As brigas, por motivos diversos, matam mais que o tráfico de drogas em Minas Gerais. É o que aponta o relatório de Mortes Violentas Intencionais (MCI), elaborado pela Polícia Civil do estado. O estudo apontou que as mortes decorrentes de brigas e atritos correspondem a 15,84% dos 1465 registrados no em Minas. O índice é superior aos relacionados aos casos de envolvimento com drogas, com 14,88%. O estudo considerou os crimes de homicídio ocorridos entre janeiro e junho de 2022.
“Os números desmitificam uma sensação que a sociedade tem de que todo crime de homicídio está relacionado ao tráfico de drogas. As pessoas quando encontram um corpo baleado logo associam ao tráfico, o que não é uma verdade. Existem outras causas e até mais recorrentes”, revela a pesquisadora Ludmila Ribeiro, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da Universidade Federal de Minas Gerais.
Para a estudiosa, o comportamento intolerante de parte da sociedade somado ao acesso as armas de fogo, principalmente, ajudam a justificar os dados. “Quando se começa investigar, a gente começa a entender que essas mortes são consequências de conflitos entre pessoas que possuem algum tipo de relação. Algo que se torna mais comum com o acesso as armas. Uma situação de ciúmes, disputa de vizinhança ou até mesmo instabilidade emocional que pode motivar esse tipo de delito”, avalia.
O levantamento indicou ainda que 60,61% dos casos são decorrentes de outros motivos e que 8,67% ocorreram por vingança. O relatório considera como mortes violentas intencionais os casos “cujos efeitos propagadores vão além da perda original da vida humana”. A Polícia Civil de Minas Gerais entende que esses delitos prejudicam também a família e a comunidade que reside nas proximidades do local onde o crime ocorreu, sendo essas pessoas classificadas como “vítimas secundárias”.
“Tal característica tem potencial para criar um ambiente violento que tem impacto negativo na sociedade, na economia e nas instituições governamentais”, argumenta a instituição. A Polícia considerou, a partir do estudo, que as mortes violentas intencionais podem afetar pessoas com perfis diversos, independentemente da idade, sexo, etnia e nível socioeconômico. “O estudo das MVI é relevante não só pela gravidade do crime, mas, também, porque são um dos indicadores mais mensuráveis e comparáveis para monitoramento do Estado”, acrescentou.
Para a pesquisadora do Crisp, o relatório desenvolvido pela Polícia Civil de Minas Gerais é uma importante ferramenta para o desenvolvimento de políticas públicas e aperfeiçoamento da atuação das instituições de segurança no estado. “Isso revela uma polícia que está se abrindo ao controle social e que está se preparando para receber demandas que venham dessa divulgação. O único ponto ruim é que isso esteja acontecendo por agora. Além do estado, esse estudo vai permitir a academia se aproximar da instituição para aperfeiçoar as práticas”, considera.
Veja o ranking com as principais causas dos crimes de homicídio em Minas Gerais
Motivos diversos – 60,1%
Brigas e atritos – 15,84%
Envolvimento com o tráfico de drogas – 14,88%
Vingança – 8,67%
Quando os crimes de homicídio ocorrem em Minas?
Os crimes de homicídio em Minas Gerais ocorrem principalmente nos períodos da noite e da madrugada. Conforme o estudo, 41,09% foram registrados durante a noite e 21,57% na madrugada. O levantamento também apontou que 20,14% dos casos foram a tarde e 17,20% pela manhã.
Qual o dia da semana com mais homicídios em Minas Gerais?
De acordo com o relatório, o sábado é o dia da semana com maior incidência dos crimes de homicídio, com 295 dos 1.465 registrados. A quantidade representa 20,14% do total. Domingo é o segundo dia com mais casos, com 286, o que corresponde a 19,52%.
O ranking segue com a sexta-feira (200 – 13,65%), segunda-feira (177 – 12,08%), terça-feira (12,01%) e quinta-feira (166 – 11,33%). A quarta-feira é o dia da semana com o menor número de casos, com 165, o que corresponde a 11,26% do total.
Quais os locais onde os crimes de homicídio são mais recorrentes em Minas Gerais?
Os crimes de homicídio ocorrem principalmente em vias de acesso pública. De acordo com o estudo, 60,96% foram registrados nestes locais. Os crimes ocorridos em casa aparecem em segundo lugar, com 21,09%.
O levantamento apontou que bares, lanchonetes, restaurantes e espaços similares estão em quatro lugar, com 5,87%. A terceira opção está ocupada por outros lugares, com 12,08% dos casos.
Quais as principais armas utilizadas nos crimes de homicídio?
Do total de 1.465 crimes de homicídio registrados em Minas Gerais, 61,77% ocorreram com armas de fogo. O uso de armas brancas foi a segunda maior causa das mortes, com 23,28%. Os crimes sem informações quanto ao uso de armas ocupam a terceira colocação, com 12,49% dos casos. Em quarto lugar estão aqueles que foram decorrentes de agressão física, sem emprego de instrumentos, com 2,46%.
Quais as principais vítimas dos crimes de homicídio em Minas Gerais?
As principais vítimas dos crimes de homicídio em Minas Gerais são pardas (708 casos). Em segundo lugar estão as pessoas que se autodeclaravam negras (284), seguidas por aquelas que se reconheciam como brancas (251). O ranking completa com os casos em que se não foram registradas informações sobre cor/raça (208), pessoas albinas (2) e amarelas (2).
O levantamento também revelou que as principais vítimas no estado são homens. São 1.300 casos, o que representa 88.75 do total. No estado, 159 mulheres foram vítimas deste tipo de delito. A quantidade representa 10.85%. Outros seis crimes não possuem informações sobre o gênero das vítimas.
O gráfico que aponta perfil das vítimas de homicídios em Minas, com recorte feito pelo sexo, considera a população LGBTQIA+ como “um terceiro grupo”, distinto ao de homens e mulheres. Questionada pela reportagem de O TEMPO sobre essa classificação, a Polícia Civil de Minas Gerais não respondeu.
Qual a faixa etária das vítimas dos crimes de homicídio em Minas Gerais?
As principais vítimas são jovens com idades entre 18 e 24 anos. Foram 346 casos, ou seja, 23,62% dos 1.465 registrados em todo o estado. A população com idade entre 31 a 40 anos é a segunda faixa etária com o maior número de casos, sendo catalogados 343, o que corresponde a 23,41%.
Veja o ranking:
18 a 24 anos – 346 (23,62%)
31 a 40 anos – 343 (23,41%)
25 a 30 anos – 312 (21,30%)
41 a 50 anos – 210 (14,33%)
51 a 60 anos – 93 (6,35%)
12 a 17 anos – 77 (5,26%)
Acima de 60 anos – 66 (4,51%)
0 a 11 anos – 15 (1,02%)
Sem informações – 3 (0,20%)
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