DECEMBER 9, 2022

Número de ocorrências de resgate de cobras tem alta de 44% no primeiro trimestre de 2021, em Montes Claros

Animais têm aparecido com maior frequência e especialista comenta sobre o que pode estar influenciando nesse aumento

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Animais têm aparecido mais na cidade/ Foto: Jerusia Arruda

Belas para uns, pavorosas para outros. Quem vive em Montes Claros, certamente deve ter percebido uma alta de casos onde as cobras assumiram o protagonismo. Elas têm invadido com frequência casas e empresas na cidade. Um balanço feito pelo 7⁰ Batalhão do Corpo de Bombeiros apontou que o número de ocorrências envolvendo a captura e resgate de cobras teve aumento de 44% no primeiro trimestre de 2021, comparado ao mesmo período do ano passado.

Dados levantados pela assessoria de comunicação da companhia, a pedido do site Webtempo, indicam que nos três primeiros meses do ano foram registrados 108 casos de aparecimento de cobras na zona urbana, enquanto no ano passado, foram registradas 75 ocorrências. Segundo o capitão Dilson Veloso Dias, esse aumento é ainda mais evidente em março: foram 46 resgates de cobras em março deste ano, contra 24 em 2020, contabilizando uma alta de 91%.

“Nesse ano de 2021, mais especificamente no mês de março, nós tivemos uma quantidade relativamente grande de ocorrências envolvendo captura e resgate desses animais silvestres. E percebemos que não tem uma certa similaridade de locais, pois eles foram encontrados em bairros bastante distintos uns dos outros. Tem residências próximas das matas, mas também tem aquelas próximas a região central. Temos percebido que esses animais têm saído do seu habitat natural e entrado na zona urbana, invadindo a residência das pessoas”, confirma.

Capitão Dilson Veloso diz que situação é atípica/ Foto: Divulgação

O capitão comenta que os tipos mais comuns são as serpentes, como jibóias e caninanas. Mas, a época em que elas têm dado as caras é considerada uma situação atípica. “Conseguimos perceber que nos meses de novembro e dezembro tem uma quantidade maior dessas ocorrências. Mas nesse ano de 2021tem sido um pouco atípico e no mês de março tivemos essa grande quantidade de captura. Normalmente é mais no fim do ano”, diz Veloso.

Caso o animal seja encontrado sem ferimentos, ele é devolvido ao habitat natural, longe das casas, mas se apresentar alguma lesão, ele é levado pelo Corpo de Bombeiros para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), administrado pelo Instituto Estadual das Florestas (IEF). No local, é feita a triagem, reabilitação, tratamento e destinação. “Esses animais recebem cuidados veterinários, são reabilitados e se tiverem em condições, são devolvidos a natureza. Aqueles que não tem condições físicas, destinamos para locais autorizados como mantenedores, zoológicos, entre outros”, afirma Osmarina Aparecida Souza Santos, médica veterinária do Cetas em Montes Claros.

Principais fatores

“Essa alta no número de ocorrências pode estar inteiramente ligada à expansão das casas na cidade”. É o que afirma o biólogo Eric Borém. Ele acredita que na medida em que têm se construído mais áreas de habitação, isso vai desabrigando os animais. “A cidade está cada vez mais povoada, está construindo muitas avenidas, muitas casas, e isso faz com que as cobras entrem nas residências onde antes das construções era o habitat natural delas. Além disso, a combinação entre o calor, chuva e umidade, acaba desalojando esses animais. E agora elas estão na época de proliferação, da desova, época em que nascem muitas”, explica

O biólogo Eric Borém aponta alguns motivos que podem influenciar nesse aumento de ocorrências/ Foto: Solon Queiroz

Apesar de não ter uma característica bem definida dos locais de maior incidência, o especialista aponta alguns fatores que podem contribuir para esse tipo de desequilíbrio ecológico.”Eu tenho observado que aparecem em diferentes pontos da cidade. Quase todos os dias eu ouço alguém dizer: ‘ah, apareceu uma cobra aqui em casa’. Porque ela acaba entrando pela rede de esgoto ou por frestas e buracos em portões e portas. Geralmente, costuma aparecer mais cobras em bairros onde tem muitos lotes vagos, com mato, onde passa rio ou esgoto perto. Ou onde tem uma proliferação maior de ratos, que elas acabam indo atrás desses alimentos. Esse aumento também está relacionado ao desmatamento. Às vezes a pessoa vai limpar um lote, ou fazer uma casa e desmata. Isso acaba afugentando esses animais peçonhentos. Eles saem do mato e fogem para alguma residência, para procurar alimento, abrigo e água”, comenta Eric.

Perigo

Em meio a essas capturas, o capitão Dilson Veloso chama a atenção para os cuidados que devem ser tomados ao avistar uma cobra e alerta sobre as tentativas de machucá-la. “As orientações para as pessoas que se depararem com esses animais é que mantenha ele afastado, não tente contê-lo, não maltrate ou tente matá-lo. Esses animais na maioria das vezes estão acuados, não vão agredir caso não toquem neles, e esse tipo de atitude de aproximação pode ocasionar algum acidente. A ideia é manter a distância e acionar o Corpo de Bombeiros através do 193, que a gente vai até o local fazer a captura em segurança”.

Bombeiros fazem a captura do animal com segurança/ Vídeo: Corpo de Bombeiros/ Divulgação

Mas, nem sempre é possível ficar longe das cobras. Em alguns casos, o animal não é percebido no local, e quando se vê, alguém sofreu o ataque. Dados do Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), referência no atendimento de vítimas de animais peçonhentos, apontam que foram realizados 61 atendimentos decorrentes do contato com serpente no primeiro trimestre de 2021. Nesse mesmo período de 2020 foram 125 atendimentos, e em 2019, 85 atendimentos. Se contabilizados os dados do ano inteiro, a estimativa é a seguinte: 235 atendimentos no HUCF relativos a acidentes com serpentes em 2019, e 252 atendimentos em 2020.

Tendência de queda

Eric acredita que esses casos devem cair a partir de meados do mês de maio, época em que as temperaturas na região começam a cair. “Os meses mais quentes, são as épocas de maior índice de aparecimentos de animais peçonhentos. Os meses mais frios é época de hibernação! Eles ficam nos ninhos. Quando esquenta eles desalojam e sai das tocas para formar novas colônias. É claro que o ano todo tem! Mas, a época de maior proliferação é de calor, de agosto/setembro a marco/abril”, ressalta o biólogo.

Enquanto o frio ainda não chegou definitivamente na região, o especialista pontua algumas dicas para tentar amenizar o perigo de encontrar o visitante indesejado.

“Muitas vezes esse crescimento da habitação foge do nosso controle, mas podemos tomar medidas no nosso dia a dia. Quando aparece uma cobra em uma casa, é porque ela teve o acesso! Devemos observar pontos onde elas possam adentrar em qualquer lugar se ela tiver interesse. Pode ser por baixo do portão, pela rede de esgoto e pode sair do vaso sanitário. Não podemos deixar coisas acumuladas nos quintais e quartinho, fazer limpezas, capinas, tampar buracos, frestas, limpar lotes vagos, recolher lixos, denunciar na prefeitura lotes e terrenos baldios. Verificar as rede de esgoto, olhar se as tampas das caixas de gordura e esgoto estão bem vedadas. Calafetar as frestas e rachaduras do chão no quintal. Manter a grama e as plantas sempre aparadas. E se tiver alguma presa no ambiente, pode atrair os predadores naturais. Cobra é um predador natural. Ela come ratos, lagartixas, sapos, gatos, cachorro, pássaros, peixes, aves. Se uma cobra entrar em uma casa, pode ter certeza que de medo não é. Apesar que elas estão sendo expulsas de seus ambientes naturais, que é o mato”, finaliza Eric.

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