DECEMBER 9, 2022


Mudança de rumo: Candidato à presidência do Avante desiste da campanha e apoia Lula

André Janones, natural de Ituiutaba no Triângulo Mineiro, ficou famoso na época da greve dos caminhoneiros, quando passou a ser porta voz do movimento.

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Foto Janones: Najara Araújo/Câmara dos Deputados | Foto Lula: Ricardo Stuckert 

Apenas 13 dias depois de anunciar sua candidatura à Presidência da República pelo Avante, o deputado federal mineiro André Janones desiste de concorrer à liderança do executivo federal e declara seu apoio à candidatura do ex-presidente Lula. Após reunião realizada com o petista em São Paulo, ele passa para o comando das redes sociais da campanha do PT. Em seu perfil no Instagram, publicou a seguinte nota: “E a frente ‘ampla’ tão aguardada por alguns setores elitistas, chega da união do operário migrante nordestino com o cobrador de ônibus filho da doméstica. @lulaoficial e eu estamos unindo nossas candidaturas pra representar o povo e salvar nossa democracia. Que Deus nos abençoe!”

André Janones, natural de Ituiutaba no Triângulo Mineiro, ficou famoso na época da greve dos caminhoneiros, quando passou a ser porta voz do movimento. A popularidade nas redes sociais fez com que conquistasse não só seguidores, mas eleitores. Tornou-se deputado federal e dizia que seu lado era o do povo, afirmando jamais ter sido da base aliada de Bolsonaro

A possibilidade já vinha sendo costurada há muito tempo nos bastidores. Desde fevereiro haviam rumores de um possível alinhamento de Janones com Lula, como publicado pela Revista Veja. Esta semana, em um tuíte ele antecipou que “é possível fazer política discutindo propostas. Esse é o meu objetivo. Eu não quero nada para mim. Por isso levo ao ex-presidente Lula todas as propostas que sempre lutei para conquistar para o povo”. As três principais proposições (auxílio emergencial de R$600, apoio para mães solteiras e atenção à saúde mental) foram contempladas pela campanha petista.

Em menos de 15 dias, André Janones foi oficializado candidato à presidente, passou a membro da campanha de Lula e perdeu seu mandato como deputado federal (decisão da qual cabe recurso). Às vésperas do anúncio da desistência, o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais resolveu cassar o mandato de cinco deputados do Avante, inclusive o de Janones, por suposta fraude à cota de gênero nas eleições de 2018. Além dele, os deputados federais Luis Tibé (presidente do partido) e Greyce Elias e os estaduais Fábio Avelar de Oliveira e João Bosco, atualmente no Cidadania teriam seus mandatos cassados. Segundo a denúncia do Ministério Público Eleitoral, o partido não teria preenchido a cota mínima de 30% candidaturas femininas.

Quem esteve no Minascentro, em BH, na Convenção Nacional do Avante, jamais poderia prever tudo o que viria pela frente, mas foi possível perceber o clima tenso diante das controvérsias e divergências internas, já que muitos pré-candidatos que homologavam suas candidaturas no evento são claros apoiadores de Bolsonaro, que sofreu duras críticas por parte de Janones.

“A gente (os membros do partido) tem alguns pontos de diferença, mas eu percebo que no fim a gente tem sempre o mesmo objetivo, fazer pelas pessoas, fazer por Minas Gerais”, disse durante a solenidade.

“Libertas que sera tamem”: a frase da bandeira de Minas, liberdade ainda que tardia, foi postada na rede social de André Janones na véspera da reunião com Lula. Ele assume o comando das redes sociais da candidatura petista. Uma semana antes, logo que o encontro foi marcado, o ex-candidato a presidente já dizia “é a política do ódio começando a dar lugar ao diálogo”. Foto: Divulgação/Facebook.

Crônica de uma morte anunciada

Deputado Estadual há seis mandatos, Arlen Santiago, ex-líder do PTB e recém filiado ao Avante, não escondeu seu desconforto com a indicação do candidato à presidência feito pelo partido.

Com ideologia de centro o Avante apresentou alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro no Congresso em 82% das votações na Câmara (até abril de 2021). Embora tenha acompanhado o partido em boa parte das aprovações de projetos do governo, cerca de 50%, quando defendeu o prolongamento do pagamento do auxílio emergencial durante a pandemia, em janeiro do ano passado, Janones afirma ter sido chamado de “idiota, sem conhecimento” pelo presidente Jair Bolsonaro Mas os ataques não intimidaram o político, que leu a lista dos grandes devedores da previdência no Congresso, defendeu o imposto sobre grandes fortunas e falou dos privilégios das instituições financeiras no Brasil.

Apesar de dizer que não é nem de esquerda e nem de direita, em 2022 ele está com Lula e contra Bolsonaro. “O nosso país precisa de um estadista, de alguém à altura do cargo, que consiga separar as suas opiniões pessoais, as suas predileções pessoais, mas entenda que quem está ali não é a pessoa, mas é o representante de todos os brasileiros, de esquerda, direita, evangélicos, ateus, homossexuais heterossexuais, e esse exemplo não tem sido seguido pelo presidente. Não vamos ter uma eleição, vamos ter um plebiscito, onde nós vamos decidir se vamos continuar vivendo em um regime de democracia plena ou se nós vamos permitir o avanço, a escalada autoritária, fascista, daqueles que celebram a morte, a escalada da violência, dos que propagam fake news, que atentam contra as instituições que mantém o estado democrático de direito. A partir do momento que eu digo que todas as fontes de informação são mentirosas e só eu sou a fonte de informação verdadeira, já temos um golpe em curso”, disse André Janones na Convenção do Avante.

O deputado federal mineiro André Janones (Avante), candidato à Presidência da República anunciado pelo partido em Convenção Nacional, desiste da campanha e vai apoiar a eleição de Lula. Foto: Divulgação

Governo de Minas

A chegada mais esperada na Convenção Nacional do Avante foi a do governador Romeu Zema (Novo), que concorre à reeleição. Ele sempre esteve ao lado de Bolsonaro e sua participação, ainda que discreta e de poucas palavras, no evento em que Janones lançava sua pré-candidatura à presidência (em declarada e dura oposição ao atual governo) gerou celeuma com o presidente.

No começo desta semana, Bolsonaro declarou seu apoio exclusivo ao senador Carlos Viana (PL) para governo de Minas. Em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, Viana teria dito que o anúncio (a Zema) foi feito pelo presidente por telefone, ainda durante a reunião de articulação da parceria no Palácio do Planalto, no dia 2 de agosto. Viana negou que sua campanha seja só uma estratégia para levar a disputa para o segundo turno, uma forma de auxiliar Zema a vencer seu maior opositor nas pesquisas, Alexandre Kalil.

A novela Janones ainda promete muitos desdobramentos. Ele havia declarado abertamente o apoio a Romeu Zema para o governo do estado, com quem dividiu o palco do auditório do Minascentro durante a convenção de seu partido. Como fica essa parceria se o candidato de Lula para o executivo mineiro é Alexandre Kalil? O que pretende em uma eventual eleição do petista à presidência da República? Como fica seu mandato de deputado federal após o pronunciamento do TRE-MG? Até a eleição, muita água vai rolar para o Avante e para Janones.

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