Duas adolescentes e uma mulher morreram atropeladas em um período de três dias, da quarta-feira (17 de janeiro) à sexta (19 de janeiro), em Belo Horizonte. As perdas, além de causarem comoção, acenderam um alerta para o problema da segurança no trânsito na capital e em toda Minas Gerais. Segundo dados do Observatório da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), 15 pessoas são atropeladas por dia em todo o Estado. Em BH, a média é de três atropelamentos diários. De acordo com especialistas, a imprudência no trânsito, o abuso do uso de celular e o aumento do serviço de mototáxi tem provocado alta dos casos.
O levantamento da Sejusp indica que, há três anos, o número de atropelamentos em Minas Gerais vem crescendo em escalada. Em 2020, 4.709 pessoas foram atropeladas no Estado – 13 por dia. Já em 2023, foram 5.392 vítimas – 15 por dia, o que representa um aumento de 15%. O cenário se reflete na capital: de 2022 a 2023, o número de atropelamentos saltou de 1.039 a 1.252, um aumento de 21%. “Nós relacionamos esse número muito à imprudência, e tanto o lado do pedestre quanto do condutor tem sua responsabilidade. O pedestre que não procura atravessar no local adequado e seguro está colocando sua vida em risco”, alerta o tenente Henrique Barcellos, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, órgão que atende às ocorrências no trânsito.
Na sexta-feira (19 de janeiro), as adolescentes de 15 e 16 anos que perderam a vida em um atropelamento no Anel Rodoviário, na altura do bairro Dom Silvério, na região Noroeste de Belo Horizonte, estavam a cerca de 250 metros de uma passarela. Para o médico de tráfego e diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra, o pedestre precisa sempre agir ciente que o comportamento dos veículos pode surpreender. “O certo é que os condutores cuidem dos pedestres, mas nem sempre isso acontece. As pessoas precisam desconfiar, porque se o condutor estiver acima do limite de velocidade, estiver dividindo a atenção entre trânsito e celular, avançar o sinal, por exemplo, pode causar acidentes mais graves”, aconselha.
O especialista cita três inimigos da segurança no trânsito: a imprudência, a impaciência e a desatenção. “As mortes no trânsito são resultado, normalmente, dessas três coisas. Não atravessar na faixa, não esperar o sinal ficar livre, atravessar desatento, com fones, sem ouvir o barulho da rua, tudo isso é perigoso. Nós estamos observando essa manutenção da vulnerabilidade dos pedestres”, avalia.
Velhos e novos problemas no trânsito: celulares e mototáxis
O tenente Henrique Barcellos, do Corpo de Bombeiros, sinaliza dois fatores comuns em acidentes de trânsito com vítimas: o abuso do uso de celular, tanto por condutor quanto por pedestre, e o aumento da circulação de motocicletas. “Infelizmente, os atropelamentos continuam muito relacionados ao uso de celular. Para se ter ideia, nós fizemos um estudo que indicou que, em um veículo a 70 km/h, o que nem é uma velocidade tão alta, se o condutor usar o celular por 2 segundos e meio, ele perde 50 metros de informação. É um tempo mínimo, mas que é importante para desviar o veículo e evitar um atropelamento”, alerta.
Sobre as motocicletas, o tenente analisa um aumento dos veículos devido ao serviço de carona por aplicativo. Depois dos pedestres, os motociclistas são os mais vulneráveis no trânsito. “É interessante o quanto o número de motos tem crescido no tráfego da capital e em todo o Estado. Estamos atendendo muito mais casos de atropelamentos de ou por motocicletas. Eles carregam mochilas para entregas de lanches e se aventuram com o uso do celular”, diz.
De fato, segundo o especialista Alysson Coimbra, o problema é cada vez maior à medida que aumentam as distrações. “É a falta de atenção ao conduzir. O celular causa distração visual, ao invés de olhar para o trânsito, a pessoa está focada na tela. E não dirigir com as duas mãos no volante é um agravante. No caso dos motociclistas, isso é ainda mais decisivo. Como eles estão mais vulneráveis, se tiram uma mão do guidão para manipular o celular, já estão assumindo alto risco”.
Números
REGISTROS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO COM VÍTIMA – TIPO DE ACIDENTE ATROPELAMENTO DE PESSOA – MINAS GERAIS
2020: 4.709
2021: 4.901
2022: 5.294
2023: 5.392
Fonte: Observatório de Segurança Pública/Reds/Sejusp MG
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