DECEMBER 9, 2022


Morre o Papa emérito Bento XVI, aos 95 anos

Religioso vivia em monastério desde que deixou o comando da Santa Sé em 2013; conservador, foi ofuscado por escândalos de corrupção e abuso sexual na Igreja

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Morre o Papa Emérito Bento XVI. Foto: Vatican Media

Morreu, neste sábado, 31 de dezembro, Bento 16, o papa emérito que liderou a Igreja Católica por oito anos. Ele tinha 95 anos.

“É com pesar que informamos que o papa emérito morreu hoje às 9h34 (horário local) no monastério Mater Ecclesiae”, informou o Vaticano.

Nos últimos dias, o Papa Francisco pediu orações ao seu antecessor, que já apresentava fragilidade na saúde.

“Uma oração especial pelo Papa emérito Bento 16, que no silêncio está sustentando a Igreja. Recordemos, ele está muito doente, pedindo ao Senhor que o console e o sustente neste testemunho de amor à Igreja até o fim”, afirmou, durante audiência Papal no Vaticano, no dia 28 de dezembro.

A VIDA DO PAPA EMÉRITO

O Papa Bento XVI nasceu na Alemanha e ocupou o cardo entre 2005 e 2013. Foi uma das figuras mais polêmicas e misteriosas da Igreja Católica, principalmente por ter abdicado do cargo, algo inusitado na função maior da religião. Também foi um dos principais atacados pela mídia e se envolveu nas mais diversas polêmicas ao longo de seu papado.

Apesar de um defensor da fé católica, Bento XVI nunca deixou a ciência de lado. Pelo contrário, é um dos grandes estudiosos de nosso tempo. Ele tem dez Doutorados Honoris Causa em diferentes cantos do mundo, fala ao menos seis idiomas, inclusive o português, além de ler grego antigo e hebraico. Em 2014, a Pontifícia Academia das Ciências de Roma inaugurou um busto do emérito Papa em cerimônia presidida pelo Papa Francisco.

O 265º Papa da Igreja Católica (também chamado bispo de Roma), viveu seus últimos anos no Convento Mater Ecclesiae e passou a usar o título de Papa Emérito. O estado de saúde de Bento XVI já preocupa pessoas próximas desde 2020. Seu biógrafo chegou a afirmar que a voz dele já era quase inaudível e sua idade avançada preocupava.

Antes do Papa Emérico, a última abdicação de um papa da Igreja Católica aconteceu há mais de 500 anos. Em 1415 Gregórico XII deixou o cargo e, antes dele, Ponciano em 235 e Celestino V, no ano de 1294, de acordo com o jornal Italiano La Stampa.

POLÊMICAS

De acordo com o jornalista John L. Allen Jr., um dos temas que marcaram a passagem de Bento pelo posto foi o suposto encobertamente de casos de pedofilia de cardeais. Para ele e diversos historiadores e especialistas na igreja, o fato é contrário – Joseph Ratzinger (nome de batismo do papa emérito) foi uma das principais figuras no combate a violência sexual na Igreja, o que causou incômodo aos seus pares, exatamente por colocar luz aos fatos.

Em 2001, o Papa emérito convenceu o então ocupante do cargo, João Paulo II, a dar início às investigações e criar políticas dentro da Igreja para combater esse tipo de prática. O bispo Charles J. Scicluna afirmou que Ratzinger “demonstrou grande sabedoria e firmeza no tratamento desses casos” e afirmou que acusações sobre possível acobertamento são calúnias.

VIAGEM AO BRASIL

Em 2007, Bento XVI passou pelo Brasil. Ele esteve no país para dar início à Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, que aconteceu em maio daquele ano. A viagem também se deu para a canonização de Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro. A visita teve grande repercussão na mídia e levou uma multidão de fiéis à Basílica de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do país.

RENÚNCIA

É impossível dizer que a passagem do Papa Emérito pelo posto maior da Igreja foi fácil. Em 2013, ele anunciou sua renúncia e entregou o cargo em fevereiro. Ao longo do discurso, proferido no Vaticano, em Latim, Bento XVI fala de disposição física e espiritual para seguir no papado.

“No mundo de hoje”, disse, “sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida e para a fé, para governar a barca de Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário vigor, tanto do corpo como do espírito, vigor que, nos últimos meses, diminuiu de tal modo em mim que devo reconhecer a minha incapacidade de administrar bem o ministério a mim confiado. (…) Deverá ser convocado, por quem de direito, o Conclave para eleição do novo Sumo Pontífice”

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