Às 15h da tarde de sexta-feira (27), um estrondo, seguido de correria entre os trabalhadores da obra de recuperação do Edifício Roma, indicava que as condições de segurança no local ainda inspiram cuidados. O Corpo de Bombeiros de Montes Claros foi acionado e voltou a interditar a área, um raio de 60 metros no entorno do residencial.
Desta vez, a Construtora Turano, responsável pelo empreendimento, não alojou as famílias que tiveram que desocupar suas casas após ordem de restrição dos bombeiros, ao contrário do que ocorreu no primeiro episódio, no dia 8 de abril, quando foram identificados danos na estrutura de um dos apartamentos.
Segundo informações do Tenente Coronel BM Josias Espínola, houve uma situação de comprometimento no pilar, semelhante ao que ocorreu anteriormente, deixando as ferragens da estrutura expostas. O Coronel Josias disse que os bombeiros vão aguardar o laudo das empresas de engenharia que realizam as obras de recuperação com a devida notação da responsabilidade técnica para assunção dos riscos diante das informações prestadas.
Por meio de nota, a 13ª e a 7ª Promotoria de Justiça dos Direitos do Consumidor do MPMG comunicam que o ocorrido na última sexta-feira “não se trata de desplacamento de concreto, mas sim de ruptura de pilar, evento que não era esperado, tampouco estava em qualquer planejamento informado aos órgãos de fiscalização. O inesperado evento, portanto, exige tempo e cautela para que sejam realizadas medições e leituras atualizadas sobre a estabilidade do prédio, assim como análise – e esperada implementação – pela construtora e suas contratadas das recomendações que foram e estão sendo feitas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT), tais quais reforço do escoramento em certas áreas, haja vista o rompimento do pilar P57”, informa o comunicado.
Após vistoria feita na manhã de sábado (28), sob recomendação dos representantes do Ministério Público, após reunião com integrantes do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Procuradoria do Município de Montes Claros, as residências e estabelecimentos comerciais da região foram liberados da interdição.
“Construtora sabia dos riscos”
O Supervisor de Vendas, Saulo Dias Damasceno, vizinho do Edifício Roma, disse à Revista Tempo que técnicos contratados pela Turano, a pretexto de realizarem serviço de limpeza em sua casa (provocada pela obra), vistoriaram o imóvel para verificação de danos estruturais. “Minha mãe estava em casa e abriu o portão para eles entrarem, eles já sabiam que havia problemas antes mesmo de ouvirmos o estrondo”, disse o morador. “O pessoal da Construtora Turano está faltando com respeito à população ali, eles não deram satisfação nenhuma, não retiraram ninguém das casas, eu não tinha nem onde dormir essa noite”, reclama o morador.
“Meu pai, Geraldo Antônio Damasceno, que é o proprietário do imóvel, é aposentado por invalidez. Estou tendo que alugar uma outra casa para ele, porque ele não está tendo paz mais. Já havíamos feito uma denúncia desde novembro do ano passado. Em abril estourou a primeira coluna e não tivemos paz mais. Minha mãe é cardíaca, tive que levar ela no Prontocor. Esse pessoal não está dando paz mais pra gente”, protesta o Supervisor de Vendas.
O morador disse que fez uma denúncia para a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros em novembro do ano passado, quando começaram a retirar terra de dentro do edifício. “Falaram que era um problema, um aterro, quando foi no mês de abril, estourou a primeira coluna”.
Pablo Martuscelli, coordenador jurídico da Construtora Turano, informou, em entrevista concedida à imprensa no local, que o responsável técnico pela edificação, Marco Túlio Fleury de Carvalho, já havia feito uma reunião dias atrás com Corpo de Bombeiros e Defesa Civil para explicar a situação das obras de reforço estrutural.
“O prédio está escorado justamente para suportar o trabalho de reforço estrutural que está sendo realizado. Obviamente, algumas estruturas precisam ser demolidas. Esses pilares estão sendo gradativamente reforçados e, eventualmente, pode haver uma ruptura de concreto, mas eles estão sendo escorados”, disse Martuscelli à Inter TV.
Apesar do advogado da Turano ter afirmado na entrevista que o estrondo ouvido pelos moradores era decorrente de atividades previstas no processo de reforço estrutural, câmeras de vigilância filmaram o momento em que os trabalhadores da construtora saíram correndo da edificação após o forte estrondo ouvido na tarde de sexta-feira, como confirmam as imagens obtidas pela Revista Tempo.
A Construtora Turano enviou um comunicado por escrito tranquilizando moradores e vizinhos. “A ocorrência foi resultado de uma intervenção necessária no concreto dos pilares externos, visando garantir a longevidade e segurança do edifício”, informa o texto, que afirma não haver risco à estabilidade do prédio e à segurança dos moradores.
Enquanto a obra prossegue entre interdições e desinterdições, o supervisor de vendas, Saulo Damasceno, vive à sombra do Edifício Roma, tendo identificado, inclusive, rachaduras em seu imóvel, que fica bem ao lado do prédio. Após 90 dias migrando entre um hotel e outro até poder voltar para casa, ele segue apreensivo quanto à segurança no local.
“Isso é um descaso com os moradores, são pessoas que estão ali há mais de 30 anos. Antes desse tormento ir para ali, aquela rua era a melhor rua do bairro. Todos se tratam como se fossem irmãos. Não é só o pessoal da minha casa que adoeceu, não. Eles estão adoecendo todo mundo. E ninguém toma providência, nem a justiça toma providência. Enquanto uma desgraça não acontecer, ninguém vai tomar providência”, reclama Saulo.
A pedido da Revista Tempo, o Ministério Público enviou o seguinte esclarecimento:
O Ministério Público ressalta, mais uma vez, que o ocorrido se trata de rompimento de pilar – e não de simples desplacamento de concreto – bem como que este evento não era natural nem esperado, como inicial e equivocadamente divulgado.
Logo, para evitar que eventos anormais como este se repitam, o Ministério Público, por meio do IPT, recomendou uma série de providências à Construtora e às suas contratadas de modo que a obra possa prosseguir sem novas intercorrências inesperadas como rompimento de pilares, evacuação do prédio e interdição do entorno.
A implementação destas recomendações será fiscalizada ao longo desta semana.
Corpo de Bombeiros e Defesa Civil
O entorno do Edifício Roma foi liberado na tarde do dia, 28/9, após Corpo de Bombeiros e Defesa Civil avaliarem que:
a) o reforço do escoramento no quarto andar, onde ocorreu o rompimento do Pilar P57, recomendado pelo IPT, foi implementado pela Construtora e suas contratadas;
b) o monitoramento de deslocamento estrutural da edificação será contínuo e não indicou movimentação anormal do prédio desde a ruptura daquele pilar ocorrida na tarde de 27/9;
Vídeo do momento em que funcionários saem do edifício
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