“O governo é importante para definir e implementar políticas públicas, mas elas devem estar de encontro com os interesses e as necessidades da sociedade. Por isso, as políticas públicas devem ser idealizadas pelas pessoas, por meio da sociedade civil organizada e com o fundamental fortalecimento da cidadania”.
As observações acima, que foram corroboradas por lideranças e profissionais de saúde, foram destacadas nesta quarta-feira, 6 de novembro, pela odontóloga e coordenadora estadual de saúde bucal e ações integradas da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Jacqueline Silva Santos, na abertura do II Fórum de Discussão e Enfrentamento do Câncer de Cabeça e Pescoço que está sendo realizado em Montes Claros.
O evento, organizado pela Ação Solidária às Pessoas com Câncer (Aspec) com apoio da SES-MG, Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros e a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) reúne gestores, professores universitários, acadêmicos e profissionais de saúde de diversas áreas, com o objetivo de discutir alternativas para o fortalecimento da rede de assistência às pessoas acometidas por câncer de cabeça e pescoço.
Atualmente, no Norte de Minas os tratamentos devem ser direcionados a duas Unidades de Alta Complexidade em Oncologia (Unacons) sediadas em Montes Claros, mas somente o Hospital Dilson Godinho mantém o atendimento de pessoas acometidas por câncer de cabeça e pescoço pelo fato do município possuir apenas dois cirurgiões especialistas para o atendimento das demandas oriundas de 86 municípios que compõem a macrorregião Norte. A segunda Unacon está sediada na Santa Casa de Montes Claros.
Na abertura do Fórum, Jacqueline Santos lembrou que o câncer de lábio e bucal é um dos agravos mais prevalentes e que, para o incremento dos atendimentos no estado há necessidade dos profissionais de saúde e das entidades representativas da sociedade civil organizada potencializarem as ações de advocacy (estratégia que visa a defesa de uma causa ou interesse social, por meio de processos de comunicação e reuniões com pessoas influentes da sociedade).
Ao participar da mesa redonda “Promoção da Saúde e Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço”, Jacqueline Santos lembrou que desde 2021 Minas Gerais possui uma política estadual de saúde bucal, que atualmente conta com 4 mil 178 Equipes de Saúde da Família (ESF) com o apoio de profissionais da área de odontologia; 108 Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) e 26 núcleos de odontologia hospitalar.
“O acesso às ações de saúde bucal no país, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) é lei, porém é um desafio fazer as diretrizes serem efetivadas”, reforçou a coordenadora.
Por sua vez, Mirna Costa Guimarães, referência estadual da linha de cuidado ao câncer de boca anunciou que a curto, médio e longo prazos várias medidas serão colocadas em prática pela SES-MG, visando o aprimoramento das ações de enfrentamento ao câncer de cabeça e pescoço. Para o curto prazo estão previstas, até maio de 2025, a oferta de exames de biópsias e laboratoriais anatomopatológico e de citopatologia; tratamento de lesões benígmas e malignas; reabilitação protética da face ou cavidade oral e a ampliação de exames diagnósticos de biópsia e laboratoriais.
A médio prazo está prevista a ampliação da oferta de exames anátomo e citopatológico com apoio de universidades; a estruturação do componente beira leito nas Unacons e nos Centros de Alta Complexidade em Oncologia (Cacons); e a ampliação dos serviços de teleodontologia que, a longo prazo, terá cobertura em todo o estado.
Também para as ações de ampliação do diagnóstico e assistência a pacientes acometidos por câncer de cabeça e pescoço, Mirna Costa revelou que a SES-MG pretende fortalecer as parcerias com universidades públicas e privadas visando a realização de capacitações de profissionais que atuam nos serviços de atenção primária à saúde.
POLÍTICA ESTADUAL
Na opinião da superintendente regional de saúde de Montes Claros, Dhyeime Thauanne Pereira Marques, a realização do II Fórum de Discussão e Enfrentamento do Câncer de Cabeça e Pescoço “chega a Montes Claros num momento oportuno levando em conta que em outubro deste ano a Secretaria de Estado da Saúde lançou a Política Estadual de Enfrentamento ao Câncer. As discussões e propostas que serão levantadas em Montes Claros serão importantes para subsidiar as estratégias de ações no estado e, especialmente no Norte de Minas, que tem Montes Claros como cidade polo para o acolhimento de pacientes de 86 municípios que compõem a macrorregião de saúde Norte”, pontuou a superintendente.
A secretária municipal de saúde de Montes Claros e integrante da diretoria do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems), Dulce Pimenta Gonçalves, reforçou que o enfrentamento ao câncer de cabeça e pescoço constitui um desafio para o Norte de Minas e o país como um todo.
“Por isso, é importante que as discussões sobre a temática envolvam os gestores municipais de saúde, dirigentes de entidades da sociedade civil e de prestadores de serviços, além das universidades e profissionais de saúde a fim de que, na riqueza da troca de informações, possamos definir estratégias que viabilizem a mudança da atual realidade do diagnóstico precoce da doença até o tratamento efetivo dos pacientes”, completou a secretária.
A professora da Unimontes, Sabina Borges Pena; a representante do Conselho Estadual de Saúde, Maryane Ferreira; o cirurgião, Carlos Quintão, representando o Conselho Regional de Odontologia (CRO); e Marcelo Luiz Pedroso, presidente da Ação Solidária às Pessoas com Câncer, manifestaram opiniões concordando sobre a importância da ampliação dos debates entre a SES-MG, gestores municipais, profissionais de saúde, universidades e entidades da sociedade civil visando ampliar o debate e a proposição de políticas públicas que viabilizem, de forma efetiva, a melhoria do acesso e tratamento de pacientes com câncer em todas as regiões do estado.
PROGRAMAÇÃO
No primeiro dia do II Fórum de Discussão e Enfrentamento ao Câncer de Cabeça e Pescoço a programação contou com a realização de duas mesas redondas abordando: “A Promoção da Saúde e Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço: Enfrentamento dos Fatores de Risco e Desafios do Passado, Presente e Futuro”; e “O Panorama da Oncologia de Cabeça e Pescoço na Macrorregião Norte de Minas: recursos humanos; estrutura física; regulação; financiamento e monitoramento”.
Em seguida, Fernanda Araújo, psiquiatra do Instituto Raul Soares, ministrou palestra sobre “Saúde Mental e Sexualidade: Aspectos Relacionados ao Paciente Oncológico”.
Nesta quinta-feira, 7, a programação do Fórum terá sequência a partir das 8 horas com a realização da terceira mesa redonda abordando “A Rede de Atenção ao Câncer de Cabeça e Pescoço na Macrorregião Norte: Cenário e Perspectivas”.
A última parte do Fórum terá início às 14 horas abordando a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer e o Programa Nacional de Navegação de Pacientes. Participarão das discussões o presidente da Aspec, Marcelo Pedroso; o vice-presidente do Cosems, Guilherme Leal Andrade e a coordenadora da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), Luana Ferreira Lima. Ela proferirá palestra sobre “Políticas Públicas e Advocacy”.
Compartilhe: