DECEMBER 9, 2022


Inflação prejudica mais ricos ou pobres no Brasil? Veja resultados dos últimos 12 meses

Pesquisa do Ipea apontou que, entre junho 2023 e julho de 2024, quem recebe, em média, R$ 21 mil tem sido mais pressionado pela carestia

Foto: Pexels

Parece estranho, mas a inflação teve um peso maior sobre os mais ricos no Brasil nos últimos 12 meses. Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicou que no último ano o encarecimento foi de 4,79% para quem tem renda alta no país. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, no entanto, marcou 4,23% no período.

Para as famílias de renda muito baixa, a inflação apurada pelo Ipea foi de 3,66%, enquanto renda baixa somou 3,85%, renda média-baixa 3,85%, renda média 4,03% e renda média-alta 4,55%. A pesquisadora do Ipea que conduziu o estudo, Maria Andréia Parente Lameiras, explicou que o peso maior da inflação nos últimos 12 meses para os ricos está relacionado a dois fatores: ao custo da alimentação, que teve queda em 2023, e aumento dos valores relacionados à saúde, transportes e cuidados pessoais.

Segundo o IBGE, ao final de 2023, o preço dos alimentos teve queda de 0,52% no país. Por outro lado, saúde, transportes e cuidados pessoais, que têm peso importante na cesta de consumo de quem tem mais poder aquisitivo, tiveram alta de quase 2%. Pelo estudo do Ipea são consideradas famílias de renda baixa quem tem no domicílio um rendimento menor de R$ 2,1 mil. Já para a renda alta, a valor estabelecido é de R$ 21 mil.

“As famílias têm cestas de consumo diferentes que vão depender da faixa de renda. Quando a família é de classe muito baixa, o orçamento é gasto basicamente com alimentos, despesas de habitação como energia e água e impacto do transporte público. Já na família de classe mais alta, a cesta de consumo é diferente. A parcela do orçamento que ela gasta com alimento é muito menor do que uma família de classe baixa gastaria. Os serviços pesam muito mais”, explicou a pesquisadora.

Maria Andréia Parente frisou, no entanto, que o movimento observado nos últimos 12 meses não deve ser observado até o final deste ano. “Como os alimentos estavam muito baixos em 2023, isso ainda está mantendo a inflação de 12 meses dos mais pobres abaixo da inflação dos mais ricos. Mas à medida que forem saindo os próximos índices, esses meses de 2023 vão saindo da conta e os que vão vir em 2024 já vão fazer com que essa inflação do segmento de renda mais baixa comece a acelerar de maneira que ela vai passar a inflação da classe de renda mais alta”, exemplificou.

Desaceleração 

O cenário descrito por Maria Andréia Parente já é visto em junho. Segundo a pesquisa do Ipea, a inflação desacelerou mais sobre as famílias mais ricas, em comparação com os mais pobres ao final do primeiro semestre. O segmento de renda alta teve queda mais significativa, que após um aumento de 0,46% em maio, registrou a inflação de 0,04% em junho. Já para as famílias de renda muito baixa, a desaceleração da inflação passou de 0,48% em abril para 0,29% em maio e junho.

O motivo, de acordo com a pesquisadora, foi a diminuição de 9,9% nos preços das passagens aéreas e 2,8% no transporte por aplicativo, que compensaram a alta de mais de 8% sobre os alimentos. “Na renda mais baixa, não há esse movimento porque a tarifa de passagem aérea, por exemplo, não está no orçamento das famílias. Mas quando olhamos para o outro extremo, isso tem um impacto importante”, destacou a pesquisadora.

Para o restante do ano, a aposta é de que os alimentos continuem subindo de preço, mas em escala menor que a observada até então. Por outro lado, os gastos em serviços pessoais também devem continuar sendo pressionados pela inflação. “Com isso esse diferencial da inflação entre a classe mais baixa e a classe mais alta, ele deve diminuir, mas é bem provável que no final de 2024 a gente ainda tenha a inflação do segmento de renda baixa um pouco acima da inflação do segmento de renda alta”, arrematou Maria.

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