Como forma de fomentar o desenvolvimento e potencializar as atividades econômicas da região, a Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams) está com um novo projeto em construção: o programa “Avançar Norte de Minas”. O programa está na 2ª fase e apresentou os objetivos e metas para cerca de 20 instituições públicas e privadas que aderiram à ideia, durante reunião de trabalho promovida em fevereiro

O prefeito de Padre Carvalho, eleito presidente da Amams, José Nilson Bispo de Sá (PTB), explicou que o governador Romeu Zema (Novo) e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Passalio, se dispuseram a participar da proposta, que visa à geração de 25 mil novos empregos por ano, além de alavancar o Produto Interno Bruto (PIB) para 10% ao ano nos municípios norte-mineiros.

“Sabemos as dificuldades comuns de todas as cidades: falta de oportunidade, trabalho e renda. Em conversa com o governador, ele colocou todas as instituições estaduais a nossa disposição. Para esse projeto dar certo, precisamos unir forças com todas as entidades do Norte de Minas. Se nos unirmos, vamos melhorar, com certeza, o PIB de cada cidade, gerando emprego e renda para a região. Há condições de serem gerados 50 mil empregos nos próximos dois anos”, destacou José Nilson.

O presidente ainda lembrou algumas atividades econômicas que têm ganhado força por aqui, como o Polo Minerário, desenvolvido pela empresa Sul-Americana de Metais S/A (SAM), as usinas de energia solar que estão sendo construídas, além do turismo, que são fontes de desenvolvimento econômico. Outro ponto destacado é a capacidade de transporte ferroviário na região.

Para coordenar os trabalhos, foi criada em janeiro a Superintendência de Desenvolvimento Econômico da Amams, comandada pelo diretor regional da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Walter Abreu. Durante a explanação, o superintendente pontuou como será a implantação do Avançar Norte de Minas: “Vamos apoiar os municípios nos seus processos de identificação das potencialidades e vocações econômicas, fazer o mapeamento das cadeias produtivas, melhorar o ambiente de negócios, fomentando o empreendedorismo local e atraindo investimentos nacionais e internacionais”.

 “É louvável essa iniciativa de congregar as entidades empresariais e a sociedade civil organizada, para que a gente consiga, de vez, consolidar o desenvolvimento do Norte de Minas. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico estará totalmente junto do projeto. Nos próximos dias as equipes técnicas da Secretaria estarão in loco em Montes Claros, para que possamos construir um projeto factível, com início, meio e fim. E, assim, termos a entrega que precisamos”, analisou o secretário de Desenvolvimento Econômico do estado, Fernando Passalio, durante vídeo enviado para a Amams.

O turismólogo e secretário municipal de Turismo de Grão Mogol, Ítalo Mendes, ratificou que o programa surgiu “com o espírito de não criar algo novo; ao contrário”. Segundo ele, a ideia é congregar trabalhos que já são vistos em diferentes setores. “As entidades que foram convidadas já desenvolvem, de alguma forma, um esforço de desenvolvimento. O Senar, por exemplo, promove há muito tempo programas de capacitação para a área rural; a Emater já faz esforço de assistência técnica; o Sebrae, faz um trabalho brilhante com o empreendedorismo. São várias instituições que podem se unir para dar força e aprimorar o avanço”, comentou.

“O que queremos é transformar essa imagem que a gente tem hoje do Norte de Minas, como um lugar de baixo desenvolvimento, e mostrar que, na verdade, é uma região de oportunidades. Temos várias extensões de terra, temos alto índice de insolação, propício à geração de energias sustentáveis, temos disponibilidade de atrativos turísticos e abundância em recursos naturais. São vários fatores preponderantes. O que precisamos é transformar isso, de forma integrada, em oportunidade de emprego, trabalho e renda para as populações”, enfatizou o turismólogo.

O deputado estadual Zé Reis ressaltou a necessidade de concentrar esforços em torno de um bem coletivo. Ele lembrou que reuniões de trabalho, como estas realizadas pela Amams, têm surtido efeito no cenário regional.

“Foi de encontros como esses que surgiu a demanda de converter o valor da concessão da BR-135 em investimentos. É um fundo cotado em R$ 2 bilhões, que está entrando e será aplicado especificamente na rodovia ou na região que foi impactada pela concessão. Essa mobilização, por meio da Amams, também possibilitou que parte do valor advindo do acordo com a Vale seja aplicado no Norte de Minas”, lembrou.

Como representante da Prefeitura de Montes Claros, o vice-prefeito Guilherme Guimarães (PSL) ressaltou a necessidade de projetos que sejam funcionais e que tenham resultados contínuos e de longo prazo. Direcionando para os deputados, ele discorreu sobre a ideia de criação do Fundo Regional de Investimento para o Norte de Minas. Também disse que na medida em que as outras cidades se desenvolvem, Montes Claros também avança. “A Prefeitura tem ciência de que a cidade é um polo, mas ela não pode abraçar tudo. Por isso, é evidente que identificar as vocações dos outros municípios é fundamental para reduzir as pressões sociais”, enfatizou Guimarães.

E prossegue: “A questão dos recursos hídricos, da energia fotovoltaica, a linha férrea, tudo isso é importante. Poucas regiões do país têm essa possibilidade logística tão bem implementada, e, muitas vezes, nós da região não visualizamos esse aspecto. É preciso criar programas para o Norte de Minas que tenham finalidade e funcionalidade, identificando que o nosso papel, enquanto servidores, é melhorar a vida das pessoas. Precisamos saber quais são os indicadores”.

Uma preocupação apresentada pela maioria dos parceiros durante a reunião foi o incentivo à mão de obra qualificada. Para o procurador jurídico do Consórcio de Desenvolvimento Ambiental do Norte de Minas (Codanorte), Dinilton Pereira da Costa, a região carece de pessoal capacitado: “Vou dar um exemplo: está sendo implantada uma usina fotovoltaica na região de Quem-quem, zona rural de Janaúba, numa extensão de 3.800 hectares de terra. Eles não conseguiram captar ainda 10% da mão de obra que precisam para dar seguimento às instalações. Se fala muito no crescimento da energia solar na região, mas não temos número de montadores capacitados. Temos que pensar na qualificação. A agricultura também está se modernizando, mas necessita de pessoal qualificado para trabalhar”.

Em resposta ao problema apresentado pelo procurador jurídico, o presidente da Agência de Desenvolvimento do Norte de Minas (Adenor), Alexandre Pires Ramos, informou que entre as ações para alavancar a capacitação de prestadores de serviço está a criação de um centro de ensino. “Nessa área de energia fotovoltaica, a Adenor está buscando parceiros para a criação do Centro de Capacitação de Energias Renováveis, que será implantado no Distrito Industrial. Temos parceria com uma universidade de Portugal para contribuir com tecnologia. Porque é preciso pessoas qualificadas para atender esse tipo de mercado”, informou Pires Ramos.

Sobre a participação de várias instituições em prol do programa Avançar Norte de Minas, a professora Ilva Ruas Abreu, reitora em exercício da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), comentou que é importante conhecer o que cada parceiro faz para extrair deles informações pertinentes no processo de desenvolvimento regional. Ela citou que a universidade tem contribuído na formação de profissionais por meio do Centro de Educação Profissional e Tecnológica (CEPT), e pode disponibilizar estudos e dados produzidos tanto nos campis como no hospital administrado pela Universidade.

“A Unimontes está em todos os municípios, direta ou indiretamente, no Norte de Minas. Só para se ter uma ideia, no fim do ano foram aprovados mais de 200 projetos de pesquisa e execução. Eu posso afirmar que, na sua maioria, todos os estudos são voltados para questões vividas pelos municípios da região: a saúde, a educação, a economia, a gestão. Temos projetos na área agrária, em Janaúba. Ao longo do projeto, a gente vai colocar a disposição toda a infraestrutura da universidade. Porque essa é nossa missão: contribuir efetivamente para o desenvolvimento da região em que nós estamos inseridos”, explicou Ilva Ruas de Abreu.

José Arcanjo Marques, superintendente regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG), levantou uma outra problemática vivida pelos norte-mineiros: a falta de água. Ele conta que a Emater atende 224 mil agricultores na região, que lidam diariamente com a escassez. “A segurança hídrica do Norte de Minas é uma questão estratégica de qualquer programa de desenvolvimento, não só para a produção, emprego e renda, mas para a sobrevivência. Nessa região, o que predomina é a agricultura familiar, e precisamos fortalecer o segmento, fortalecer o cooperativismo”, disse o superintendente.

A previsão da Amams é que em março ocorra o lançamento oficial do programa e que, em junho, seja elaborado o calendário de implementação nos demais municípios.

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