DECEMBER 9, 2022


Por que o brasileiro se preocupa mais com dinheiro do que com a saúde?

Em uma das canções mais famosas de Tim Maia (1942-1998), o cantor e compositor afirma: “Grito ao mundo inteiro/ Não quero dinheiro/ Eu só quero amar”. Lançada em 1971 e, desde então, regravada por vários artistas, a música, entretanto, caminha para uma direção oposta ao que pensa a maioria dos brasileiros atualmente. Segundo pesquisa da […]

Foto: Doucefleur/iStockphoto

Em uma das canções mais famosas de Tim Maia (1942-1998), o cantor e compositor afirma: “Grito ao mundo inteiro/ Não quero dinheiro/ Eu só quero amar”. Lançada em 1971 e, desde então, regravada por vários artistas, a música, entretanto, caminha para uma direção oposta ao que pensa a maioria dos brasileiros atualmente. Segundo pesquisa da fintech Onze em parceria com a seguradora Icatu, o dinheiro – ou a falta dele – é a maior fonte de preocupação para a população do país. O assunto financeiro e a dificuldade de manter as contas em dia, segundo o estudo, tiram mais o sono do brasileiro do que questões relacionadas à saúde, por exemplo.

Das 8.573 pessoas ouvidas no levantamento, 54% apontaram o dinheiro como o principal fator de preocupação. O percentual fica bem acima de outros temas, como família (17%), saúde (13%) e trabalho (8%). Mas, afinal, o que explicaria esse cenário? Por que a preocupação com o dinheiro aparece em primeiro lugar e como isso interfere na saúde mental da população?

Para chegar a essas respostas, é preciso levar em consideração outros dados da pesquisa, que perguntou aos entrevistados quais situações relacionadas ao dinheiro eram motivo de estresse: 55% disseram que era não ter dinheiro para emergências, como acidentes ou problemas de saúde; e 42%, não ter dinheiro suficiente para pagar as contas do mês. De acordo com a fintech Onze, a maior parte dos entrevistados (71%) tem uma renda mensal igual ou inferior a dois salários mínimos (R$ 2.640).

“A saúde mental e saúde financeira estão intimamente interligadas, este é um assunto que merece a nossa atenção”, afirma o psicólogo Leonardo Morelli, especialista em psicoterapia breve e hipnoterapia ericksoniana. “A incapacidade de cumprir com obrigações financeiras, como pagar contas ou dívidas, pode gerar um estado constante de ansiedade e estresse. Esse estado de preocupação, ao longo do tempo, pode levar ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade, que, por sua vez, podem interferir significativamente na capacidade de uma pessoa de ‘funcionar’ no dia a dia”, ressalta.

Em tempo: a pesquisa aponta que 71% dos entrevistados revelaram que problemas financeiros afetam sua saúde mental. Na lista aparece ansiedade (53%); insônia (41%); e problemas de relacionamento com amigos, familiares e parceiros (15%).

Morelli pontua que, quando o cenário é de dívidas frequentes, “o endividamento pode ser extremamente estressante”. “Especialmente quando acompanhado pela incerteza de como e quando a situação será resolvida. Essa pressão financeira prolongada pode provocar sentimentos de desesperança e desamparo, contribuindo para o surgimento ou agravamento da depressão. A insegurança financeira também pode impactar a autoestima e a autoconfiança e, consequentemente, interferir nos relacionamentos pessoais, familiares e afetivos. Conflitos relacionados a dinheiro são comuns em famílias e casais, podendo exacerbar problemas de saúde mental já existentes”, explica o psicólogo.

Consultora de finanças, Loren Mendes afirma que a pesquisa da fintech Onze “trata, de fato, da realidade” do Brasil. “Hoje em dia todo mundo precisa de dinheiro para viver, para as questões de saúde, para a moradia… É um recurso que pode mudar a situação das pessoas. Por isso eu percebo essa preocupação excessiva com o dinheiro”, diz.

“A maior parte das pessoas não consegue lidar emocionalmente com o dinheiro, e não tem tanto a ver com o quanto que ela ganha. Existem pessoas que têm uma renda muito baixa, que não é suficiente para cumprir as necessidades básicas, como alimentação e moradia; é uma questão muito comum e preocupante. Mas tem famílias que têm uma renda bem elevada em que o descontrole das finanças afeta emocionalmente o núcleo familiar”, destaca Loren. “A maioria das pessoas de alta renda que tem essa preocupação não dá conta de viver no padrão que elas alcançam porque vive em um patamar superior. É aquele ditado: ‘Galinha que acompanha pato morre afogada’”, pontua a consultora financeira.

Hora de colocar tudo no papel e fazer as contas 

“Para as pessoas que passam por essas dificuldades, é necessário procurar ajuda”, afirma o psicólogo Leonardo Morelli. Ele ressalta que, por a saúde mental e a financeira estarem profundamente interconectadas, “problemas em uma área podem levar a desafios na outra, criando um ciclo que pode ser difícil de quebrar”. “Portanto, é crucial abordar ambos os aspectos simultaneamente para promover o bem-estar geral. Isso envolve não apenas o tratamento adequado de questões de saúde mental, mas também a adoção de estratégias de gestão financeira eficazes e o acesso a recursos educacionais e de apoio. Com o suporte certo, é possível gerenciar esses desafios de maneira eficaz, levando a uma vida mais equilibrada e saudável”, observa.

Loren Mendes aponta a educação financeira como algo importante, que pode ajudar a colocar as contas em dia ou mantê-las dentro do orçamento. “É preciso levantar todas as informações sobre quanto entra de dinheiro e quanto sai. E aí tem um ponto difícil: separar o que é prioridade do que é supérfluo, que pode ser cortado”, cita a consultora.

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