DECEMBER 9, 2022

O LEGADO DE ROBERTO AMARAL

Da paixão pelo esporte à transformação do Norte de Minas: conheça a jornada de Roberto Amaral, um líder visionário e inspirador que deixou um legado de prosperidade

Foto realizada na inauguração do Bico da Pedra. Ao lado de Roberto, o então presidente da Codevasf, Nilo Peçanha Siqueira. Foto: Divulgação

Por: Jorge Silveira

Eu conheci Roberto Amaral no início da década de 1960, quando me iniciava no jornalismo e era repórter esportivo do Diário de Montes Claros. A seleção mineira de basquete se preparava para disputar o campeonato brasileiro e veio a Montes Claros para um jogo-treino contra o time montes clarense, que na época tinha uma equipe muito forte, da qual Tutica, irmão de Roberto, era o grande astro. Para reforçar o time da  cidade, trouxeram Roberto de fora, pois ele estudava agronomia em Viçosa. Era um excelente jogador, na minha opinião até melhor que Tutica. No time montes-clarense jogavam também, entre outros, Lúcio Amaral, outro irmão de Roberto, Daço Cabeludo, Augusto Vieira, o Augustão Bala Doce, João Galo e Zim Bolão, dos que me lembro. Nesta época, a Praça de Esportes era o ponto de encontro dos jovens da cidade e formadora de grandes atletas. Diógenes e João Galo foram campeões mineiros de natação.

Mas Roberto Amaral não era muito bom apenas no basquete. Era também muito bom no futebol. Lembro-me bem de um jogo entre a seleção da cidade, contra os profissionais montes-clarenses que atuavam em grandes equipes de Rio e São Paulo, e que Roberto formava a zaga com Didi, num time que tinha também Denner, Mauro de Gonha, Lado, Nilson Espoletão, entre outros.

Deixando de lado o esporte, que me apresentou Roberto Amaral como grande atleta, me aproximei muito dele já na década de 1970, quando ingressei no Lions Tropeiro, do qual Roberto era membro. Por sinal, o Lions Tropeiro era formado por um seleto grupo de casais de muita predominância na sociedade local, como João Valle Maurício, Américo Martins Filho, Ubaldino Assis, José Nunes Mourão, Abel Machado de Miranda, Luiz Antônio Medeiros, Ciríaco Serpa de Menezes, Reinine Canela, Nathan Freitas, Marc Ollifson, Rômulo Labate, entre outros. E Roberto e Neide lá estavam e fomos companheiros leôes por vários anos. Roberto teve uma grande gestão quando presidente do Lions Tropeiro, já demonstrando sua competência como gestor.

Em 1977, pouco tempo depois de criada a Codevasf em Montes Claros, em pleno regime militar, Roberto foi nomeado diretor regional da empresa, por indicação do então deputado federal Humberto Souto, hoje nosso excepcional prefeito. Roberto era funcionário do DNOCS e gerente do ainda insipiente perímetro de irrigação do Gorutuba. Veio para a Codevasf sabendo muito bem que a irrigação no Gorutuba só teria futuro com a construção da barragem do Bico da Pedra, um sonho de muitos anos mas que não se concretizava por falta de recursos. Esta, então, seria sua primeira meta como diretor da Codevasf em Minas Gerais. Sensibilizou o deputado Humberto Souto e este, se aproveitando da vinda do ministro Rangel Reis a Montes Claros para ver a seca na região, apresentou a construção da barragem do Bico da Pedra como a principal reivindicação do norte de Minas em sua batalha contra a seca. O ministro assinou na hora, num encontro com lideranças regionais no Automóvel Clube, a autorização para o início imediato da obra através da Codevasf. Aí, a partir do dia seguinte, começou uma correria para adequar o projeto e deixá-lo em condições de ser licitado. Mal havia chegado à Codevasf e Roberto já mostrou a que viera: em seis meses o projeto estava pronto e a licitação da obra na praça. A empreiteira Andrade Gutierrez venceu a licitação e no meiado de 1978 , portanto um ano depois de Roberto ter assumido, a barragem começou a ser construída. Em 1982 foi inaugurada, com uma bacia de acumulação de 750 milhões de metros cúbicos de água, permitindo a irrigação de 6 mil hectares. Hoje, o Projeto Gorutuba é um dos maiores produtores de frutas do Estado.

Este foi apenas o início de uma gestão simplesmente avassaladora de Roberto à frente da Codevasf. Eu costumava dizer que ele era um trator sem freio. Não parava nunca. Era o primeiro a chegar à Codevasf e o último a sair. Exigente e perfeccionista, cobrava de seus auxiliares o tempo todo, como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Formou uma equipe de altíssimo nível, admirada por Brasília e pelas outras diretorias regionais.

E deste trabalho incessante, os frutos foram nascendo: projetos de irrigação de Pirapora, de Lagoa Grande, e o maior de todos, o do Jaíba. Barragens de médio porte em Francisco Sá, Porteirinha, Itacarambi, Brasília de Minas, Monte Azul. Milhares de poços tubulares espalhados por todo o norte de Minas. Piscicultura e bovinocultura para ajudar pequenos produtores. Era uma máquina azeitada que funcionava como um relógio suiço e que não parava nunca. Foram 13 anos como diretor regional em que Roberto mudou em muito o aspecto árido da região, elevando o nome da Codevasf como o principal agente do desenvolvimento regional.

Roberto Amaral morreu na semana passada. Será que morreu? Os grandes homens não morrem, pois seu trabalho e sua obra gravam seus nomes para a posteridade. Roberto continuará vivo em cada canto da região onde seu trabalho, sua força de vontade e sua competência deixaram uma obra capaz de melhorar e dar dignidade às pessoas sofridas do norte de Minas!

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