Segundo nos relata Eduardo Bueno em seu clássico “ A viagem do Descobrimento”, Objetiva, “ na manhã da quinta-feira, 23 de abril de 1500, um novo ciclo estava se iniciando na história já quase secular da expansão lusitana pelos quatro cantos do planeta. Naquele dia os portugueses estavam se preparando para desembarcar pela primeira vez no terceiro continente ao qual seus eficientes navios os tinham conduzidos.”
Àquela altura, os portugueses já haviam estabelecido várias feitorias na costa ocidental da África. Quase uma década ainda seria necessária para que eles pudessem conquistar a Índia e dominar o comércio marítimo no oceano índico. Depois disso, precisaram de outros três anos para chegar à China em 1513 ( Macau) e mais 30 anos para atingir o Japão ( Nagasaqui, em 1543). Mas, agora, estavam prestes a fincar o pé na América- embora ela ainda não tivesse nome e sequer fosse reconhecida como um novo continente.
Esse processo expansionista estava, de certa forma, ligado à luta entre a Europa cristã e o mundo árabe. Qualquer semelhança com a Guerra Hamas/Israel não é mera coincidência. Muito antes da tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, em maio de 1453, os nossos irmãos portugueses já tinham declarado uma espécie de “ guerra santa” contra os seguidores da religião criada pelo profeta Maomé no século VI e desvirtuada pelos xiitas no século XX. A bem da verdade histórica, os fiéis de Maomé tinham atacado antes. No ano de 711, vindos do norte da África, árabes e berberes cruzaram o estreito de Gibraltar e conquistaram toda a península ibérica. Os intensos combate duraram apenas sete anos, mas os invasores só seriam inteiramente expulsos da Espanha e de Portugal após 700 anos de luta.
A reconquista cristã do mundo ocidental se iniciou no século IX. Foi durante a luta contra os árabes que Afonso VI, rei de Leão e Castela, criou um condado na região de Portucale, entre os rios Douro e Tejo, no território que tomara dos mouros e que, séculos antes, fora uma colônia romana chamada Portus Calle. Finalmente em 1097, Afonso VI confiou o comando Condado de Portucale ao aventureiro Henrique de Borgonha, seu genro. Com a prematura morte de Henrique em 1112, seu filho, Afonso Henriques, decidiu desafiar não só os invasores árabes mas também o reino de Leão e Castela. Ao vencer a lendária batalha de Ourique, em 1139, Afonso Henriques se autodeclara Rei, e o Papa e Castela o reconhecem em 1143. Portugal se tornou então uma nação unida e independente. Há exatos 880 anos atrás.
Por quase 300 anos, descendentes de Afonso Henriques reinaram em Portugal, em luta constante contra Castela. Em 1383, quando o rei Dom Fernando morreu sem deixar herdeiros, o país correu sério risco de ser anexado pela coroa rival ( Spanha), especialmente porque a nobreza luza era favorável à anexação.
Mas o povo português se revoltou e decidiu aclamar como rei D. João, Mestre da Ordem Militar de Avis e filho bastardo do finado rei D. Pedro I de Portugal ( Pai de Dom Fernando). Em 1385, com o apoio da “ arraia miúda” e de arqueiros ingleses, D. João bateu o exército de Castela, Por dois séculos seus descendentes seriam os reis de Portugal. Era a dinastia de Avis.
Desde antes da conquista do Brasil que a dicotomia entre ocidente e oriente, cristianismo e islamismo, se apresenta. Portanto esta “ guerra” entre o Hamas e Israel tem como origem a vários séculos quando os mouros invadiram de forma rápida toda a península ibérica ( Portugal e Espanha). Temos por conseguinte , no nosso DNA, sangue espanhol( Castela), português, árabe ( mouros), negro, índio e português ( branco). Tese defendida por nosso ilustre conterrâneo Darcy Ribeiro que afirma ser o Brasil uma “ nova Roma”. Porém mais rica, mais criativa, pela mistura de todas estas raças e etnias.
Gustavo Mameluque. Jornalista. Bacharel em Direito. Especialista em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro. Colunista do Jornal de Notícias e do site montesclaros.com
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