Repórter Larissa Durães
Na semana que comemora a abolição da escravatura no Brasil, em uma roda de conversa promovido pela Rede Sesc de Leituras de Montes Claros, o tema “Poesia e Negritude” foi discutido com a poetisa Elisa Pereira, do Rio de Janeiro. Na Roda de conversa do Circuito Arte da Palavra, a apresentação ficou com a gestora ambiental, educadora e escritora premiada. O evento visa estimular a formação de leitores e a divulgação de novos autores, além de valorizar obras e escritores brasileiros e as novas formas de produção e fruição literária.
O evento contou também com a presença da mediadora Andréa Pereira, professora e jornalista, além de estudantes, acadêmicos, pesquisadores, professores, educadores, militantes, amantes da literatura e da poesia e de todas as pessoas que se interessam pela temática da negritude e compreendem importância de ouvir e ler mulheres pretas.
Noite de muita poesia. Poesia de mulheres pretas
A convidada do evento, Arte da Palavra, Elisa Pereira é idealizadora, produtora e curadora do projeto Fuzuê Literário e possui publicações de seus textos em diversas coletâneas e revistas literárias nacionais e internacionais. Ela é autora de três livros publicados:
“Memórias da Pele” (2018), é o livro de estreia da Elisa, onde ela fala mais das questões raciais. “Na verdade, falo das questões existenciais, das desigualdades sociais do nosso Brasil e inevitavelmente, falo claro da questão do racismo”, explica.
“Sem Fantasia” (2020) é um livro de contos onde a autora faz um resgate das suas memórias de infância. “Eu vivia em uma periferia de Belo Horizonte. E lá tem muita história nessa periferia. Então, eu resgato as minhas memórias e tem umas coisas bem doloridas, coisas muito fortes. E brinco um pouco com a ficção, no sentido em que invento algumas coisas, aumento e diminuo outras”, conta.
“Miolo” (2022) é um retorno para a poesia, em que Elisa, costuma dizer que é uma alta declaração de amor para si mesma. “É onde eu faço as pazes com a minha infância”, ressalta.
A invisibilidade preta
Neste evento, foi discutido a questão da invisibilidade imposta aos pretos. Entretanto, a escritora declara “que é um processo de desconstrução das pessoas brancas e também das pessoas pretas. No sentido de perceber que eu como pessoa preta, não tenho que ficar neste lugar que me foi imposto. Eu, como pessoa preta posso sair deste lugar, mas isso é um processo”.
Os trabalhos e as conquistas revelam a potência da escrita de mulheres pretas da contemporaneidade. Contudo, a própria escritora afirma que a literatura afro-brasileira ainda está na invisibilidade. “Porque é consequência do racismo, não tem como separar uma coisa da outra. Tem a ver com toda a estrutura que tem sido discutido nos últimos tempos, toda essa estrutura que está posta do racismo. Então a gente ainda está desconstruindo essa ideia de que o preto não tem nada para falar. Que o preto não sabe o que está falando. De onde o preto tirou este conhecimento. Bem, ainda estamos nesse lugar. É simplesmente consequência do racismo, porque conhecimento tem sido produzido, pessoas pretas têm escrito, temos muitas escritoras pretas, muitos escritores pretos, mas é muito difícil esse lugar da visibilidade”, relata.
O racismo brasileiro
“Eu tenho certeza que o Brasil é um país racista”, afirma Elisa. Para ela, o país ainda está caminhando a passos muito lentos nesse processo de desconstrução. “E acho que um grande passo seria aceitar essa realidade. Então tá, descobrimos que somos racistas, então agora precisamos trabalhar para mudar. Porque enquanto a gente negar que somos racistas, que foi o que aconteceu por muitos anos, inclusive por nós pretos. Enquanto a gente negar este fato, vamos ficar pedalando sem sair do lugar”, acredita.
“Vencer diariamente a batalha contra a descrença e a falta de esperança na humanidade. Descobrir que é possível fazer diferença com pequenos gestos que apesar de todas as tragédias e retrocessos, e injustiças há muitas sementes lançadas no solo, há flores desabrochando, há seres que na impossibilidade de transformar o mundo, transformam a si mesmas”, (PEREIRA, Elisa. Miolo, p. 62, São Paulo: Patuá, 2022.).
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