DECEMBER 9, 2022

Chagas: Norte de Minas une esforços para diagnosticar e conter o avanço da doença

Essa sexta-feira, 14, é Dia Mundial da Doença de Chagas.

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Foto: Divulgação

Com três ações já colocadas em andamento, o Norte de Minas está centrando esforços no controle da doença de Chagas, com a implementação de uma série de atividades de capacitação de profissionais de saúde e desenvolvimento de projetos de rastreamento do agravo. Nesta sexta-feira, 14, Dia Mundial da Doença de Chagas, as referências técnicas das coordenadorias de vigilância epidemiológica e de saúde da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros – (SRS), Nilce Almeida Lima Fagundes e Bartolomeu Teixeira Lopes, destacam a importância da mobilização dos municípios e da população com relação ao diagnóstico precoce da doença, visto ainda constituir um agravo de importância na saúde pública.

“Por ser uma doença silenciosa, não apenas por seu curso clínico lento e, muitas vezes, assintomático, é importante que as pessoas que residem em locais onde o “barbeiro”, principal vetor da doença é encontrado em forma de colônias, mantenham as ações de prevenção, evitando a infestação de residências e outros domicílios. A doença é passível de cura, porém se for diagnosticada precocemente”, alertam as referências técnicas.

Eles lembram que “o Dia Mundial da Doença de Chagas foi instituído com o objetivo de alertar a população para a importância da conscientização sobre o enfrentamento à doença que é endêmica na América Latina e, por estar presente em vários outros países, constitui um problema de saúde global”.

Levantamento realizado pela Superintendência Regional de Saúde aponta que entre 2021 e o primeiro trimestre deste ano foram notificados 1 mil 362 casos de doenças de Chagas em 54 municípios que compõem a sua área de atuação. Em 2021, foram 509 casos notificados. No ano passado os casos registrados aumentaram para 781. Já nos primeiros três meses deste ano foram notificados 72 casos positivos para a doença.

Todos os 54 municípios têm pelo menos um caso notificado de Chagas nos últimos anos, mas os que apresentam maior quantidade são: Montes Claros (365); Espinosa (244); Mato Verde (105); Monte Azul (101); Catuti (89); Francisco Sá (42); Nova Porteirinha (40); Fruta de Leite (37); Janaúba (31) e Porteirinha (30).

DIAGNÓSTICO

No caso específico do Norte de Minas, a coordenadora de vigilância em saúde da SRS de Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes destaca a implementação de dois projetos com foco no diagnóstico precoce da doença de Chagas. Um deles é o Projeto Cuida Chagas – Comunidades Unidas para a Inovação, Desenvolvimento e Atenção para a doença de Chagas. Trata-se de uma iniciativa internacional que contempla em caráter pioneiro no Norte de Minas os municípios de Janaúba e Montes Claros. O objetivo é testar, tratar e cuidar de pessoas diagnosticadas com a doença na América Latina.

O projeto é implementado pelo Instituto Nacional de Infectologia – (INI), integrante da Fundação Oswaldo Cruz – (Fiocruz). Até 2025 o Instituto pretende consolidar modelos de implementação para a doença de Chagas, incluindo a utilização de testes rápidos eficazes para o diagnóstico e formas de tratamento de pacientes.

Por meio da SRS de Montes Claros a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais – (SES-MG) também está envolvida na implementação do Projeto, que conta com a participação da Fundação para o Desenvolvimento Científico Tecnológico Saúde – (Fiotec) que atua em parceria com instituições de saúde sediadas na Bolívia, Colômbia e Paraguai. A iniciativa envolve ainda a Aliança Global para Diagnósticos – (FIND), com financiamento da Unitaid, agência global ligada à Organização Mundial da Saúde – (OMS) e cofinanciado pelo Ministério da Saúde.

Já os municípios de Espinosa e Porteirinha, também integrantes da área de atuação da SRS, receberam em fevereiro deste ano equipes técnicas da SES-MG, do Ministério da Saúde e da Fiocruz, visando a implementação do Projeto Integra Chagas Brasil. As duas localidades estão entre os cinco municípios prioritários para a execução do projeto estratégico, que tem o objetivo de ampliar o acesso da população à detecção e tratamento da doença de Chagas crônica nos serviços de atenção primária à saúde.

Em caráter pioneiro, a Fiocruz utilizará o Kit NAT Chagas, teste diagnóstico molecular desenvolvido desde 2012 e aprovado no ano passado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – (Anvisa).

O Integra Chagas é coordenado pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas em parceria com a Universidade Federal do Ceará. Além de Espinosa e Porteirinha, a iniciativa contemplará os municípios de São Desidério, sediado na Bahia; Iguaracy, em Pernambuco; e São Luiz de Montes Belos, em Goiás.

Ainda no Norte de Minas, o município de Monte Azul é uma das 106 localidades selecionadas no Estado para a implementação de um projeto piloto de rastreamento da doença de Chagas por meio da realização de exame de Eletrocardiograma – (ECG). O projeto, iniciado em março deste ano, tem à frente pesquisadores do Centro São Paulo-Minas Gerais para Tratamento da Doença de Chagas – (SaMI-Trop) e objetiva validar uma ferramenta de inteligência artificial capaz de permitir o rastreamento da doença de Chagas crônica, através da identificação de alterações sugestivas no eletrocardiograma.

A referência técnica da Coordenadoria de Atenção à Saúde da SRS e uma das pesquisadoras do SaMI-Trop, Renata Fiúza Damasceno explica que, num prazo de dois anos, a previsão é de que o projeto envolva 2,5 mil pessoas residentes em municípios do Norte de Minas e da região de Divinópolis.

“Todos os pacientes que realizarem exame de eletrocardiograma terão os laudos analisados por sistema de inteligência artificial. Quando forem identificadas alterações sugestivas para a doença de Chagas um sistema de alerta informará esse resultado aos serviços de vigilância epidemiológica dos municípios de residência dos pacientes. A partir daí o município deverá proceder a busca ativa do paciente para a coleta de sorologia e encaminhamento de material para análise no laboratório da Fundação Ezequiel Dias – (Funed), em Belo Horizonte. Se confirmado o resultado positivo para Chagas, o município deverá realizar a notificação no Sistema de Agravos de Notificação – (Sinan) e ofertar ao paciente o tratamento antiparasitário, além de acompanhamento médico”, explica a referência técnica.

A coordenadora de vigilância em saúde da SRS, Agna Soares da Silva Menezes avalia que “todos os projetos, por envolver instituições de reconhecida atuação na área de infectologia e pesquisadores que têm se dedicado ao estudo da doença de Chagas, tem condições de proporcionar grandes avanços no diagnóstico precoce e tratamento de pessoas acometidas por esse agravo de importância para a saúde pública. Quanto mais precoce o diagnóstico, melhores condições os serviços de saúde terão para assistir os pacientes, garantindo-lhes qualidade de vida e tratamento adequado”.

MOBILIZAÇÃO

A partir desta sexta-feira, 14, vários municípios do Norte de Minas vão realizar ações de mobilização da população com foco na prevenção contra a doença de Chagas. Em Verdelândia, a fisioterapeuta e referência técnica do projeto SaMI-Trop, Bruna Mariel Matos Pereira explica que profissionais de saúde vão ministrar palestras sobre a doença em escolas da zona rural, incluindo as espécies de barbeiros transmissores do agravo.

“Aproveitaremos a oportunidade para fazermos uma amostra de serviços de saúde aos quais a população pode ter acesso para a prevenção de várias doenças, entre elas Chagas, visto que estamos localizados numa região endêmica”, explica a referência técnica.

Dia 28 de março, na praça Dr. Carlos, no centro de Montes Claros, a Secretaria Municipal de Saúde realizará o “DIA D” contra a doença de Chagas. Profissionais de saúde farão coleta de amostras da população para análise no laboratório da Funed, entre outras ações de educação em saúde.    

A DOENÇA

Assim como outros agravos negligenciados, a doença de Chagas está associada à pobreza. A doença é transmitida por diferentes vias, sendo a vetorial que envolve espécies de triatomíneos, insetos chamados popularmente de barbeiros. Estima-se que, no mundo, entre 6 e 8 milhões de pessoas têm a doença e mais de 75 milhões moram em áreas de risco de contágio.

A Fundação Oswaldo Cruz – (Fiocruz) aponta que “são inúmeras as barreiras existentes para o acesso da população a diagnósticos e tratamento da doença de Chagas, a maior delas, a educação. Apenas 1% ou menos, daqueles que poderiam se beneficiar obtendo a cura da doença ou a prevenção para formas sintomáticas crônicas, tem real acesso ao tratamento. Em geral, os diagnósticos ocorrem na fase tardia, quando já há comprometimento crônico e complicações, com grave prejuízo às pessoas, suas famílias e comunidades, além de elevado custo ao sistema de saúde”.

Em virtude dessa situação epidemiológica a Portaria 1.061, publicada dia 18 de maio de 2020 pelo Ministério da Saúde, determina que os serviços de saúde além de oferecer diagnóstico e tratamento também deverão fazer a notificação compulsória da doença de Chagas. Em Minas Gerais a doença de Chagas passou a ser de notificação compulsória desde dezembro de 2018. Com isso, será possível criar um banco de dados e ter indicadores que permitam fazer análises epidemiológicas mais precisas para fortalecer a política de controle da doença no país.

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