DECEMBER 9, 2022

“Isso não é caridade, é apenas a obrigação do estado”, declarou a ministra Damares durante entrega de mais de 16 mil cestas básicas aos quilombolas

Em visita a Montes Claros, Titular do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos ainda comunicou aliança com os prefeitos da região para fortalecimento de rede de segurança para crianças, mulheres e idosos.

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Ato simbólico de entrega das cestas foi realizado na Amams/ Foto: Solon Queiroz

Em visita a Montes Claros, nesta quinta-feira (29), a ministra da mulher, da família e dos direitos humanos, Damares Alves, participou de uma cerimônia simbólica de entrega de 16.300 cestas básicas liberadas pelo governo federal e destinadas às comunidades quilombolas de 53 municípios do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha.

Os donativos foram viabilizados pelo Ministério da mulher, da família e dos direitos humanos, e pelo Ministério da cidadania. Com participação da Fundação Palmares, à pedido da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (AMAMS). O evento foi promovido na sede da AMAMS e contou com a apresentação cultural da Associação de Capoeira Raízes de Colombo, do município de Januária.

“Deixamos bem claro: nós não estamos fazendo nenhuma caridade aqui. É obrigação do estado fazer a garantia alimentar de quem está precisando nesse momento. Neste momento eu faço um chamamento para os prefeitos. Todo mundo está precisando de ajuda agora. E este é o papel do meu ministério. Dar atenção aos povos tradicionais, aos meninos, mulheres, crianças, que já naturalmente carecem de ajuda, situação que agravou com a pandemia. Peço aos prefeitos que essa atenção não seja só comida, mas um olhar e atenção especial, com acesso ao trabalho, acesso a educação”, declarou a ministra Damares Alves.

Nilson Bispo de Sá celebrou a ação/ Foto: Solon Queiroz

A AMAMS é a responsável pela organização e logística de distribuição dos alimentos. O presidente da associação, José Nilson Bispo de Sá, ressaltou a necessidade desse tipo de ação em meio ao cenário de pandemia e disse que está sendo feita uma articulação para que os outros municípios da área mineira da Sudene também sejam beneficiados em uma próxima remessa.

“Estamos a quase dois anos de pandemia. Período que deixou o nosso povo muito fracassado. Outro agravante no Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha, é a seca. E a fome não espera. Estamos mobilizando junto aos ministérios cestas para os outros municípios de uma forma geral na nossa região. Pelo cálculo que fizemos, a expectativa é de receber mais de 200 mil cestas. Mas, esse primeiro passo já foi um grande avanço. Nós, homens públicos, temos que fazer o que puder para ajudar os que sofrem. Unindo as forças, cada um fazendo um pouco de si, que as coisas acontecem. Essa conversa com a ministra Damaris foi muito boa. Em setembro, também vamos receber o presidente Jair Bolsonaro. O governo federal começou a olhar para o Norte de Minas. Foi a maior entrega de cestas na região”, disse Nilson.

Secretário de promoção de igualdade racial falou sobre a necessidade de políticas públicas para os grupos vulneráveis/ Foto: Solon Queiroz

O secretário nacional de Promoção da Igualdade Racial, Paulo Roberto, também destacou sobre a necessidade de políticas públicas para os grupos menos favorecidos. “Os povos quilombolas, indígenas, mulheres, ciganos, os trabalhadores como os extrativistas e pescadores artesanais, são segmentos que tem demandas específicas onde a política horizontal não vai atingir a todos, causando a injustiça social. Então, estes segmentos demandam políticas focalizadas. O principal é o alimento para a sobrevivência das pessoas. Comer é uma necessidade básica das pessoas. A partir disso a vida prossegue, a saúde prossegue. Infelizmente nós ainda temos que lutar contra o racismo no nosso país, contra as desigualdades históricas. E se não prestarmos a atenção, acabam banalizando a fome e a violência. Todos nós precisamos trabalhar no enfrentamento dessas mazelas para conseguirmos uma sociedade livre, justa e solidária”.

O critério adotado para recebimento destas cestas é vinculado à situação de vulnerabilidade alimentar e nutricional apurado pelo Mapa de Insegurança Alimentar e Nutricional – Mapa Isan com classificação muito alta, alta e média. A cidade de Montes Claros foi um dos polos estabelecidos para distribuição. A Fundação Cultural Palmares que emite a autorização de retirada desses alimentos. Murilo Botelho Ferreira, coordenador de articulação e apoio às comunidades remanescentes de quilombos, da Fundação Palmares, afirmou que outras ações serão desenvolvidas no Norte e Vale do Jequitinhonha.

Coordenador de articulação e apoio às comunidades remanescentes de quilombos disse que mais políticas públicas vão comtemplar a região/ Foto: Solon Queiroz

“A Fundação está trabalhando dia e noite para tentar levar o melhor para as comunidades quilombolas. Sabemos que os alimentos são de caráter emergencial, e a gente quer mais. Queremos trazer segurança alimentar e não vamos medir esforços para isso. Estamos firmando uma parceria com a AMAMS para colocar em prática uma série de medidas públicas e, em breve, teremos kit de higiene, cursos online, e cursos presenciais assim que possível na região”.

Lindomar de Lima, presidente da Associação da comunidade quilombola Vereda Viana, de São João da Ponte foi escolhido para receber a cesta como ato simbólico de entrega. Foram destinadas 33 cestas para a localidade constituída por 115 famílias. A esperança é que a assistência seja, de fato, mais efetiva e constante. “Os alimentos chegaram em boa hora. O pessoal está muito alegre, pois nessa pandemia, muita gente que trabalhava ficou desempregado. Nossa comunidade é distante de políticas públicas e essa colaboração dos ministérios e da Fundação Palmares é muito necessária. A esperança é que mais políticas públicas contemplem o nosso povo, se torne frequente”, finalizou.

Presidente da Associação da comunidade quilombola Vereda Viana, de São João da Ponte, espera que mais benefícios cheguem às comunidades/ Foto: Solon Queiroz

O Deputado estadual Arlen Santiago (PTB) participou da cerimônia e falou sobre o apoio do governo para a região. “A ministra está fazendo uma força-tarefa a favor das crianças desse país. Eu tive a oportunidade de estar com ela na Assembleia para que a gente possa propagar, cada vez mais, a política de que criança tenha que estudar, brincar e ser cuidada. O Norte de Minas precisa muito de um olhar governamental”.

Deputado discursou sobre a importância do governo olhar para a região/ Foto: Solon Queiroz

Rede de proteção

Durante o discurso, a ministra Damares demonstrou tristeza e chamou a atenção para os casos de violência contra os povos tradicionais e pessoas vulneráveis. Ela exemplos como a morte de ciganos no Estado da Bahia após conflitos com a polícia e o caso da criança de um ano e dois meses espancada e morta pelos pais no bairro Santo Antônio, em Montes Claros, no início de julho.

“Quero aproveitar o momento para chamar a atenção dos prefeitos em elação a um problema. Ainda somos uma geração que mata crianças. Que machuca crianças. Nós matamos mais crianças que países que estão em guerra. O telefone de denúncias do ministério toca mais de 6 mil vezes por dia. Vocês tem noção do que é isso? Prefeitos, vamos observar as crianças que recebemos em sala de aula. As crianças vão mandar sinais. Precisamos nos organizar para fortalecer a nossa rede de proteção. Além da preocupação com as crianças, nós ainda somos o quinto país que mais mata mulheres”, lembrou.

“Esse é um dos maiores motivos de eu ter vindo em Montes Claros: eu quero uma aliança com os prefeitos da região. Quero uma aliança pelas crianças da região, pelas mulheres e pelos idosos para fortalecer a rede de segurança desses grupos. Eu faço um apelo a AMAMS e aos prefeitos: venham comigo, em uma grande aliança pela proteção dos mais vulneráveis”, completou Damares.

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