Home / Bloco 1  / Minas Gerais destina 10 vezes menos do que pode para Lei de Incentivo ao Esporte

Minas Gerais destina 10 vezes menos do que pode para Lei de Incentivo ao Esporte

Apesar de o Conselho Nacional de Política Fazendária permitir até 0,5%, governo limita o teto de captação de recursos a 0,05% da receita líquida do ICMS.

Foto: Aluísio Eduardo/Imprensa MG

O governo Romeu Zema (Novo) reserva um volume dez vezes menor do que poderia para a captação de recursos por meio da Lei de Incentivo ao Esporte de Minas Gerais. Em 2023, o teto, que poderia ter ultrapassado R$ 260 milhões, foi de apenas R$ 26,1 milhões, esgotados já em julho. Desde então, resta a uma série de executores, que já têm o compromisso de empresas em apoiar os projetos esportivos, aguardar até 2024 para captar recursos.

De acordo com o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), os incentivos fiscais dados através da Lei de Incentivo ao Esporte devem ser limitados a até 0,5% da receita líquida de ICMS do estado no ano anterior. Entretanto, desde 2013, quando o projeto foi regulamentado pelo então governador Antonio Anastasia, o teto de Minas é de 0,05%, ou seja, dez vezes inferior à alíquota máxima estabelecido pelo Confaz – o Rio de Janeiro é o único autorizado a dar até 2% de incentivos via a lei.

O diretor da Associação Natividade, Rafael Diniz, que capta recursos da Lei de Incentivo de Esporte desde o primeiro edital lançado, afirma que, para um estado de 853 municípios, R$ 26 milhões são nada. “O Estado de São Paulo, por exemplo, usa 0,2% do ICMS, o que, neste ano, correspondeu a R$ 60 milhões. São Paulo tem menos municípios (645) do que Minas. Além de ter mais recursos, eles estão sendo distribuídos de uma forma em que há mais chances de chegar a mais municípios”, questiona Diniz.

Lançado em dezembro de 2022, o último edital da Lei de Incentivo ao Esporte determinou que o máximo a ser captado por cada projeto seria de R$ 385 mil, o que, segundo a presidente da Federação Mineira de Xadrez, Luciane Sepúlveda, limita a penetração dos projetos. “O teto fica bastante baixo para a gente executar em todos os municípios que a gente pleiteia. No meu caso, eu tenho dois projetos (direcionados a crianças de baixa renda) de R$ 300 mil com a mesma empresa. É o mesmo projeto, mas dividido em dois (por causa do teto), o que atrapalha a execução”, diz.

Sob reserva, um empresário, que é responsável por elaborar os projetos de captação para associações sem fins lucrativos, aponta que, embora o teto de 0,05% esteja em vigor há dez anos, os problemas começaram no ano passado, quando o limite foi alcançado em outubro. “Admissível, tudo bem, era só esperarmos dois meses para abrir o teto novamente. Mas neste ano foi em julho”, critica ele. “Antes (de 2022), havia muito menos projetos propostos e as empresas desconheciam a Lei de Incentivo. Então, sobrava dinheiro.”

O esgotamento dos R$ 26 milhões já em julho tem levado associações, que têm projetos financiados por editais anteriores ainda em andamento, a se adiantar para evitar problemas. “Se a empresa espera o término do projeto (em andamento) para assinar o termo de compromisso para o ano que vem, (a Lei de Incentivo) já vai ter atingido o teto, porque vários termos de compromisso já vão ter sido assinados (entre outras empresas e associações)”, apontou outro executor a O TEMPO, que pediu para ser mantido em anonimato.

A tendência, como ele mesmo acrescenta, é que, em razão do baixo teto da Lei de Incentivo ao Esporte, os recursos se esgotem cada vez mais rápido ano a ano. “O que vai acontecer no ano que vem? Os que estão saindo na frente já vão ter um termo de compromisso assinado e aqueles menores, os que estão chegando agora, não vão conseguir nunca assinar um termo de compromisso, porque já vai estar tudo esgotado”, projeta o executor.

O que é termo de compromisso? É o documento em que a empresa formaliza o acordo para apoiar determinado projeto. Nele, está o cronograma de repasses de recursos e a autorização da Subsecretaria de Receita Estadual para deduzir o valor no ICMS que ela deve.

Lei de Incentivo à Cultura é seis vezes maior

O teto vinculado à alíquota de 0,05% de arrecadação do ICMS provocou uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na última terça (19/9). Inclusive, o deputado Cristiano Silveira (PT) planeja apresentar uma proposta para elevar progressivamente a alíquota de 0,05% para 0,5%. “Queremos discutir uma alíquota progressiva para equiparar aos outros estados do Sudeste e também à Lei de Incentivo à Cultura”, afirmou Silveira, que convocou a audiência.

Em termos de comparação, a Lei de Incentivo à Cultura destinou ao setor para captação neste ano cerca de R$ 156 milhões, valor seis vezes superior aos R$ 26 milhões de incentivo fiscal reservado ao esporte. O Sistema de Financiamento de Cultura de Minas fixa um teto de incentivo fiscal de 0,3% da arrecadação líquida do ICMS no exercício anterior – o limite pode chegar a 0,4% a partir de determinadas condicionantes orçamentárias.

Apesar de manter a alíquota da Lei de Incentivo ao Esporte em 0,05%, o governo Zema, recentemente, manteve a desoneração fiscal das locadoras de automóveis em Minas Gerais, que, ao contrário dos demais contribuintes, que pagam um IPVA de 4%, têm um regime especial de tributação de 1%. Apenas em 2022, por exemplo, conforme dados da própria Secretaria de Fazenda, o benefício rendeu perdas de R$ 1,3 bilhão aos cofres do Estado, o que, como defende o Palácio Tiradentes, seria compensado pela manutenção de empregos.

Em nota, o governo Zema observa que o teto de 0,05% da Lei de Incentivo ao Esporte está em vigor desde 2013 e é definido “levando em consideração a situação fiscal do estado e as vedações impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)”. “O governo de Minas, sensível ao tema, segue estudando alternativas para aprimorar o mecanismo”, pontua o Palácio Tiradentes.

Jimi será retomado com apenas uma modalidade

Os questionamentos se estendem para além do teto da Lei de Incentivo ao Esporte e chegam aos Jogos de Interior de Minas (Jimi), que, depois de um hiato de cinco anos, será retomado neste ano apenas com o futsal. “Há uma contestação das (demais) federações esportivas, exceto a de futsal, que foi a única modalidade que o governo preservou, e, curiosamente, a única modalidade que não está no escopo de esportes olímpicos”, critica Silveira.

O governo, por sua vez, defende que o Jimi foi retomado em 2021, “durante a pandemia, com sua versão virtual”. “Com 190 municípios e 2.500 participantes, a competição foi um sucesso nas modalidades basquete, futebol, futsal, handebol e vôlei. Em 2022, o projeto teve a sua continuidade por meio do Jimi Paradesporto. Realizada em Juiz de Fora, a competição contou com a presença de 21 municípios e 240 paratletas das modalidades de atletismo e natação PCD”, argumenta.

Ainda de acordo com o Palácio Tiradentes, a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedese) optou por utilizar o futsal como critério porque, “nas últimas edições da competição, a modalidade teve o maior número de atletas e municípios participantes”. “A Sedese avalia constantemente o formato do Jimi, visando desenvolver edições diversas e congruentes com a realidade dos jovens”, conclui. De acordo com o Portal da Transparência, o orçamento destinado para o Jimi neste ano é de R$ 361 mil.

revistatempo@tempo.com.br

Review overview