A frase “no pain, no gain” (sem dor, sem ganho, na tradução para o português) é um dos mantras escolhidos por muita gente que pratica exercícios físicos. Estampada em academias e usada à exaustão nas redes sociais, a citação acaba propagando a ideia de que os resultados só são conquistados através do sofrimento físico.
O problema é que, diante dessa crença, há quem se submeta a rotinas de exercícios exaustivas que ultrapassam os limites do próprio corpo, o que acaba colocando a saúde em risco – e em casos mais extremos até mesmo a vida.
Foi isso o que aconteceu com uma jovem de 22 anos no México. Ariatna Lizeth Mata Esparza morreu enquanto se exercitava em uma academia na cidade de Torreón. A mexicana desmaiou após levantar muito peso quando fazia um agachamento com barra. De acordo com informações do portal mexicano “Milenio”, a autópsia apontou que a jovem faleceu devido à falta de oxigênio no sangue, que foi acompanhada por uma hemorragia cerebral aguda e pela formação de coágulos em várias partes do corpo, ambas de origem não traumática. A exaustão e a altitude podem ter sido fatores por trás do quadro – vale ressaltar que a cidade onde a garota residia está a cerca de 1.120 m acima do nível do mar.
Embora o caso de Ariatna seja um exemplo fatal do que esse tipo de cultura pode provocar, outras consequências já têm sido observadas. A fisioterapeuta Ana Sarah Oliveira conta que tem recebido cada vez mais pacientes lesionados. Por trás disso, ela observa, há também a constante busca por um padrão de beleza que é inalcançável. “Isso acontece principalmente com pessoas que querem entrar em determinadas modalidades esportivas sem antes preparar o corpo para isso. Elas exigem de si mesmas elevar cargas mais altas do que seus corpos estão preparados e acabam se machucando”, afirma.
Médico especialista em medicina do esporte, Rômulo Alves ressalta a importância da orientação médica antes do início de uma nova atividade, principalmente se o indivíduo tiver condições de saúde preexistentes ou se for alguém sedentário. “Exames básicos, como avaliação cardiovascular, podem ser essenciais para evitar complicações. Além disso, um médico pode fornecer orientações sobre quais atividades são mais apropriadas para cada caso”, explica.
Rômulo destaca também a necessidade de respeitar os limites do corpo, que é variável de pessoa para pessoa. “Sintomas como dor intensa, fadiga excessiva, ou sinais como tontura e náusea podem indicar que o limite está sendo ultrapassado. A escuta do corpo é essencial; caso haja dor que persista após o exercício ou que impeça a movimentação normal, é importante interromper a atividade e buscar orientação médica”, aconselha.
Excesso de informação errônea
O acompanhamento durante a atividade física também é indispensável, mas não parece ser a regra. Segundo o personal trainer Gustavo Barbosa, tem sido cada vez mais comum encontrar pessoas que praticam exercícios sem o suporte necessário. “Isso vem de um imediatismo que não é só da nova geração, mas do ser humano como um todo. As pessoas estão olhando apenas pelo lado da estética, do culto ao corpo, e assim acabam fazendo qualquer coisa, desde procedimentos estéticos a atividades físicas com má orientação”, diz ele, citando como exemplo treinos milagrosos que são propagados nas redes sociais e replicados por milhares de pessoas.
“Antes a gente via muita desinformação, hoje o que a gente vê é um excesso de informação errônea sendo espalhada. Porque na vida real não tem essa facilidade, tudo depende de um processo biológico e fisiológico”.
A fisioterapeuta Ana Sarah reforça o coro ressaltando a necessidade de respeitar todas as etapas do processo de evolução quando se começa a praticar algum exercício. “O corpo necessita de tempo para se adequar a qualquer atividade, deste modo a evolução segura e gradativa gera resultados perceptíveis, sem desdobramentos negativos ao longo do tempo”, afirma.
Outra questão para a qual os especialistas chamam a atenção é o uso de aplicativos. Mesmo que sejam voltados para a prática de atividades e para a adoção de rotinas mais saudáveis, eles não podem substituir o suporte dado por profissionais. “Devemos usar a tecnologia para assessorar, mas, para supervisionar, é preciso que exista o trabalho de um profissional, um personal qualificado que vai personalizar o trabalho para maximizar o resultado do aluno”, afirma Gustavo.
O médico Rômulo Alves pondera que, apesar de oferecerem facilidade e personalização, o uso de aplicativos sem acompanhamento adequado pode culminar com a execução inadequada de exercícios ou a falta de correção de postura, fatores que podem ocasionar lesões.
“Para utilizar essas ferramentas de forma mais segura, é recomendável que as pessoas busquem, ao menos inicialmente, a orientação de um profissional de educação física. Assim, poderão aprender a forma correta de execução dos exercícios antes de seguir sozinhos”, orienta.
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