DECEMBER 9, 2022

PC prende cinco agentes penitenciários e mais nove pessoas envolvidas em esquema criminoso na Penitenciária de Francisco Sá

Operação Trojan visa combater os integrantes de uma organização que atuava dentro e foram do presídio; os agentes são suspeitos de facilitarem fuga, fornecerem informações privilegiadas para os detentos, e ainda entregarem celulares aos presos

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Os detalhes da investigação foram apresentados durante coletiva de imprensa nesta quarta (25)/ Foto: Polícia Civil/ Divulgação

A Polícia Civil deflagrou na manhã desta quarta-feira (25) a operação Trojan, nas cidades de Montes Claros, Francisco Sá e São Francisco, no Norte de Minas. Segundo a Polícia Civil, o objetivo da investigação foi desarticular a organização criminosa que atuava dentro e fora da Penitenciária de Segurança Máxima de Francisco Sá com intuito de facilitar fulga e entrega de objetos ilícitos, bem como fornecer informações privilegiadas aos detentos. O nome da operação faz alusão ao software Trojan, que é malicioso, se disfarça como inofensivo e adentra em um sistema permitindo que ataques sejam realizados.

Os detalhes da operação foram apresentados durante coletiva de imprensa na manhã desta quarta (25). Foram cumpridos o total de 46 mandados judiciais. Sendo 11 mandados de busca e apreensão, 14 mandados de prisão preventiva, 16 contas bancárias bloqueadas, e cinco afastamentos cautelares de cargo público.

“A operação visa combater a organização criminosa que, além de cometer os crimes de corrupção ativa, passiva e prevaricação, também lava o dinheiro obtida com a venda de informações privilegiadas para fugas e também a venda de telefones celulares e outros objetos ilícitos. Essa investigação começou em setembro de 2019, um mês antes da deflagração da operação Muralha, em que foram presos diversos criminosos no mesmo viés investigativo, em diversos estados da federação. Essa é uma segunda fase que a gente tentou combater de forma efetiva as pessoas responsáveis pelo ingresso desses celulares e pelas facilitações de fugas na Penitenciária de Segurança Máxima de Francisco Sá”, explicou o delegado Alberto Tenório.

Operação foi deflagrada nas cidades de Montes Claros, Francisco Sá e São Francisco/ Fonte: Polícia Civil/ Divulgação

As investigações começaram em setembro de 2019, tendo 40 pessoas como alvo. Foram feitos 80 registros de apreensões e 100 celulares apreendidos. Durante os últimos dois anos, 18.696 linhas telefônicas foram analisadas, com 100.353 ligações telefônicas.

“Tinham três formas de entrada desses aparelhos: o agente entrava como se o celular fosse dele, entregava o detento que fazia faxina e ele repassava ao outro preso; segundo, no dia em que os agentes envolvidos estavam trabalhando, os parentes iam na muralha e jogavam o celular para dentro do presídio; e o terceiro modo, o mais corriqueiro, era via Sedex. Os parentes mandavam as encomendas e o policial penal articulava para que a entrega fosse no dia de trabalho para que quando iam fazer a vistoria, faziam “vista grossa'”, disse Tenório.

O delegado informou que em Montes Claros, foram presos cinco agentes penitenciários; em São Francisco foram presos quatro parentes de presos; e em Francisco Sá,  foram presos um comerciante e uma advogada.  Além disso, três  mandados foram cumpridos na Penitenciária de Segurança Máxima em  Francisco Sá,  expedidos em desfavor de presos recolhidos no local e que cumprem condenação por tráfico de drogas e homicídio, um deles estava em regime semi-aberto.

“Iniciamos o trabalho lá em 2019,  quando houve uma fuga de três presos na penitenciária. Foi uma fuga completamente fora do padrão. Com notória participação de servidores na empreita. Conseguimos identificar que alguns dos agentes penitenciários forneceram serras para os presos, além de entregar pessoalmente encomendas vindas por meio de Sedex. Os agentes penitenciários tentavam articular a data da entrega exatamente no dia que eles estavam de serviço. Já com o inquérito policial instaurado, teve uma nova fuga. Essa ainda mais anormal. O detento ficou escondido dois dias dentro da unidade fora da cela. Daí fizemos uma análise de todos os celulares apreendidos, desde 2018”, enfatizou Tenório.

Ele explicou que durante esse período, foram realizadas 80 ocorrências policiais com apreensão de telefones na penitenciária.

“Dessas 80 ocorrências, foram apreendidos 100 telefones com características e semelhanças que a gente aponta no trabalho de ter sido entregues por policiais penais. Foram analisadas as ligações. Depois da análise dos dados cadastrais, conseguimos identificar um padrão que eles faziam, como o recebimento e saque de valores ilícitos, sempre quando estavam de folga, visitas de fora da Penitenciária que estava vinculada ao trabalho, exatamente nos dias que eles estavam trabalhando. Conseguimos identificar que eram dois presos articuladores, com livre acesso aos locais da penitenciária, pois realizarem a faxina. Eles negociavam os telefones com os demais presos, com valores em torno de R$ 15 mil, mas variava de acordo com a demanda. Se a demanda for maior, o preço aumenta, se a demanda for menor, o preço diminui. Eles faziam essa articulação entre os presos e os agentes, e os agentes faziam esse contato com os parentes dos presos”.

Além da participação dos policiais penais, o delegado Alberto Tenório relatou como a advogada e o comerciante agiam no esquema criminoso. “Uma outra ressalva é a participação de uma advogada presa em Francisco Sá e que é parente de um dos agentes. Ela fazia essa articulação dos presos com os agentes penitenciários, ajudava na compra e aquisição dos celulares e fazia a defesa de clientes que eram pegos com os telefones dentro da penitenciária. Já o comerciante, que também é de Francisco Sá, lavava o dinheiro desse principal agente penitenciário e forneceu a conta bancária para o recebimento de valores de janeiro a setembro de 2019. Nesse período, foi identificada a movimentação de R$ 112 mil em espécie. É uma organização muito articulada, que tinha a participação de agentes penitenciários, advogada e parentes de presos”, afirmou.

Participação do DEPEN

Antônio José Costa Neto, diretor regional do Departamento Penitenciário (DEPEN), e que é diretor da penitenciária de Francisco Sá, comentou que a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP) contribuiu com as investigações.

“Uma das principais premissas do secretário Rogério Greco é o combate ao crime organizado e a corrupção. Qualquer ato ilícito cometido pelo servidor será punido com o rigor da lei, respeitando a ampla defesa e o contraditório. O DEPEN não compactua com práticas ilícitas e trabalhamos de forma integrada com as instituições de segurança pública no combate à corrupção”, concluiu.



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