DECEMBER 9, 2022

Melancia amarela e cenoura branca: como humanidade modificou vegetais ao longo dos séculos

Nos últimos dez mil anos, o ser humano desenvolveu uma série de técnicas para modificar os vegetais que comemos.

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A cenoura laranja só surgiu no século 16 — antes, ela era branca ou roxa. O “antepassado” do milho era dez vezes menor do que uma espiga produzida hoje. A melancia “ancestral” tinha uma polpa amarela, e as primeiras versões vermelhas só apareceram por volta do ano 1300.

Desde o advento da agricultura, há cerca de 10 mil anos, a humanidade modificou e adaptou praticamente todas as frutas e hortaliças que consumimos até hoje. E isso, por sua vez, mudou o conteúdo nutricional delas — em alguns casos para melhor e, em outros, para pior.

O objetivo desse verdadeiro experimento da vida real sempre foi a criação de alimentos mais gostosos, bonitos ou com capacidade de resistir às pragas e às adversidades do clima de cada local. E, a partir disso, garantir o aporte de carboidratos, proteínas, vitaminas e outras substâncias essenciais à nossa sobrevivência.

Mas como essa verdadeira engenharia era (e é) feita na prática? E como isso modificou a composição de nutrientes de tantas comidas? Entenda a seguir como as técnicas agronômicas evoluíram — e quais são os desafios na produção de alimentos nos dias de hoje e no futuro.

Nos primórdios, a observação dos animais

Há milhares de anos, nossos antepassados eram nômades e dependiam da caça e da coleta para sobreviver.

Isso significa que eles não ficavam num único lugar e se moviam para uma outra região quando os recursos se tornavam escassos.

Mas como eles sabiam quais plantas poderiam ser consumidas — e quais eram venenosas ou faziam mal?

“Eles se baseavam na observação dos animais. Se os seres humanos vissem que determinada espécie comia uma fruta, uma raiz ou uma folha e não morria, isso era um indicativo de consumo seguro”, responde a engenheira agrônoma Rumy Goto, professora aposentada da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Botucatu.

E esse conhecimento prévio foi extremamente valioso para o desenvolvimento da agricultura. Vários grupos foram aprendendo aos poucos, ao longo de milhares de anos, os ciclos de determinada espécie vegetal na natureza, e como seria possível cultivá-la numa escala maior para a geração de alimentos a toda uma comunidade.

Não à toa, o advento da agricultura há cerca de 10 mil anos é considerado uma revolução: a criação das técnicas de plantio, cultivo e colheita de grãos, frutos e hortaliças representou um controle maior sobre os recursos e os nutrientes necessários para a sobrevivência. Daí, com mais certeza de que teriam alimentos suficientes, nossos antepassados não precisaram mais se deslocar e puderam fixar residência num local estratégico (com acesso à água e terras férteis, por exemplo).

“Os seres humanos foram aprendendo a diferença entre os vegetais e as formas de cultivá-los. Algumas plantas dependiam de sementes para nascer, outras podiam ser multiplicadas por meio de brotos e estacas. Assim, surgiram as primeiras comunidades e as hortas ao redor delas”, resume Goto.

E, já na origem desses povoados primitivos, é possível detectar as primeiras modificações nos alimentos. Afinal, as pessoas já foram naturalmente selecionando aquelas variedades que traziam algum tipo de vantagem — seja na hora de cultivar e colher, ou no momento de preparar e consumir.

Vamos a um exemplo: o milho é originário do México Central. Há cerca de 7 mil anos, ele era apenas uma gramínea selvagem, chamada teosinto.

Na natureza, o teosinto chega no máximo a 2 centímetros. Já o milho que temos hoje tem cerca de 20 centímetros, um tamanho dez vezes maior — e isso sem falar na facilidade de cozimento e no sabor.

Nessa transição, ele também se tornou uma grande fonte de carboidratos, que são essenciais para dar energia para o corpo funcionar bem.

E isso tudo só foi possível graças ao trabalho de cultivo, cruzamento e seleção de espécies com características desejáveis ao longo de gerações.

Ou seja, aos poucos, os agricultores do passado deram preferência às plantas de milho que nasciam com algum atributo interessante — como espigas maiores, mais saborosas ou que cresciam com rapidez. Essas variedades eram cruzadas com as outras, ou plantadas na safra da próxima temporada.

O milho, portanto, evoluiu ao longo de milhares de anos e chegou nas formas e nas variedades que conhecemos hoje. O mesmo aconteceu com diversos outros ingredientes do mundo vegetal, como você verá a seguir.

via: uol

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