DECEMBER 9, 2022

Mato Verde: o destino de quem aprecia a natureza, gosta de história e reconhece o valor da cultura e do povo norte-mineiro

Série Especial de Reportagens sobre Turismo e Empreendedorismo Rural em Mato Verde (MG)

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Conhecer novos lugares, novas culturas, novas histórias, novas pessoas, novos sabores. Viajar é pra quem gosta do inesperado, pra quem gosta do movimento, pra quem gosta de novas descobertas. Visitar a cidade de Mato Verde e região, no norte de Minas Gerais, é embarcar no passado, no presente e no futuro de um lugar que se reinventou por meio do seu potencial turístico. Nesta terceira e última reportagem da série “De Mato Verde para o mundo: o empreendedorismo rural que transforma”, confira histórias de quem já visitou a região e se apaixonou por seus encantos. Conheça também a dona do pirão mais famoso de Mato Verde. Depois da leitura, você terá ainda mais motivos para visitar o município e provar esse delicioso prato típico

O pirão de Loza ganhou ainda mais destaque com a visita dos participantes do roteiro turístico, motivo de alegria para a sertaneja que aproveita para vender outras iguarias
Foto: Solon Queiroz

Repórteres: Dihemeson Faria e Keisi Pinheiro
Edição: Andreia Pereira

Apesar de ser considerada uma cidade pequena, com uma área total de 472,2 km² e com seus quase 13 mil habitantes, Mato Verde tem uma lista extensa de lugares para conhecer e para turista nenhum ficar sem opções. A Praça Geraldo Clemente Alves, a Praça da Cachaça, a Praça Maria Pão, o Complexo Poliesportivo, o Ginásio Poliesportivo Prefeito Agripino Antunes Miranda, o Estádio Municipal Odilon Dias de Oliveira, o estabelecimento da Cachaça Artesanal Siderite, o Mercado Municipal, a Casa da Cultura e, claro, todas as cachoeiras da região são só alguns dos passeios que não podem faltar no roteiro de quem quer ser aventurar por Mato Verde. 

Cristiano Lorenzoni Cazarotto, 45 anos, Sandra Doyama, 50 anos, e a cachorrinha Mel se encantaram por todas as opções turísticas que Mato Verde oferece e estacionaram na cidade em novembro de 2021. Tendo como meio de transporte uma Kombi, só no Norte de Minas, a família já percorreu cerca de 30 cidades. Na estrada desde 2018, eles são nômades digitais, ou seja, trabalham com produção de conteúdos digitais para suas mídias sociais e em prol do desenvolvimento turístico dos lugares que visitam. 

Cristiano Lorenzoni Cazarotto e Sandra Doyama são casados e trabalham com produção de conteúdos digitais para suas mídias sociais e em prol do desenvolvimento turístico dos lugares que visitam. Eles se encantaram por todas as opções turísticas que Mato Verde oferece e visitaram a cidade em novembro de 2021
Foto: Arquivo Pessoal

Sendo Cristiano do Rio Grande do Sul e Sandra de São Paulo, o casal decidiu conhecer lugares que poucas pessoas conhecem. “Nossa escolha por peregrinar pelo Brasil nos levou até os roteiros mais incríveis. Estivemos em Mato Verde no dia 16 de novembro de 2021, no lançamento oficial de um dos roteiros, que é o da cachoeira Maria Rosa. Em nossas explorações pelo Norte de Minas, sempre ouvíamos falar sobre a cachoeira Maria Rosa. Foi, então, muito gratificante poder conhecê-la”, afirma Cristiano. 

Sandra conta que eles tiveram a oportunidade de fazer os quatro roteiros com os guias e vivenciar todas as experiências do projeto Roteiro Turístico, que, segundo ela, foram surpreendentes. “Foi muito gratificante descobrir os outros roteiros, principalmente o roteiro que envolve a história do Lúcio Amaral com sua Casa da Cultura. Lá tem peças raríssimas! Ele desenvolve um trabalho muito interessante e doa todo esse conhecimento para a comunidade e para todos os turistas que vão visitar o espaço”, relata Sandra, que é esposa de Cristiano. 

Para o casal, que declara gostar de pessoas e de vivenciar lugares, todos os roteiros em Mato Verde oportunizam um encontro com a história da cidade. Como dica, Cristiano sugere que os visitantes façam o city tour. “Fazer o city tour é muito importante, pois você conhece toda a história da região. Todos os lugares são incríveis, não dá para escolher apenas um roteiro, mas se fosse para eu escolher apenas um, eu escolheria a Casa da Cultura, do Lúcio Amaral. Já a minha esposa escolheria a Cachoeira Maria Rosa. E a nossa cachorrinha Mel também! Quando ela chegou lá, a felicidade não cabia nela e ela não parava de correr! Chegou a entrar na água, coisa que ela não gosta”, conta Cristiano. 

O casal e a cachorrinha Mel estão na estrada desde 2018. Eles têm como meio de transporte uma Kombi e decidiram conhecer lugares que poucas pessoas conhecem. Só no Norte de Minas, a família já percorreu cerca de 30 cidades
Foto: Arquivo pessoal

Mais que um pirão: alimento elaborado por produtora rural atrai turistas de longe e vira um negócio promissor em Mato Verde

Os viajantes Cristiano e Sandra terão um motivo a mais para retornar a Mato Verde: não provaram do famoso pirão de dona Loza. As mãos de fada que têm o poder de fazer uma receita pra paladar nenhum botar defeito são de Maria Aparecida, uma produtora rural, que, com sorriso largo e contagiante, recebe visitantes de longe para experimentar o pirão servido com feijão-tropeiro, arroz com pequi, salada e frango caipira. É ou não é um verdadeiro banquete? 

O pirão, feito à base de farinha de mandioca, é um prato típico da região de Mato Verde. Nas mãos de dona Loza, o prato ganha um sabor diferenciado. Modesta, ela brinca ao dizer que não tem nenhum segredo na receita. “Não tem nada de diferente. A única coisa é que as pessoas fazem o pirão cozido no fogo, e o meu é escaldado. Tem também o tempero que faço na hora, com meus ingredientes colhidos aqui mesmo na minha horta. Além disso, faço com muito amor e carinho, pois se a gente faz qualquer coisa nervoso e com raiva, não dá nada certo”, adverte aos risos.

Numa casa simples, localizada na beira da estrada que liga a comunidade de Pé da Ladeira ao município de Mato Verde, é onde dona Loza recebe os turistas e conhecidos da região. Desde que passou a integrar a rota do turismo do município, o número de pessoas que ligam para encomendar o pirão aumentou, e o negócio tem proporcionado uma nova vida para a sertaneja, que mora com o marido e mais dois filhos, uma menina de 11 anos e um jovem de 20.

Antes da parceria com o projeto Roteiro Turístico, Loza conta que já houve mês em que vendeu apenas dois pratos do pirão. Agora, a realidade é outra. Após ter tido o seu estabelecimento incluído na rota do turismo, as vendas chegaram a crescer 600%. Com um preço fixo de R$180,00, a comida farta serve até dez pessoas e dependendo do dia, os clientes ganham de sobremesa um doce caseiro feito especialmente por ela.  

A produtora rural também aproveita a visita dos participantes do roteiro turístico para vender outras produções caseiras, como doces de vários sabores, polpas de frutas, requeijão, pimenta em conserva e temperos, além de produtos de época, como umbu, feijão-verde, hortaliças e verduras. “Teve uma vez que, em uma única visita de turistas, eu ganhei cerca de mil reais com a venda de produtos. Depois disso, fiquei ainda mais motivada para continuar com o negócio”, com alegria lembra dona Loza. 

Numa casa simples, mas muito aconchegante, Loza prepara o pirão para os visitantes que vão de longe experimentar o carro-chefe da produtora rural
Foto: Solon Queiroz

O futuro é promissor

Os bons resultados alcançados até hoje com o projeto é motivo de muita alegria não só para os empreendedores da região, mas para todos que acreditam no potencial transformador do turismo e do empreendedorismo rural para a cidade de Mato Verde e região. O atual prefeito do município, Pedro Henrique Horta, é uma das pessoas que afirma não ter dúvidas da importância do investimento turístico e do apoio aos empreendedores rurais para a garantia de um futuro ainda mais promissor para Mato Verde e região.

“O turismo, com certeza, é uma das importantes forças do setor econômico que gera emprego e renda aqui em nossa cidade. Além de cultura e tradição muito fortes, Mato Verde possui muitas belezas naturais. Nós temos tentado explorar tudo isso para levar tudo o que temos de melhor para todo o Brasil. E além de movimentar muito a economia, o turismo gera novos negócios, novos serviços e leva desenvolvimento às localidades e comunidades de Mato Verde”, reforça o prefeito. 

Para o gestor municipal, Mato Verde tem mesmo muitos motivos para celebrar, principalmente considerando os últimos resultados de uma pesquisa que é realizada mensalmente pelo Sebrae Minas para identificar o nível de confiança dos microempreendedores individuais e dos representantes de micro e pequenas empresas mineiras. O Índice Sebrae de Confiança dos Pequenos Negócios (ISCON) mostrou uma queda no mês de maio, fechando em 114 pontos, sete a menos do que o registrado em abril. Mas o vertiginoso e notável salto que se vê em Mato Verde parece seguir na contramão.

De acordo com a pesquisa, que ouviu 1.001 participantes entre 4 e 13 de maio, a avaliação piorou, tanto no que diz respeito à análise dos empreendedores sobre o momento atual das atividades que desenvolvem quanto às expectativas para o médio prazo. Entretanto, a cidade norte-mineira, por meio de um projeto disruptivo, ousado e sustentável, avança a passos largos, tendo o turismo e o empreendedorismo rural como pilares para o desenvolvimento. Esse cenário em Mato Verde contribui para elevar o nível de confiança dos empreendedores a um patamar jamais registrado na história da cidade.

Uma rota de turismo que elevou Mato Verde a um patamar de referência na região. Com um projeto ousado e disruptivo, o município tem trilhado o caminho do sucesso
Foto: Solon Queiroz

O empreendedorismo na contramão da crise econômica no Brasil

A atual conjuntura do município foi estabelecida a partir do empreendedorismo, que é, segundo o analista do Sebrae Minas Albertino Correia, uma das principais molas propulsoras da economia brasileira, justamente por gerar emprego e renda, potencializar o desenvolvimento das localidades que fomentam o empreendedorismo e melhorar a qualidade de vida das pessoas envolvidas em todas as etapas da cadeia produtiva. 

“Hoje, nós não temos emprego para todo mundo, principalmente nas pequenas cidades. A maioria dos empregadores são as prefeituras, e o empreendedorismo é fundamental para que qualquer lugar em qualquer região possa ter a chance de se tornar um lugar em pleno desenvolvimento. É através do empreendedorismo que vamos gerar riquezas, conseguir atender às necessidades da população e mudar as perspectivas de vida das pessoas”, entende o analista.

Albertino ainda pontua sobre o papel das políticas públicas, principalmente nas pequenas cidades, para que empreendedores tenham condições de seguir com seus negócios. “Os empreendedores precisam ser incentivados e apoiados em todas as fases e cabe ao poder público ter esse olhar especial. Hoje, temos a Sala Mineira do Empreendedor como uma forma que os municípios têm de auxiliar os pequenos negócios e, ao mesmo tempo, promover o desenvolvimento para o município”, menciona.

O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Mato Verde, Ralfh Camargo, concorda com o analista e reconhece a responsabilidade do poder público nessa missão. Ele sabe que com o crescente número de turistas na cidade e com a forte adesão ao projeto Roteiro Turístico, os empreendedores rurais precisam se adaptar a essa nova realidade para obterem sucesso nos negócios. “Nossos empreendedores têm aprovado essa evolução e estão aceitando nossa assistência e parceria. Progressivamente, eles estão participando das ações de consultoria e assessoramento. E todos estão empenhados em receber seus clientes e turistas com muito carinho e em produzir e oferecer produtos e serviços de qualidade”, assegura o secretário municipal. 

A dona do pirão mais famoso da região confirma a importância de todo o apoio recebido.  “Para nós, esse apoio é muito bom porque a região fica movimentada. Todo mundo acaba conhecendo e comprando nossos produtos e, com isso, sempre temos um dinheirinho pra pagar uma conta de energia, a internet, para comprar comida, roupas e muito mais. Só tenho a agradecer, pois nunca pensei que um dia eu fosse ganhar dinheiro com pirão. Sigo muito feliz e confiante que esse é só o começo”, reflete Maria Aparecida, a conhecida dona Loza. 

E para quem quer conhecer toda essa história com os próprios olhos e conversando, pessoalmente, com os personagens ilustres de uma cidade encantadora, fica a dica: visite Mato Verde. Chegando à cidade, basta procurar a Central de Atendimento ao Turista (CAT), que fica localizada na Praça Santo Antônio, no centro. Lá, o turista tem informações sobre todas as rotas de turismo. Depois, é só escolher os roteiros, marcar e se permitir vivenciar o passado, o presente, a história, a natureza, o urbano, a cultura, a tradição e a acolhida do povo mato-verdense. É essa a bagagem que todo turista quer carregar. 

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