DECEMBER 9, 2022

Febre Amarela: Pesquisa do Norte de Minas é destaque nos Estados Unidos e reforça a importância da vacinação

O estudo desenvolvido em Ubaí e Icaraí de Minas aconteceu no segundo semestre de 2021 após terem sido notificadas a ocorrência de epizootias.

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Foto: Divulgação

A febre amarela, assim como a dengue, zika e a chikungunya, é uma doença transmitida por mosquitos. Os casos geralmente aparecem no período chuvoso, quando há mais mosquitos transmissores no meio ambiente. Porém, uma situação atípica foi detectada no Norte de Minas: foram encontrados macacos mortos, vítimas da febre amarela, no auge da estação seca.
A pergunta que pesquisadores fizeram foi: quais seriam os mosquitos transmissores nessa região e nessa época do ano? Após intensa investigação eles chegaram à resposta. São duas espécies de mosquitos: o Sabethes chloropterus e o Sabethes albiprivus.
Isso acontece porque essas duas espécies possuem adaptações para o período seco. Eles permanecem transmitindo o vírus até que “as condições climáticas favoreçam outras espécies vetoras conhecidas, o que evidencia a complexidade da dinâmica da circulação viral e a disseminação em tais circunstancias”.
Essas foram algumas das conclusões de estudo inédito implementado em 2021 por pesquisadores do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais – (IFNMG) nos municípios Ubaí e Icaraí de Minas, que integram a área de atuação da Gerência Regional de Saúde de Januária.
Artigo intitulado “Yellow Fever Virus Maintained by Sabethes Mosquitoes during the Dry Season in Cerrado, a Semiarid Region of Brazil, in 2021”, foi publicado na segunda quinzena deste mês na revista internacional de virologia Viruses, editada nos Estados Unidos. Traduzido para o português o título diz que “Vírus da febre amarela é mantido por mosquitos Sabethes durante a estação seca do Cerrado, região semiárida do Brasil, em 2021”.
O artigo tem como autores os pesquisadores Cirilo Henrique de Oliveira e o professor Filipe Vieira Santos de Abreu, atuantes no IFNMG. O primeiro pesquisador participa do projeto “Uso de ferramentas genéticas, matemáticas e tecnológicas para avaliar o risco de transmissão e fortalecer a vigilância do vírus da febre amarela nas cinco regiões brasileiras”. Já o professor Filipe Abreu conduz vários projetos voltados para a coleta de vetores e macacos, para investigação da circulação do vírus da febre amarela.
Entre outras instituições colaboradoras para a implementação do estudo e que foram citadas no artigo publicado pela Viruses estão a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais – (SES-MG), a Fundação Ezequiel Dias – (Funed); a Fundação Oswaldo Cruz – (Fiocruz) e o Ministério da Saúde. A coordenadora de vigilância em saúde da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros – (SRS), Agna Soares da Silva Menezes e Bartolomeu Teixeira Lopes, referência técnica de entomologia, também estão entre os profissionais relacionados no artigo por darem suporte às investigações sobre as epizootias de primatas encontrados no Norte de Minas, acometidos por febre amarela.
O estudo desenvolvido em Ubaí e Icaraí de Minas aconteceu no segundo semestre de 2021 após terem sido notificadas a ocorrência de epizootias. Filipe Abreu relata que o grupo de pesquisadores conseguiu identificar em tempo recorde um surto de febre amarela.
“Os resultados dos testes feitos no Laboratório de Biologia Molecular do IFNMG – Campus Salinas apontou três grupos positivos para o vírus da febre amarela, sendo dois de Sabethes chloropterus e um de Sabethes albiprivus”. O trabalho dos pesquisadores ganha ainda mais destaque pelo fato de que foi a primeira vez que o Sabethes albiprivus foi encontrado infectado no Brasil.
O Instituto Federal do Norte de Minas Gerais pontua que, “para os pesquisadores, resultados relatados no artigo contribuem para a compreensão da epidemiologia e dos mecanismos de dispersão e manutenção da febre amarela, especialmente em condições adversas”.
Nesse contexto, “a intensa circulação viral, mesmo fora do período sazonal, aumenta a importância da vigilância e da vacinação contra a febre amarela para proteger as populações humanas nas áreas afetadas”, alertam os pesquisadores.
Ainda de acordo com o estudo, mesmo em períodos críticos de seca e de altas temperaturas na região do semiárido, “a alta longevidade dos Sabethes aumenta as chances de uma fêmea se infectar, amplificar o vírus e transmiti-los a diferentes hospedeiros”.
Outra conclusão dos pesquisadores é que “o Sabethes chloropterus foi previamente descrito como resistente à seca em florestas tropicais, no sentido de que sua densidade populacional pode manter certa estabilidade mesmo em circunstâncias desfavoráveis para a grande maioria dos mosquitos”.
Para sobreviver e se proliferar em condições climáticas adversas, o chloropterus deposita seus ovos em uma grande cavidade interna de árvores e uma abertura lateral muito pequena. Essa situação reduz a evaporação e retêm a água por mais tempo do que as cavidades com aberturas largas, normalmente usadas pelos mosquitos Haemagogus, relata o estudo do IFNMG.
VACINAÇÃO
Diante dos resultados da pesquisa e tomando como base a experiência da realização de ações de vigilância em saúde e trabalhos entomológicos de campo, como a coleta de vetores para a investigação laboratorial, investigação de epizootias e de casos humanos suspeitos de febre amarela, Agna Menezes e Bartolomeu Lopes também reforçam a necessidade dos municípios investirem na intensificação da vacinação e no aumento da cobertura vacinal da população.
“Atualmente não faz mais sentido uma pessoa morrer por causa de febre amarela, visto ser uma doença imunoprevenível e para a qual o Sistema Único de Saúde – (SUS) disponibiliza, durante todo ano, vacina para toda a população”, avaliam as referências técnicas.
Pelo fato de que a circulação do vírus da febre amarela está sendo sustentada e disseminada no semiárido norte-mineiro por mosquitos do gênero Sabethes, mais resistentes à seca e a altas temperaturas, “isso significa que uma pessoa não vacinada, ao adentrar numa mata ou que reside na zona rural, está sujeita a contrair a doença em qualquer época do ano, mesmo fora do período sazonal das chuvas. Daí a importância da conscientização e mobilização da população quanto à necessidade de vacinação contra a doença”, reforça Agna Menezes e Bartolomeu Lopes.

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