Pressionada por alimentos e passagens aéreas, a inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acelerou a 0,28% em novembro, após marcar 0,24% em outubro.
Apesar de ganhar força, a taxa de 0,28% é a menor para o penúltimo mês do ano desde 2018, quando o IPCA teve queda (deflação) de 0,21%, apontam dados divulgados nesta terça-feira (12) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O novo resultado ficou levemente abaixo da mediana das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,29% em novembro.
No acumulado em 12 meses, o IPCA desacelerou a 4,68%, abaixo do teto da meta de inflação para o ano de 2023 (4,75%). Nesse recorte, a alta dos preços era de 4,82% até outubro.
Analistas interpretaram o resultado de novembro como favorável, por indicar, entre outras questões, que o processo de perda de ritmo da inflação segue em curso no acumulado de 12 meses.
“Quando observamos a composição do IPCA, a pressão altista veio de itens mais voláteis como alimentos e passagem área, enquanto as medidas mais importantes como a média dos núcleos, serviços subjacentes e bens industriais seguem em trajetória baixista”, disse Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do banco Inter, afirmou que a taxa mensal de 0,28% é “uma variação baixa até para a sazonalidade do fim de ano”. Na visão dela, o resultado mostra que a inflação “segue comportada no curto prazo”.
ALIMENTOS MAIS CAROS COM CALOR E CHUVAS
De acordo com o IBGE, os preços de 6 dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados subiram em novembro. A maior variação (0,63%) e o principal impacto no IPCA (0,13 ponto percentual) vieram de alimentação e bebidas. O segmento acelerou ante outubro (0,31%).
Em novembro, parte do país, incluindo o Sudeste, passou por onda de calor, enquanto o Sul voltou a registrar fortes chuvas. Conforme o IBGE, os fenômenos extremos pressionaram os preços de alimentos diversos, que costumam subir na reta final do ano.
André Almeida, gerente da pesquisa do IPCA, disse que as temperaturas elevadas e o maior volume de chuvas influenciam a colheita de alimentos, principalmente dos mais sensíveis ao clima, como é o caso dos tubérculos, dos legumes e das hortaliças.
A variação de 0,63% é a maior para alimentação e bebidas, considerando os meses de novembro, desde 2020 (2,54%).
“Historicamente, a gente observa alta nos preços dos alimentos mais para o final do ano. Agora, no mês de novembro, a gente teve ondas de calor e volume de chuvas bem intensas em regiões produtoras. Esses fatores contribuíram para a alta dos preços nesses produtos”, afirmou Almeida.
A alimentação no domicílio, que integra o cálculo de alimentação e bebidas, subiu 0,75% em novembro. Houve impacto da carestia da cebola (26,59%), da batata-inglesa (8,83%), do arroz (3,63%) e das carnes (1,37%). Do lado das quedas, os destaques foram o tomate (-6,69%), a cenoura (-5,66%) e o leite longa vida (-0,58%).
No caso do tomate, Almeida disse que o calor acelera a maturação. Isso teria forçado os produtores a disponibilizarem uma oferta maior no mercado, aliviando os preços finais para o consumidor.
A alimentação fora do domicílio (0,32%), por sua vez, desacelerou em relação a outubro (0,42%). A alta da refeição (0,34%) foi menos intensa do que em outubro (0,48%). Já o subitem lanche (0,20%) registrou variação próxima à do mês anterior (0,19%).
PRESSÃO DA PASSAGEM AÉREA
O IPCA também foi pressionado pelos grupos habitação (0,48%) e transportes (0,27%) no mês passado. Os segmentos contribuíram com 0,07 ponto percentual e 0,06 ponto percentual, respectivamente.
Em habitação, houve influência dos reajustes aplicados por concessionárias de serviços públicos, disse o IBGE. A energia elétrica residencial fechou o mês com avanço de 1,07%.
No grupo dos transportes, a alta foi puxada pela passagem aérea, que subiu 19,12%. O bilhete foi o subitem com a maior contribuição individual no IPCA de novembro (0,14 ponto percentual).
Almeida lembrou que a passagem costuma ser pressionada pela demanda por viagens na reta final do ano. Segundo o pesquisador, um movimento semelhante ocorreu com os preços de subitens como transporte por aplicativo (3,42%), hospedagem (2,17%) e pacote turístico (2,09%), que também ficaram mais caros em novembro.
O mês passado teve o registro de feriados. Esses períodos costumam estimular a procura por serviços turísticos, com possíveis repasses para os preços.
ALÍVIO DA GASOLINA E DA BLACK FRIDAY
No grupo dos transportes, a gasolina caiu 1,69%, causando um impacto de -0,09 ponto percentual no IPCA de novembro. Foi a maior contribuição de um subitem pelo lado das quedas.
Em outras palavras, o combustível foi, individualmente, o principal componente a frear a inflação. Segundo Almeida, a gasolina pode ter sido influenciada pela redução dos preços nas refinarias da Petrobras na segunda metade de outubro.
Outro fator que ajudou a conter o IPCA, apontou o pesquisador, foi a Black Friday. Os descontos teriam reduzido os preços de bens diversos, incluindo vestuário, eletrônicos e produtos de higiene pessoal.
O aparelho telefônico caiu 2,68%, o perfume baixou 2,49%, e o computador pessoal recuou 2,22%. “A gente observou promoções antes da Black Friday, na própria Black Friday e até depois”, disse Almeida.
IPCA, META DE INFLAÇÃO E JUROS
O IPCA serve como referência para o regime de metas de inflação do BC (Banco Central). No acumulado de 2023, o centro da medida perseguida pela autoridade monetária é de 3,25%.
A tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%). Ou seja, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro desse intervalo até dezembro.
Na mediana, analistas do mercado financeiro projetam variação de 4,51% no acumulado de 2023, abaixo do teto da meta (4,75%). É o que indica a edição mais recente do boletim Focus, publicada na segunda (11) pelo BC.
Os dados do IPCA divulgados nesta terça reforçaram as projeções de IPCA dentro da meta neste ano. A Guide Investimentos, por exemplo, reduziu sua previsão para o índice acumulado em 2023 a 4,54% a estimativa anterior era de 4,66%. Para o dado mensal de dezembro, a expectativa da casa é de variação de 0,49%.
Nesta terça, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) inicia a última reunião deste ano para definir o patamar da taxa básica de juros (Selic), o principal instrumento de controle da inflação. O encontro será retomado nesta quarta (13), quando a decisão do colegiado será conhecida.
Com a trégua do IPCA no acumulado dos últimos meses, analistas esperam que o Copom dê continuidade ao ciclo de cortes da taxa de juros. A expectativa é de uma nova redução de 0,5 ponto percentual, que levaria a Selic a 11,75% ao ano.
De acordo com Rafaela Vitoria, do banco Inter, com o alívio da inflação maior que o esperado no curto prazo, a taxa de juros ficou em patamar “ainda mais restritivo”, e até haveria espaço para cortes maiores.
(Leonardo Vieceli / Folhapress)