeirante há 20 anos, ela pontua ainda que normalmente os corpos de PcDs também não são desejados por pessoas que não têm deficiências. “No meu caso, que sou deficiente física, fiquei cadeirante, meu corpo mudou muito. Meus músculos não são rígidos, são flácidos. As pernas afinam – as minhas não afinaram tanto, mas a maioria das pessoas fica com elas bem fininhas. E isso também passa a ser um tabu, as pessoas acham feio, não sentem atração”, diz.

Além do próprio corpo fora do padrão, Fernanda afirma que existem questionamentos quanto à própria sexualidade, principalmente porque as pessoas costumam associar a deficiência a algo limitante à experiência sexual. A servidora conta que, diante desse cenário carregado de preconceito, já teve a sexualidade invalidada muitas vezes. “Ao meu marido, há pouco tempo, perguntaram: ‘Mas ela pode fazer relação? Ela sente prazer?’. Tem 20 anos que estou na cadeira de rodas, e ainda hoje as pessoas têm dúvidas se uma pessoa que tem deficiência – e dependendo da deficiência – pode fazer sexo ou não, se ela consegue, e até se surpreendem por alguém se casar com uma cadeirante. Isso me deixa bem indignada, mas infelizmente ainda existe”.

Segundo Fernanda, o melhor caminho para combater esse tipo de questionamento e o próprio preconceito é o diálogo. “Conversar, falar sobre pessoas com deficiência, sobre as possibilidades de cada uma; porque existem os surdos, os cegos, os mudos, o deficiente físico e o intelectual, cada um com sua especificidade pode ajudar a mudar o cenário. Quanto mais falarmos sobre isso e esclarecermos dúvidas sobre a deficiência, menos preconceito vai ter”.

Sexo é amplo

Mudar o olhar sobre as próprias formas de relação sexual também é um caminho válido, principalmente porque vivemos em um mundo que ainda idealiza o sexo de acordo com padrões reforçados pela indústria pornográfica, que vangloria o prazer masculino e a penetração acima de tudo.

“As pessoas imaginam somente uma forma de ter relação sexual e sentir prazer, mas fazer sexo é muito mais do que o ato em si. É algo que envolve todo o corpo, a mente, o amor, o carinho”, esclarece Fernanda, observando que essa visão limitada gera impactos não só para as pessoas com deficiência. “Esse tipo de crença contribui até para que mulheres sem deficiência não cheguem ao orgasmo, porque acreditam que existe apenas uma forma de acontecer isso”.

A percepção de Fernanda vai ao encontro do que Juliana Lana, fisioterapeuta e preceptora de fisioterapia da Faseh (Faculdade da Saúde e Ecologia Humana), aponta. “É preciso acabar com esse mito de que o sexo é só a penetração. A função sexual não é só essa. O sexo começa com um bom-dia, está na forma como um parceiro trata o outro, na carícia, no contato físico, no cheiro, na pegada. Tudo isso faz parte da ação sexual”, afirma.

Apesar de não representar a totalidade do sexo, toda a ideia do peso existente na penetração acaba causando impactos, principalmente quando as funções dos órgãos sexuais são comprometidas. Segundo a fisioterapeuta, essas são questões que costumam impactar de forma mais forte homens, e, nesse caso, tratamentos fisioterapêuticos podem ajudar. “Existem vários recursos de técnicas manuais e instrumentais que podem dar às pessoas a condição de conseguir a penetração, embora seja recomendado que as pessoas não se prendam somente a isso”, reitera.

Entre as opções disponíveis, existem instrumentos como a bomba peniana, um aparelho que é indicado para facilitar a irrigação sanguínea do pênis através da pressão do vácuo. “Ela funciona como uma ventosa, mas é própria para o órgão genital masculino”, explica a fisioterapeuta. Ela acrescenta ainda que podem ser utilizados tratamentos de vibração e eletroestimulação, além de técnicas manuais e próteses.

A especialista pondera que, antes de tudo, é sempre necessária uma avaliação, já que os procedimentos adequados podem variar dependendo do tipo de deficiência. “Mas é importante destacar sempre que ter uma deficiência não é um impeditivo para ter uma vida sexual satisfatória e saudável”.

No caso de mulheres com deficiência, ela cita que exercícios que estimulam a musculatura do assoalho pélvico e a massagem são opções, principalmente quando há incômodo durante a penetração. “É preciso aprender a relaxar para melhorar”, define.

Compartilhe: