DECEMBER 9, 2022


Um sertão transformado pela democratização do ensino superior

Primeira reportagem da série “A educação superior no Norte de Minas”

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O norte de Minas Gerais inicia um novo ciclo de desenvolvimento quando, na década de 1990, ocorre a ampliação do acesso à educação superior. As faculdades particulares foram as principais responsáveis por esse avanço e pela transformação de muitas famílias norte-mineiras, que puderam passar a sonhar com a conquista do diploma de graduação. Numa série que reúne três reportagens, você poderá percorrer essa realidade e conhecer histórias inspiradoras de quem encontrou na educação uma oportunidade para escrever novos capítulos da vida

Apenas 17,9% de jovens, entre 18 e 24 anos, estão matriculados no ensino superior no Brasil. As vagas das universidades públicas não conseguem contemplar todos que almejam a conquista do diploma de ensino superior. Nesse cenário, as faculdades particulares têm um papel determinando no processo de democratização do ensino/ Foto: Thiago Santos

Por Keisi Pinheiro

O estudante de Jornalismo Dihemeson Faria e a dentista Thaís Souza compartilham histórias semelhantes. Os dois deixaram o município de Itacambira, no norte de Minas Gerais, para conquistar o tão sonhado diploma de ensino superior. O diploma e a cidade não são os únicos pontos em comum nessa história. Dihemeson e Thaís recorreram a uma faculdade particular para terem acesso ao ensino superior.

Desde muito novo, o acadêmico de Jornalismo sabia que o máximo que poderia alcançar em sua terra natal seria concluir o ensino médio. Com muitos sonhos na mala, o estudante saiu do interior com apenas 17 anos de idade. “Foi muito difícil. Mas era o único modo de conseguir ter um futuro melhor”, relata o estudante. A dentista também se mudou sozinha, em 2012, para cursar odontologia em Montes Claros. “Passei por diversas dificuldades de adaptação, mas consegui concluir a graduação”, conta a profissional.

Dihemeson e Thaís representam números importantes na história do ensino superior no Brasil. Isso porque se não fossem as faculdades particulares o déficit em relação ao acesso ao ensino superior no Brasil seria ainda maior. Só pra se ter uma ideia os números relativos ao último Censo de Educação Superior, realizado em 2019, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), demonstram que a cada quatro estudantes de graduação no Brasil, três frequentam entidades privadas. Existem 2.608 instituições de ensino superior (IES) no país e, das 8.604.526 matrículas realizadas, 6.524.108 estão na rede privada, ou seja, a maior parte destas.

O estudante Dihemeson, natural de Itacambira, está no 7º período do curso de Jornalismo em uma faculdade particular

A dentista Thaís deixou o município de Itacambira para conseguir cursar o ensino superior e realizar seu sonho de ter um diploma de graduação

Democratização do ensino superior em progresso

Toda essa quantidade de matrículas, embora pareça elevada, diz respeito a apenas 17,9% de jovens, entre 18 e 24 anos, matriculados no ensino superior no Brasil conforme detalha o Mapa do Ensino Superior no Brasil 2020, elaborado pelo Instituto Semesp. Esses números já foram piores entre os anos de 1970 e 1980, quando, de acordo com o INEP, aproximadamente 67% do sistema de educação superior brasileiro era público e apenas 33% privado. Na década de 1980, o percentual de instituições privadas passou a ser de 77%, apresentando um expressivo aumento nas instituições particulares.

Essa reconfiguração acontece em razão de o sistema público de ensino não ter a capacidade de atender toda a demanda de acesso à educação superior. Nesse sentido, de acordo com o INEP, dentre o total das 16.425.302 vagas ofertadas no ano de 2019 no Brasil, 15.587.493 foram somente da rede privada de ensino.

Outros dados do Instituto mostram que em Minas Gerais, segundo maior estado brasileiro em número de instituições de ensino superior (306), há dois alunos na rede privada para cada um aluno na rede pública. São 20 faculdades públicas (17 federais e 03 estaduais) e 286 privadas. De acordo com o economista Aroldo Rodrigues, a importância das IES particulares está além da democratização do ensino superior. Para ele, as IES constituem um polo fundamental para ampliar e fortalecer as comunidades. “Além de gerar mão de obra qualificada para os negócios, é desenvolvido um ecossistema na região de conhecimento e inovação”, afirma Rodrigues.

É consenso que o ensino superior, por caracterizar um nível mais ressaltado de educação, tem papel essencial na promoção do desenvolvimento regional, acrescenta o economista: “O mercado imobiliário local se torna valorizado, empreendedores constroem apartamentos para os estudantes, logo os terrenos e imóveis aumentam a valorização. Isso tudo, dentre uma série de outros fatores que melhoram a qualidade de vida e promovem o progresso da comunidade”.

De Arraial das Formigas a polo universitário

A maior cidade do norte de Minas Gerais se consolidou como polo universitário. Mais de 18 mil acadêmicos estudam nas instituições privadas de ensino superior em Montes Claros. A cidade conta com cerca de 2 mil empregos diretos gerados pelo setor da educação superior particular/ Foto: Solon Queiroz

Em 1707, Montes Claros, no norte de Minas Gerais, era apenas um povoado, mas com destaque na região por conta da pecuária. A intensa atividade no comércio de gado fez o povoado crescer e torna-se Arraial das Formigas.
Três séculos depois, Montes Claros passa a ser destaque não só na região, mas em todo o estado de Minas Gerais – quiçá no Brasil – por conta das Instituições de Ensino Superior, públicas e privadas.


O ensino superior particular de educação do Norte de Minas Gerais atende cerca de 26.503 alunos, conforme o último censo divulgado pelo INEP, e somente o município de Montes Claros acolhe 18.266 desses acadêmicos graduandos em instituições particulares, o que corresponde a, aproximadamente, 70% dos estudantes.
De acordo com o Sindicato das Escolas Particulares do Norte de Minas Gerais (Sinepe), a rede particular de ensino superior, ampliada em Montes Claros a partir de 1998, elevou a cidade à categoria de polo universitário, contando, atualmente, com 12 instituições privadas de ensino superior que ofertam dezenas de cursos presenciais e mais outros 20 estabelecimentos de ensino com cursos a distância.


Ainda conforme o Sindicato, somente em Montes Claros o setor da educação superior particular gera cerca de 2.000 empregos diretos. “Isso fomenta uma cadeia econômica com profissionais qualificados e salários acima da média de outros segmentos, estimulando o comércio e serviços locais, com repercussão no setor imobiliário e, embora prejudicado pelo pandemia, estimulando atividades de alimentação pronta e lazer”, afirma o presidente do Sinepe, Élio Soares.

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