DECEMBER 9, 2022

Existência e resistência: Dia da Visibilidade Trans é marcado por manhã solidária em Montes Claros

Ação faz parte do Projeto Transformar, desenvolvido pelo Movimento Gay dos Gerais (MGG) e que presta assistência social, jurídica e pisicológica ao público LGBTQI+

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Ação aconteceu na Casa da cidadania/ Foto: Nátila Gomes

A manhã deste sábado (29) foi movimentada na Casa da cidadania, no centro de Montes Claros. Como forma de celebrar o dia Nacional da Visibilidade Trans, a rede de solidariedade do Movimento Gay dos Gerais (MGG) entregou cestas básicas, hortifrutis, e materiais informativos e explicativos sobre educação sexual para pessoas transexuais assistidas na cidade.

A ação faz parte do Projeto Transformar, criado durante a pandemia, pelo MGG. O presidente do movimento, José Cândido, mais conhecido como candinho, ressalta os motivos que levaram essa mobilização e lembra como ações desse tipo são importantes. Pelo 13º ano, o Brasil continuou sendo o país onde mais se mata transexuais e travestis, seguido pelo México e os Estados Unidos, de acordo com a ONG Transgender Europe (TGEU, na sigla em inglês). Segundo um dossiê produzido pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra) em 2021, 140 pessoas trans foram assassinadas no país em 2021, sendo 135 travestis e mulheres transexuais, e 5 homens trans e pessoas transmasculinas.

“Há quase 20 anos o MGG atua no acolhimento a comunidade LGBTQI, isso foi mais recorrente durante a pandemia. E nesta manhã decidimos fazer a manhã solidária. Superou nossas expectativas, pois além da gente fazer essas doações para essa população vulnerável, nós também chamamos a atenção da sociedade para a importância do respeito, da dignidade humana. Pois todos temos direitos humanos, já que também pagamos impostos. A gente vê a alegria das pessoas quando chega. A gratidão delas. O mais difícil é saber que o Brasil ainda é campeão de mortes de LGBTS, principalmente travestis e transexuais. Isso é inaceitável”, lembrou Candinho.

Candinho lembra que o MGG presta assistência ao público LGBTQI+ há quase 20 anos/ Foto: Nátila Gomes

Quase mil pessoas são atendidas no programa do MGG, que inclui assistência social, jurídica e pisicológica. Nicoli Alves é uma das beneficiadas e conta que já trabalhou em várias cidades de Minas e de outros estados e dificilmente encontra uma rede de apoio tão bem estruturada como a vista em Montes Claros. Citou, por exemplo, a cidade de Uberaba, lugar que ela trabalhou como acompanhante por cerca de um ano.

“Montes Claros é uma das poucas cidades que a gente conta com esse apoio que é o MGG. E quando não se tem esse tipo de apoio, tudo se torna ainda mais difícil. Aqui, em tudo que precisamos recorremos a eles. Para quem trabalha na noite não é fácil. Por isso é importante termos ações como essa”, comentou Nicole.

Na mesma linha, a cabeleireira e vendedora Michele Pereira Silva, destacou o trabalho desenvolvido entre a comunidade trans. “Em vários momentos, ouvimos muitas falácias, mas a ajuda na prática são poucas. Então, o MGG é ‘um abraço’ que veio com muita firmeza. Com um suporte de verdade, através do alimento, aconselhamento, acompanhamento. Sabemos que não estamos sozinhos e nem estamos abandonados por causa deles. Seja em uma ajuda com advogado, com médico. Sinto uma gratidão imensa pelo MGG”.

Sobre a persistência de alguns preconceitos Michele ainda completou: “Sem vitimizar, mas precisamos ser incluídas nos nossos direitos, pois pela constituição a cidadania é direito de todo o cidadão. Pagamos nossos impostos como qualquer outra pessoa. Clamamos que a sociedade enxergue que a gente existe, que pisamos na mesma terra. A gente tem os mesmos direitos e os mesmos deveres. Ninguém pode querer nos separar e nos diminuir. Fazemos parte de um país democrático”.

Michele refletiu sobre as pessoas trans terem os mesmos direitos e deveres de um cidadão/ Foto: Nátila Gomes

Nessa ação simbólica que marca o Dia Nacional da Visibilidade Trans, todas as doações foram feitas pela ONG Amor e vida, criada há 10 anos e presidida pelo pastor Josmar Xavier. Além das cestas básicas, hortifrutis e pentes de ovos, também foram doados absorventes, removedor de esmaltes, curativos, e outros itens de higiene.

“Nesse período de pandemia cresceu ainda mais a dificuldade financeira desse grupo, que já possui dificuldades históricas. Infelizmente, ainda existe a discriminação e portas estão fechadas para o mercado de trabalho. Então, o amor não pode ter fronteiras. Jesus Cristo é o fundador da igreja. E a igreja não pode discriminar. Jesus nunca deixou de abraçar o leproso, a prostituta, a pessoa em situação de rua, quem quer que seja. O fato é que mais do que nunca nós temos que nos assentamos na mesma mesa e dividirmos o pão. Isso que o Amor e vida faz. A questão da segurança alimentar é fundamental. O amor e vida tem essa função: procurar seguir pelo menos um pouco aquilo que Jesus nos ensinou, que é amar o próximo como a nós mesmos”, disse Josmar.

As doações ao MGG foram feitas pelo Projeto Amor e vida, presidido pelo pastor Josmar Xavier/ Foto: Nátila Gomes

Livian Venturini, coordenadora do Núcleo de travestis e transexuais do MGG, acredita que para que mais transexuais se sintam acolhidos, é preciso que os poderes municipal, estadual e federal abracem a causa.

“Hoje é um dia simbólico. É um dia de se comemorar avanços, mas também é um dia de se repensar na vida dos transexuais no Brasil e no mundo, que está muito difícil. O Brasil é recordista no número de mortes e violências verbais, físicas e virtuais sofridas pelos travestis e transexuais. Essa comunidade precisa de políticas públicas funcionais. A assistência a saúde básica é fundamental, um bom atendimento laboratorial diferenciado e uma assistência jurídica própria para essa população”, indagou.

Livian Venturini, também do MGG, destaca a importância de mais políticas públicas para o público LGBTQI+/ Foto: Nátila Gomes

Enquanto não se tem tantas políticas públicas voltadas para esse grupo, Candinho destaca que o MGG tem se mobilizado para garantir que a comunidade LGBTQI+ seja inserida no mercado de trabalho e fazendo orientações em casos de preconceito. “A boa notícia é que essa semana o MGG participou de uma reunião com as indústrias do Distrito Industrial. Durante o encontro fomos inseridos na comissão de organização para inserir essa população no mercado de trabalho. Além disso, o MGG tem feito palestras nas escolas, faculdades e empresas conscientizando que hoje a transfobia é crime. E as pessoas que receberem esse tipo de preconceito podem nos procurar, que encaminhamos para o nosso setor jurídico”, finalizou Candinho.

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