Entre os dias 27 de novembro e 1º de dezembro os municípios de Espinosa e Porteirinha, que integram a área de atuação da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros – (SRS), estão sediando a realização de oficinas de trabalho e de mobilização de profissionais de saúde e lideranças comunitárias, para a construção da linha de cuidado em doença de Chagas. As atividades fazem parte de mais uma etapa do Projeto IntegraChagas Brasil, coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz – (Fiocruz) e Universidade Federal do Ceará, com apoio do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais – (SES-MG).
A referência técnica em doença de Chagas na SRS de Montes Claros, Nilce Almeida Lima Fagundes explica que “a linha de cuidado inclui atendimento nos serviços de atenção primária e especializados. Dai a importância do trabalho conjunto da Fiocruz, Ministério da Saúde, SES-MG e municípios. Estamos juntos na implementação do IntegraChagas como colaboradores e apoiadores da iniciativa, que traz um novo olhar para a doença”.
A partir de pesquisa estratégica financiada e demandada pelo Ministério da Saúde, o Projeto IntegraChagas tem o objetivo de ampliar o acesso da população à detecção e tratamento da doença de Chagas no âmbito dos serviços de Atenção Primária à Saúde – (APS), por meio da integração de ações com os serviços de vigilância em saúde. Através da qualificação da rede de atenção à saúde o objetivo do Ministério da Saúde é estabelecer um percurso assistencial padronizado, com foco em ações de promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação de pacientes acometidos pela doença.
Porteirinha e Espinosa foram incluídos entre os cinco municípios prioritários para a execução do IntegraChagas Brasil. As demais localidades participantes do Projeto são: Iguaracy (Pernambuco); São Luiz de Montes Belos (Goiás) e São Desidério (Bahia).
Estima-se que menos de 10% dos casos da doença são diagnosticados em tempo oportuno e que apenas 1% das pessoas recebem o tratamento adequado. Sem a garantia de acesso à saúde, após várias décadas de infecção aproximadamente 30% das pessoas desenvolvem problemas cardiológicos e 10% têm distúrbios digestivos, neurológicos ou mistos.
Para reverter essa situação a Fiocruz utilizará em caráter pioneiro o Kit NAT Chagas, teste diagnóstico molecular desenvolvido desde 2012 e aprovado no ano passado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
PROGRAMAÇÃO
Em Espinosa a oficina do IntegraChagas Brasil, realizada segunda e terça-feira, 27 e 28 de novembro, contou com a participação de integrantes do Grupo Gestor da Linha de Cuidado em Doença de Chagas e com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde. As atividades envolveram a participação das referências técnicas do Laboratório Macrorregional e da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SES-MG, Núbia Pereira da Silva e Nilce Almeida Lima Fagundes, respectivamente.
No auditório da Universidade Estadual de Montes Claros – (Unimontes), a coordenadora do Projeto em Espinosa, Geize Lauton e a professora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnologia em Saúde da Fiocruz, Maria Cristina Soares Guimarães, conduziram roda de conversa com lideranças comunitárias para identificar as melhores propostas, ideias, estratégias e iniciativas para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde – (SUS) e contribuições para o controle da doença de Chagas, prevenindo a sua ocorrência em gerações futuras.
Nesta terça-feira, 28, no auditório da Emater, foi concluída a oficina “Construindo a Linha de Cuidado para Doença de Chagas a partir da APS”. Os trabalhos conduzidos pela pesquisadora do Projeto IntegraChagas Brasil e representante do Ministério da Saúde, Swamy Lima Palmeira e pela professora da Universidade Federal da Bahia, Eliana Amorim de Souza, teve o objetivo de dialogar com as equipes de atenção primária à saúde a identificação de barreiras de acesso às ações de vigilância, diagnóstico, tratamento e cuidado integral às pessoas acometidas ou sob risco para a doença de Chagas.
Também foram levantadas as necessidades de educação permanente para a operacionalização da linha de cuidado, incluindo estratégias de comunicação, além da definição de indicadores de monitoramento e avaliação da linha de cuidado.
Em Porteirinha a oficina de trabalho e mobilização envolvendo o Grupo Gestor da Linha de Cuidado em Doença de Chagas será realizada a partir desta quarta-feira, 29, com término previsto para sexta-feira, 1º de dezembro.
AVANÇO TECNOLÓGICO
Atualmente a confirmação laboratorial da doença de Chagas é feita por exames parasitológicos, que buscam observar o parasito Trypanosoma cruzi em amostras de sangue. “Em comparação, o teste molecular é mais sensível, pois consegue identificar a infecção mesmo com o fragmento de um parasito na amostra, o que não é possível no exame parasitológico”, observa Constança Felícia Britto, coordenadora do Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do Instituto Oswaldo Cruz.
A identificação do Trypanosoma cruzi com o Kit NAT Chagas também é feita a partir de amostras de sangue. O procedimento demora entre quatro a cinco horas e pode ser executado em qualquer laboratório equipado para aplicar a metodologia PCR. Isso permite a descentralização do diagnóstico e agilidade na obtenção de resultados, além da padronização dos testes utilizados em diferentes centros.
Devido à alta sensibilidade e especificidade, o diagnóstico molecular pode trazer avanços para a identificação de casos agudos de doença de Chagas, especialmente em recém-nascidos, que podem contrair a infecção durante a gestação ou no parto, quando a mãe é portadora do Trypanosoma cruzi. A doença também pode ser diagnosticada durante surtos de infecção oral, que atualmente constituem a forma mais comum de transmissão devido à ingestão de alimentos contaminados.
“Esperamos que o Kit NAT Chagas possa aumentar o acesso ao diagnóstico e, consequentemente, ao tratamento das pessoas com doença de Chagas, que são negligenciadas e têm dificuldade de acesso à saúde”, pontua Constança Britto.
A DOENÇA
A coordenadora de vigilância em saúde da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes explica que, assim como outras doenças negligenciadas, Chagas está associada a condições de vida de vulnerabilidade. A doença é transmitida pelos insetos triatomíneos, popularmente chamados de barbeiros.
“Trata-se de uma das doenças tropicais negligenciadas mais silenciadas. Estima-se que, no mundo, entre 6 e 8 milhões de pessoas têm a doença e mais de 75 milhões moram em áreas de risco de contágio”, explica a coordenadora. Ela observa que, diante da grandeza dos números do cenário epidemiológico, a doença precisa de permanente atenção por parte do poder público.
Estimativa da Fiocruz aponta que aproximadamente 12 mil pessoas morrem anualmente por causa de Chagas em todo o mundo. Desse total, cerca de 8 mil óbitos têm como vítimas bebês que se infectaram durante a gravidez ou no parto.
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