A VITÓRIA DE TRUMP
A vitória de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos provocará uma nova onda de fortalecimento da extrema-direita no mundo? Se levarmos em conta que a maior nação democrática do mundo elegeu, pela segunda vez, um presidente condenado por tentativa de golpe de Estado e abertamente misógino e xenófobo, sim, é possível que se naturalize, como Brasil e Argentina inclusive já fizeram, políticos com esse perfil em cargos executivos máximos. Porém, Trump foi eleito apesar desse perfil e não por causa dele.
A VITÓRIA DE TRUMP II
Ao fim e ao cabo, o principal motivo da vitória do Partido Republicano nas eleições estadunidenses não foi pauta de costumes, situação global ou qualquer coisa que o valha, mas o ambiente interno, doméstico. O povo americano está insatisfeito com a atuação do presidente Joe Biden na economia, segundo toda e qualquer pesquisa de opinião. O maior motivo de crítica é a atuação do democrata no tocante ao controle da inflação, que, após ter flertado com os 10%, bateu em setembro com 2,4% ao ano. É um número relativamente baixo se olhando de fora, porém, o buraco é fundo.
A VITÓRIA DE TRUMP III
A inflação acelerou nos Estados Unidos e no mundo inteiro durante e logo após a pandemia. Os preços subiram muito de patamar, atingindo principalmente as famílias de classe média. Agora a inflação está tecnicamente baixa, porque os preços não estão subindo tanto, mas não caíram ao mesmo nível em que estavam antes de março de 2020. Ou seja, para a macroeconomia, e isso vale também para os índices do Brasil de hoje, a inflação está sob controle. Para a microeconomia, para o dia a dia de quem visita supermercados, postos de gasolina, restaurantes e afins, os preços continuam altos, enquanto o poder de compra mudou muito pouco de 2020 para cá.
A VITÓRIA DE TRUMP IV
Isso fez com que o eleitor votasse em Trump para suceder Biden, até porque Kamala Harris, sua oponente, é a atual vice-presidente e também do Partido Democrata. Com Biden seria, possivelmente, uma derrota muito pior para o Partido Democrata. Porém, se o Partido Republicano lançasse um outro candidato menos polêmico que Trump, a vitória seria ainda maior do que foi, já que esse outro nome poderia concentrar o debate na pauta econômica, que é o que verdadeiramente move o eleitor numa eleição para presidente.
A VITÓRIA DE TRUMP V
Aliás, vem dos Estados Unidos a frase, hoje já histórica, do marqueteiro James Carville ao explicar como Bill Clinton conseguiu vencer George Bush Pai, então presidente, nas eleições de 1992, mesmo após toda a imagem positiva que a invasão americana ao Iraque no início do mandato tinha lhe proporcionado: “é a economia, estúpido”, dita num contexto de indicadores econômicos desfavoráveis ao então líder da nação no final de seu governo. É a economia, em qualquer democracia, o que de fato elege um presidente. E, claro, questões que acabam tendo ligação direta com a economia, como a segurança patrimonial, já que as pessoas não querem perder para a criminalidade aquilo que adquiriram com dificuldade – uma explicação simplista para algo realmente simples, sem entrar, porém, no mérito de por que a criminalidade ocorre.
OS DEMOCRATAS SÃO DE ESQUERDA?
Vi posts aqui e ali, até de autoridades que já viveram nos Estados Unidos, dizendo que a eleição de Trump foi uma vitória da direita contra a esquerda. Essa afirmação beira o ridículo. Ou é um completo desconhecimento sobre a estrutura política dos Estados Unidos ou é exercício de má-fé para fins de proselitismo eleitoral. É verdade que os republicanos estão mais à direita que os democratas, e isso se acentuou pós-Trump, que é um líder de ultradireita, contudo, o Partido Democrata, que já liderou zilhares de vezes a nação mais capitalista do mundo, no máximo, é de centro, e isso analisando com muita boa vontade. Até porque, nos EUA, a clivagem não é direita x esquerda, mas liberais (os democratas) x conservadores (os republicanos). Na economia (com pouquíssimas vozes dissonantes como o senador democrata Bernie Sanders), é todo mundo capitalista, uns com maior apreço por programas sociais, outros com nenhum, mas todos muito capitalistas, o que torna impossível colocar os democratas no espectro da esquerda. Curiosamente, lá, Republicanos de Trump são vermelhos (lembra da frase “minha bandeira nunca será vermelha?”, risos) e Democratas são azuis e eram, até a Guerra Civil Americana, conservadores os democratas e liberais os republicanos.
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