Dezembro começou com um recado sobre saúde: neste domingo (1º/12) foi o Dia Mundial de Combate à Aids. A data conscientiza sobre a prevenção e o tratamento à doença, um assunto que não interessa somente a grupos específicos, mas, sim, a qualquer pessoa sexualmente ativa.
A Aids, ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, é a complicação da infecção pelo HIV, o vírus da imunodeficiência humana. A principal via de infecção é a sexual, por isso, no senso-comum, o vírus é associado à promiscuidade. Mas não é nada disso. Uma única relação desprotegida é o bastante para se infectar. Por isso, toda pessoa sexualmente ativa deve se testar periodicamente, e não só quem está solteiro e tem múltiplos parceiros, por exemplo.
É a recomendação do infectologista e professor da Faculdade de Saúde Santa Casa BH Alexandre Moura. “As pessoas sexualmente ativas devem realizar o teste, porque ninguém sabe quem está em risco. Você consegue falar muito bem sobre o seu comportamento, mas é difícil saber qual é o do seu parceiro ou parceira. Uma pessoa que tem relação sexual desprotegida está potencialmente em risco”, diz.
A questão sobre a testagem e a infecção por HIV não é moral, reforça ele. Não importa se você tem um longo casamento em que acredita haver fidelidade, se é hétero ou homossexual: se há sexo sem camisinha, há risco. Além disso, por mais que haja confiança em um relacionamento estável, o cuidado com a própria saúde sexual é individual, e cada um precisa cuidar da sua. Por isso, o ideal é incorporar o teste de HIV à rotina de exames semestrais ou anuais, indica o especialista. “Vai fazer um check up uma vez por ano? Inclua o teste anti HIV para sempre monitorar”.
Ele lembra que não é preciso esperar ter sintomas para se testar. Até porque não são todas as pessoas infectadas que apresentam sinais antes da evolução para a Aids. Em alguns casos, a pessoa pode ter uma síndrome retroviral aguda (SRA) algumas semanas após a infecção, porém essa não é a regra. “A pessoa sente febre, os gânglios ficam inchados, e ela acha que foi uma virose qualquer. Poucas pessoas detectam que é HIV, porque melhora. A doença mesmo se manifesta anos depois”, diz Moura.
Um grupo com indicação ainda maior para testagem são as gestantes, pois o tratamento contra o vírus durante a gravidez pode proteger o bebê de também ser infectado. O ideal é realizar um exame no início da gestação, outro no último trimestre e um teste rápido no parto — o momento em que o risco de infecção da criança é mais acentuado. “Quando se descobre o HIV no pré-natal, o risco de transmissão é zero”, reforça o infectologista.
Saber é o melhor caminho, pois HIV tem tratamento
A ideia de que a ignorância é uma bênção é mentira para quem vive com HIV. Conhecer o diagnóstico é essencial para controlar o vírus antes que ele evolua para a Aids. Hoje, os tratamentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são de ponta e já não causam o sofrimento de algumas décadas atrás, explica o médico Alexandre Moura.
“Muitas pessoas têm o raciocínio de que não saber é melhor. Mas isso não faz sentido, porque hoje em dia o tratamento é muito simples e seguro. Ainda utiliza-se o nome equivocado de ‘coquetel’, com a ideia de que é um tratamento difícil e muito tóxico. Mas, não. Hoje em dia, você toma um, dois comprimidos por dia sem efeitos colaterais”, diz.
Além de proteger a si mesmo, quem se trata contra o HIV protege os parceiros sexuais. Isso porque, a partir do sexto mês de tratamento regular, a carga viral do paciente pode se tornar indetectável e, assim, o vírus é intransmissível. O ideal é nunca se relacionar sem camisinha, mas, em um caso assim, uma pessoa que vive com HIV não transmitiria o vírus nem se transasse sem preservativo.
Quando fazer o teste de HIV?
O ideal é incluí-lo entre os exames de rotina. Transou sem camisinha e está com receio de ter sido infectado? Se faz menos de 72 horas, o ideal é procurar a Profilaxia Pós-Exposição (PEP). Esse é o tratamento disponibilizado pelo SUS para pessoas que se expuseram a algum risco e implica tomar dois comprimidos diários durante 28 dias. Em quase todos os casos, a utilização correta impede a infecção pelo HIV mesmo que você tenha se relacionado com uma pessoa que vive com a doença sem tratamento. Lembrando que a PEP não é a mesma coisa da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), um tratamento também gratuito em que a pessoa toma um medicamento todos os dias ou regularmente antes mesmo do sexo para prevenir a infecção.
Se não der tempo de recorrer à PEP, não adianta fazer um teste de HIV imediatamente, porque, nos exames tradicionais, a infecção só é detectada após 30 dias da infecção. É possível fazer um exame de sangue laboratorial ou um teste rápido, em que se espeta a ponta do dedo do paciente para colher uma gota de sangue. Especialmente nesse intervalo, não se relacione sem preservativo.
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