O Dia Nacional da Imunização, nesta sexta-feira (09), chega sem celebração para especialistas da área. Desde 2016, o Brasil vive uma trajetória de queda da cobertura vacinal da maior parte das vacinas de rotina. Minas Gerais não fica atrás e, em 2022, cumpriu a cobertura desejada de somente um de 18 imunizantes de rotina. Em 2023, pelo menos até agora, nenhuma meta foi atingida.
Para a maioria das vacinas, a cobertura desejada é de 95% — a exceção é a BCG, cuja cobertura de 90% é considerada satisfatória, segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Em 2022, as maiores coberturas em Minas foram a da BCG (95,64%) e de hepatite B para crianças de até 30 dias (90,85%). Por outro lado, houve coberturas tão baixas quanto a da dTpa para gestantes (51,67%), que previne difteria, tétano e coqueluche, e da seghunda dose (D2) da tríplice viral (68,27%), contra sarampo, caxumba e rubéola. Confira a cobertura de vacinas em Minas em 2022 e os níveis até o início de junho em 2023, com dados do Ministério da Saúde compilados pela SBIm:
Cobertura vacinal em Minas (2022)
BCG 95,64
Hepatite B em crianças até 30 dias 90,85
Rotavírus Humano 83,05
Meningococo C no primeiro ano de vida 83,04
Hepatite B 82,87
Penta 82,87
Pneumocócica 85,73
Poliomielite 82,94
Poliomielite 4 anos 78,08
Febre Amarela 75,06
Hepatite A 82,18
Pneumocócica (1º reforço) 77,02
Meningococo C (1º reforço) 80,18
Poliomielite (1º reforço) 76,97
Tríplice Viral D1 87,11
Tríplice Viral D2 68,27
Tríplice Bacteriana (DTP) (1º reforço) 76,74
dTpa gestante 51,67
Cobertura vacinal em Minas (2023, até junho)
BCG 57,6
Hepatite B em crianças até 30 dias 57,83
Rotavírus Humano 45,47
Meningococo C 44,16
Hepatite B 47,34
Penta 47,34
Pneumocócica 46,24
Poliomielite 47,45
Poliomielite 4 anos 38,72
Febre Amarela 49,05
Hepatite A 46,58
Pneumocócica (1º reforço) 46,44
Meningococo C (1º reforço) 42,51
Poliomielite (1º reforço) 43,49
Tríplice Viral D1 48,71
Tríplice Viral D2 37,93
Tríplice Bacteriana (DTP) (1º reforço) 43,37
dTpa gestante 32,51
O secretário estadual da Saúde, Fábio Baccheretti, avalia que há chance de aumentar a cobertura vacinal em 2023. “Muitas pessoas perderam a confiança na vacina exatamente pela desinformação. Ainda é cedo para dizer como será a conclusão do ano,mas vamos buscar que essa meta seja atingida, ela é possível. Isso depende muito da sensibilização e as nossas ações são para que isso aconteça. São ações como busca ativa de cada um que não tomou sua vacina, especialmente as crianças, sensibilização em escolas, comunicação e combate à desinformação. Também temos investimentos como o Vacimóvel para conseguir fortalecer essa vacinação em formatos diferentes”, elenca.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) salienta, ainda, que o fluxo de vacinação depende da disponibilidade de doses e da estratégia definida por cada município.
Os motivos para a queda da vacinação no Brasil, país que já foi um case de sucesso mundial, são diversos. A SBIm lista, por exemplo, a dificuldade de acesso em partes do país, deficiência de campanhas de comunicação adequadas, falta de orientação dos profissionais da saúde aos pacientes e, especialmente, perda da percepção do risco das doenças. Especialistas apontam que é o caso da vacinação contra a pólio, por exemplo, já que, graças à vacinação em massa nas últimas décadas, a doença deixou de circular e fazer vítimas no país. Agora, o Brasil está no mapa de locais onde há risco de retorno da doença, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Desinformação é motor de queda da cobertura vacinal
A preocupação com as fake news sobre as vacinas se tornou urgente durante a pandemia de Covid-19, que matou cerca de 703 mil brasileiros. Mas as notícias falsas sobre imunizantes perduram há décadas e prejudicam a cobertura contra muitas outras doenças. Um caso simbólico é o da vacina contra o HPV no Acre, que gerou desespero entre famílias e profissionais da saúde na última década porque meninas estavam desmaiando e tendo convulsões, o que vinha sendo atribuído por elas à vacinação. Um estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP), a pedido do Ministério da Saúde, comprovou que o quadro era devido ao estresse por se vacinar, sem qualquer relação com a vacina em si.
O vice-presidente da SBIm, Renato Kfouri, não culpa a população por acreditar nas fake news. “É importante destacar que, historicamente, a origem desses boatos está ligada a grupos com interesses econômicos, ideológicos ou políticos no descrédito dos imunizantes. É perfeitamente compreensível que uma pessoa que não conheça o tema fique com medo ao se deparar com conteúdo criado para causar pânico e decida alertar os seus familiares e amigos. Para o benefício de poucos, todos pagam”, pondera.
Contra a desinformação, especialistas estimulam campanhas de comunicação mais incisivas do poder público, inclusive nas redes sociais. “É fundamental estabelecer uma relação da proximidade, para a comunicação não ser de mão única. Precisamos dialogar com a população, poder público, instituições, organizações sociais e lideranças comunitárias para traçar as melhores estratégias para cada localidade”, sublinha a presidente da SBIm, Mônica Levi. O site da sociedade tem uma página com o calendário de vacinação para cada faixa etária e indica quando cada imunizante é necessário.
Com Patrícia Pasquini/Folhapress
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