DECEMBER 9, 2022


Cerca de 3% dos brasileiros ainda guardam dinheiro ‘debaixo do colchão’; prática desvaloriza moeda

Parcela da população vê bancos e investimentos com desconfiança e prefere manter o dinheiro vivo dentro de casa, segundo pesquisa da Anbima.

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Cerca de 3% dos brasileiros deixam dinheiro guardado em casa ou embaixo do colchão Foto: Getty Images

Cerca de 3% da população brasileira mantém o dinheiro que sobra guardado em casa ou debaixo do colchão, pela desconfiança com bancos e investimentos. É o que mostra a pesquisa Raio X do Investidor, da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Com isso, o número de brasileiros que ainda mantêm dinheiro vivo guardado em casa pode chegar a 6,4 milhões. A porcentagem aumentou entre 2021 e 2022: era 2% no ano anterior. A população da classe C é a que mais adota a prática 4% (2% em 2021); seguida pelas classes A, com 3% (2% em 2021) e D/E, com 2% (1% em 2021).

As alterações entre as duas edições da pesquisa estão dentro da margem de erro. Os dados foram colhidos entre 9 e 29 de novembro de 2022, por meio de entrevistas com 5.818 indivíduos, das classes A/B, C, D/E, de 16 anos ou mais, das cinco regiões do País.

Marcelo Billi, superintendente de educação da Anbima, diz que o processo de bancarização no Brasil e de inserção dos brasileiros no mercado financeiro cresceu nos últimos anos e chegou a ter uma acelerada por conta do pagamento do Auxílio Emergencial durante a pandemia, mas que uma parcela da população ainda tem dificuldade de interagir com as instituições financeiras e entender suas utilidades.

“As pessoas, principalmente das classes C e D/E, ainda têm um receio de utilizar os serviços bancários, mesmo quando eles poderiam fazer sentido. É um desafio de política pública de como quebrar essa barreira de uma parcela da população que pode estar desassistida”, aponta.

Billi diz, ainda, que essa parcela pode sentir “como se não fizesse parte desse universo” e não consegue entender bem os serviços de investimento e a questão da rentabilidade, por exemplo. “É [um número] pequeno, mas é algo que a gente não pode ignorar”, pontua.

A tendência, porém, é outra. Billi avalia que, nos próximos anos, é provável que vejamos a digitalização de todos os serviços bancários e financeiros, promovendo a bancarização desta parcela da população que ainda mantém dinheiro guardado em casa.

Isso deve ser impulsionado principalmente pela digitalização de benefícios sociais e serviços do governo federal e, também, com o barateamento de smartphones, ampliando o acesso aos telefones pelas classes sociais mais baixas. “À medida que essas coisas sejam cada vez mais popularizadas, a tendência natural é que as pessoas se familiarizem e percam o receio”.

Valor do dinheiro no colchão se perde

Mesmo que o dinheiro guardado “não se perca” dentro de casa, o brasileiro ainda assim vê o valor da moeda cair a cada dia que passa. Na prática, com a inflação, R$ 10 hoje não compra as mesmas coisas que comprou no mês passado. 

Em abril de 2020, a cesta básica em São Paulo custava em média R$ 556,25. A mesma cesta de alimentos custou, em abril deste mês, R$ 794,68 em média. O aumento foi de 42% em três anos.

Os dados são da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a variação média da inflação no Brasil, foi de 24,33% no mesmo período. Ou seja, R$ 10 em abril de 2020 valem cerca de R$ 12,43 hoje.

Parece pouco, mas a perda é acumulativa mês a mês se comparado com o rendimento de uma poupança, por exemplo.

Poupança é o investimento mais popular

A cardeneta de poupança segue sendo o investimento mais popular entre os brasileiros, mesmo que esteja presente na vida de apenas um quarto de toda a população. Subiu de 23% em 2021 para 26% no ano passado. As mudanças mais expressivas foram nas classes C, que passou de 23% para 27%; e D/E, de 14% para 17%.

A poupança é uma forma de investimento de baixíssimo risco, cuja operação é regida por regras específicas estabelecidas pelo governo federal para depósitos de poupança. Embora seja a mais popular, é, também, uma das alternativas menos rentáveis para aplicar dinheiro.

Billi comenta que a popularidade se deve principalmente à confiança dada pelas pessoas. “As pessoas veem algo muito concreto na poupança, nossas pesquisas mostram isso”, aponta. Ele diz que a tendência é que a cardeneta continue fazendo sucesso entre os brasileiros, mas é possível que uma carteira de investimentos também comece a fazer parte do cotidiano do brasileiro quando a taxa Selic voltar a cair.

Modelos de investimentos preferidos dos brasileiros

Caderneta de poupança: 26% (23% em 2021);

Fundos de investimento: 4% (3%);

Títulos privados: 4% (2%);

Compra e venda de imóveis: 4% (2%);

Moedas digitais: 3% (2%);

Em casa/no colchão: 3% (2%);

Ações na bolsa de valores: 2% (2%);

Previdência privada: 2% (1%);

Títulos públicos via Tesouro Direto: 1% (2%);

Moedas estrangeiras: 1% (1%);

Não conhece/não utiliza: 58% (66%).

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