Representantes do setor de eventos se reuniram nesta quarta-feira (19), para discutirem o cenário do mercado de eventos diante do aumento do número de casos de Covid-19 e o risco de paralisação das atividades.
Durante o debate, foram pontuadas ações para que cada segmento da área se mobilize e incentive a vacinação das pessoas. O representante da Associação Mineira de Eventos e Entretenimento de Minas Gerais (AMME)-Norte, Luiz Fernando Nobre, acredita que diferente do início da pandemia que o setor protagonizou uma série de conflitos com a prefeitura, devido aos decretos de restrição, desta vez, a área de eventos vai se antecipar e lançar uma campanha de incentivo a vacinação como forma de tentar evitar que os estabelecimentos sejam fechados novamente por conta da pandemia, ou que sofram restrição no horário de funcionamento. Segundo ele, cerca de 10 mil profissionais do setor seriam prejudicados, em Montes Claros.
“O passaporte de vacinação é um decreto do município, algo que é legalizado pela justiça, ou seja, é uma realidade. Então, o nosso setor e todos os outros tem que respeitar e cumprir, exigir do público o documento. Apoiamos essa decisão do município de cobrar esse passaporte na prática, pois realmente salvam vidas e diminuiu o número de casos e mortes. A Campanha vem com o intuito de ajudar o município a incentivar as pessoas a se vacinarem para ter acesso ao entretenimento, para ter acesso aos eventos como formaturas e casamentos. Então, nossa intenção é incentivar que o setor cobre da população o passaporte. Pois elas terão que estar vacinadas para participar. Essa cobrança não será só do público, mas também de quem está trabalhando na organização desses eventos. Além disso, iremos criar uma comissão de fiscalização para orientar e notificar os empresários do setor quando for necessário. O caminho é esse: todos precisam se vacinar”, disse Luiz.
O risco de que os estabelecimentos e atividades econômicas voltem a ter restrições é eminente. Cidades do Norte de Minas como Janaúba e Coração de Jesus já suspenderam, ou restringiram o horário de funcionamento de eventos em função da pandemia e do aumento dos casos de síndrome gripal.
Para tentar evitar que o mesmo aconteça em Montes Claros, a classe resolveu se mobilizar. É o caso da cerimonialista Poliana Flávio, que realiza em torno de 10 a 12 eventos mensais. Com receio de que o setor de eventos seja atingido por uma possível restrição, ela conta que já está tomando medidas para que o passaporte seja apresentado por todos os convidados.
“O contato com os convidados é feito antes, através da confirmação de presença ativa. A gente já orienta que vai ser indispensável a apresentação do passaporte de vacinação, juntamente com o documento de identificação. Geralmente, o convidado manda previamente esses documentos. E na portaria eu tenho essa lista com as pessoas que já me apresentaram. Quem não manda com antecedência, apresenta na portaria. Em caso de alguma fiscalização, eu tenho ali arquivado o cartão e o documento de identificação”, conta Poliana.
A preocupação em relação ao funcionamento das atividades é compartilhada pelo celebrante Carlos Henrique Silva, que realiza cerca de 60 casamentos por ano.
“A ideia dessa reunião é no sentido de o setor de eventos cobrar esse passaporte do público e também dos próprios profissionais da área. Pois, quanto mais pessoas vacinadas, mais os casos continuam diminuindo e menos pessoas terão o agravamento da doença. Precisamos de uma uniformidade, que esse comprovante seja cobrado internamente, nos bastidores, fornecedores e de todos os convidados”, comentou Carlos.
Isaque Emanuel é saxofonista e já tem na mente como fará para que mais pessoas se conscientizem na empresa que ele comanda.
“Tudo parte da conscientização das pessoas. Eu tenho um grupo com mais de 100 noivas. Eu vou repassar para elas essa orientação para que elas possam repassar para seus convidados. Também vou trabalhar com essa campanha dentro da minha própria agência, que hoje temos mais de 20 músicos. Além disso, também vou utilizar o Instagram para fazer essa divulgação da campanha. Para que as pessoas possam entender que não é simplesmente só sobre mim, é sobre nós! Sobre o próximo. A questão da empatia, de se colocar no lugar do outro. Não é sobre concordar ou não com o passaporte, é pensar no bem-estar e na segurança de todos os envolvidos. Para que possamos dar continuidade aos nossos trabalhos”.
Para finalizar, a promotora de eventos e advogada Thamires Pimenta, que trabalha há cinco anos no ramo de entretenimento, ressaltou a necessidade de todos acatarem a decisão municipal para o bem comum.
“Hoje trabalhamos diretamente com o público jovem. A constituição respalda que ninguém pode ser obrigado a se vacinar. Mas, apesar disso, os estabelecimentos e bares são obrigados por decreto a cobrarem o passaporte devido a aglomeração de pessoas. Sabemos que a pessoa pode ser contaminado, mas a vacinação diminui o risco de evoluir para casos mais graves, encher os hospitais e causar mortes. Então, se cada um fazer a sua parte, vamos fazer com que tudo volte ao normal”, disse esperançosa.
Aumento de ocupação dos leitos
Em Montes Claros, o último Boletim Epidemiológico divulgado nesta quinta (20) indica 404 novos casos confirmados de Covid-19. A taxa de ocupação nos leitos clínicos está acima da capacidade: 132%. Além disso, os leitos clínicos Covid também estão operando quase no limite: 90%. Por outro lado, o número de mortes não aumentou. Felizmente, há uma semana não é registrado nenhum óbito por Covid-19.
No comparativo a seguir, é possível considerar que embora a taxa de ocupação dos leitos esteja acima do limite, a quantidade de leitos disponíveis neste ano para a população de Montes Claros é menor que a do ano passado.
Veja o comparativo de leitos entre 2021 e 2022:
2021
● Leitos clínicos Não COVID:218
● Leitos clínicos COVID: 122
● Leitos UTI Não COVID: 75
● Leitos UTI COVID: 109
2022 (Atual)
● Leitos clínicos Não COVID:216
● Leitos clínicos COVID: 40
● Leitos UTI Não COVID: 75
● Leitos UTI COVID: 35
É possível verificar que em 2021 eram 122 leitos clínicos Covid, enquanto atualmente são 40 leitos, ou seja, uma redução de 82 leitos Covid (67%). Da mesma forma, os leitos UTI Covid diminuíram de 109 em 2021, para 35 em 2022, uma redução de 68%.
No Hospital Universitário Clemente de Farias (HUCF), a situação dos atendimentos por Covid-19 está controlada, segundo dados apresentados pelo diretor de enfermagem do HUCF, Tadeu Nunes Ferreira. Ele o hospital está com 50% da capacidade de clínicos Covid e 60% de UTIs Covid. A ocupação geral do hospital está entre 87 a 90%. No entanto, em alguns setores a situação é mais crítica, como o caso da pediatria, clínica médica e cirúrgica, além de maternidade e bloco obstétrico, todos acima de 90%.
“O problema atual são as outras demandas de infecção respiratória por Influenza, o atendimento pediátrico e os pacientes clínicos e cirúrgicos. Esse tem sido o grande gargalo do momento. Por isso, é importante ampliar leitos pediátricos e leitos clínicos. O ideal seria que tivéssemos um suporte, uma retaguarda para o atendimento clínico, com ampliação de leitos para internação de pacientes nessa situação, principalmente na pediatria”, afirmou o diretor.
Sobre as ações tomadas para amenizar o quadro, Tadeu Nunes completou: “Fizemos a realocação de pacientes e a abertura de novos espaços hospitalares. O HU ampliou o número de leitos: estávamos com 17 leitos pediátricos e passamos para 21. Ampliamos a equipe de enfermagem e médica, e também acionamos a rede, o que levou a adesão do plano de contingência”.
Em conversa com a secretária de saúde, Dulce Pimenta, ela ratificou que existe um aumento do número de casos Covid, porém, o maior impacto no aumento da taxa de ocupação de leitos Covid são pacientes com síndrome respiratória aguda grave não COVID, como Influenza.
“A secretaria está acordando com os prestadores a ampliação de leitos clínicos.
Lembrando que a grande maioria dos pacientes internados nos leitos COVID são suspeitos. Não tem confirmação laboratorial para COVID. Hoje, dos 96 pacientes internados suspeitos, somente nove são confirmados para COVID. O exame realizado foi o RT-PCR. Demora aproximadamente 3 a 5 dias o resultado. A secretaria já notificou todos os Hospitais para fazerem teste de antígeno e PCR. O antígeno sai em minutos e já nos dá um panorama da situação”, explicou Dulce Pimenta.