O Dia da Visibilidade Lésbica é celebrado nesta terça-feira (29) e é um lembrete anual sobre as violências, mas também do orgulho e das vitórias desse grupo que está na primeira letra da sigla LGBTQIAPN+.
A escolha da data é uma referência ao 1º Seminário Nacional de Lésbicas, realizado no Rio de Janeiro em 29 de agosto de 1996. É diferente do Dia do Orgulho Lésbico, comemorado em 19 de agosto em memória de uma grande manifestação de mulheres que ocorreu em 1983, em São Paulo, para protestar contra a censura de um bar à divulgação de conteúdos sobre lésbicas.
A adoção do termo “visibilidade” é estratégica, explica a professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Joana Ziller, coordenadora do Grupo de Estudos em Lesbianidades (GEL). “Temos uma invisibilidade dupla: pela homossexualidade e pela questão de sermos mulheres, que são menos visíveis na sociedade do que os homens”, pontua. “Temos invisibilidades mais atuantes. Lésbicas negras são menos visíveis que as brancas, as mais velhas menos que as jovens, as com deficiência menos que as sem”
Perceber essa invisibilização é um exercício simples, continua a pesquisadora: “Quantas personagens das séries a que você assiste são lésbicas? Elas são personagens centrais? Têm relacionamentos tão ou mais bem-sucedidos do que o de casais heterossexuais? Quantas mulheres você conhece e são abertamente lésbicas? Quantas de nossas representantes são?”.
A falta de referências, argumenta ela, dificulta que as mulheres se sintam à vontade em expor sua sexualidade e também tem consequências mais práticas — na saúde, por exemplo “A saúde das mulheres lésbicas ainda é pouco conhecida ou tratada nos consultórios. Ainda há equívocos muito grandes quando chegamos ao consultório médico. Há uma série de médicos que acham que lésbicas não precisam fazer exames preventivos, e não há recursos o bastante para a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (IST) entre mulheres lésbicas”, exemplifica.
A violência contra elas também tem particularidades, sob o peso combinado do machismo e da LGBTfobia. Ziller destaca o caso da ameaça a vereadoras belo-horizontinas que prometeu um “estupro corretivo” contra elas. O termo descreve um estupro para “corrigir” a sexualidade de mulheres. “São violências muito específicas que chegam às mulheres ‘dissidentes’, as lésbicas, bissexuais, não-binárias. Ninguém ameaça um vereador homem de estupro”, sublinha a professora.
Ainda que aos poucos, o protagonismo das mulheres lésbicas tem aumentado, avalia Ziller. Ele está no centro do carnaval belo-horizontino, por exemplo, com o Truck do Desejo, que se descreve como um “bloco de mulheres lésbicas e bissexuais, não-bináries e sapatrans de BH” e arrastou multidões no Barro Preto, na região Centro-Sul, em 2023.
“Eu acho que nós, mulheres lésbicas, precisamos entender que não há nada de errado conosco. Há questões em relação à sociedade e a como ela se estrutura. Mas, conosco, não há nada de errado”, conclui Ziller.
De onde vem o termo “lésbica”?
A origem do termo vem, de certo modo, da poesia. Ele é uma referência à ilha grega Lesbos, onde nasceu, nos anos 600 a.C. a poetisa Safo, a primeira de que se tem registro de ter escrito sobre o amor entre mulheres. Do nome da ilha, surgiu o termo “lésbica”.
Na sigla LGBTQIAPN+, o grupo ganhou destaque nos anos 2000. No Brasil, em 2008, a 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais decidiu oficializar que o “L” passaria na frente do “G” como forma de sublinhar a luta das mulheres.
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