A pacata Ibiaí, que tem cerca de 8.400 habitantes, começou 2021 em ritmo acelerado. Máquinas pesadas e caminhões de grande porte começam a chegar à cidade para as obras de implantação do Sistema São Francisco, que será responsável pelo abastecimento de água de Montes Claros e municípios vizinhos para os próximos 30 anos. A previsão é de que o empreendimento fique pronto até maio de 2022.
VERÔNICA PACHECO
DA REDAÇÃO
O valor da obra que vai levar água do rio São Francisco para Montes Claros é de R$ 257,3 milhões, recurso proveniente da contratação de operação de crédito de longo prazo realizada pela Copasa junto ao Banco Europeu de Investimentos (BEI). A responsabilidade pela execução será da construtora Odebrecht Engenharia e Construção (OEC), que já montou um escritório em Coração de Jesus e, em breve, instalará um canteiro avançado em Ibiaí.
A previsão é de que a empreendimento dure 14 meses, gere cerca de 800 empregos diretos e indiretos, segundo dados do governo do estado. A construtora Odebrecht afirma que já foram contratadas 40 pessoas e há outras 120 em processo de contratação com apoio do Sine de Coração de Jesus. Assim como em outros empreendimentos de grande porte, a construtora pretende desenvolver o Programa de Capacitação Acreditar para formação de mão de obra local, possibilitando a geração de renda e desenvolvimento. A estimativa é de que os cursos já comecem a partir do mês que vem, sobretudo para as funções de armador, revestidor, pedreiro e carpinteiro, de maior demanda nas obras civis.
A Prefeitura de Ibiaí já recebeu mais de 500 currículos e está organizando o processo de contratação de mão de obra local junto da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (SEDESE) e o Sine. Dentre os critérios seletivos está a inscrição no Cade-Único para priorizar as pessoas mais necessitadas. As oportunidades por enquanto serão apenas para mão de obra civil como pedreiros, armadores, incluindo soldadores, motoristas, tratoristas e patroleiros. Há ainda diversas oportunidades para técnicos de meio de ambiente e de segurança do trabalho. Além de Ibiaí serão feitas contratações em Coração de Jesus e Montes Claros.
COMO SERÁ FEITA A CAPTAÇÃO NO RIO SÃO FRANCISCO
A estrutura para captação da água será feita com apoio de balsas em bombas flutuantes no Rio São Francisco, cruzando o município de Coração de Jesus. Serão construídos 92,5 km de adutoras com diâmetros que variam entre 700 e 600 mm, além de quatro estações elevatórias com reservatório de mil metros cúbicos e uma subestação de 2 MVA, de 13 tanques alimentadores unidirecionais (TAUs), duas caixas de transição, uma estação de tratamento de água com desarenador, casa de química e a interligação da adutora ao reservatório de distribuição da ETA Pacuí, que já está em funcionamento. Além disso, o contrato prevê comissionamento, pré-operação e operação assistida do sistema implantado. Será feita a captação de 500 litros por segundo, que serão destinados ao abastecimento de pelo menos pelo menos 430 mil pessoas.
SONHO REALIZADO
A obra de suplementação do sistema de abastecimento de Montes Claros é esperada há décadas. Diante da escassez de chuvas e do crescimento demográfico, a cidade vinha sofrendo com rodízios no fornecimento de água de um sistema planejado e disponibilizado em 1974, quando a realidade do município era outra. Diversas soluções já haviam sido estudadas até a aprovação e liberação do projeto, anunciado no dia 19 de janeiro pelo governador Romeu Zema e pelo diretor presidente da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), Carlos Eduardo Tavares de Castro. Eles assinaram a ordem de serviço em Ibiaí e tranquilizaram a população local acerca do não comprometimento do fluxo do Rio São Francisco.
Durante a solenidade, o governador Romeu Zema destacou a importância da obra para o desenvolvimento do Norte de Minas:
“Essa obra já deveria ter sido concretizada, porque Montes Claros e região já vêm sofrendo com a falta de água há muito tempo. A obra vai propiciar dignidade para as pessoas, pois quem passa por rodízio de água sabe o quanto é difícil ficar um ou dois dias sem abastecimento. Também é uma questão de saúde, já que as condições sanitárias pioram com a falta de água, além de promover o desenvolvimento. Ninguém quer investir onde não tem água disponível.”
A prefeita de Ibiaí, Sandra Maria Fonseca Cardoso (PTB) comemora a visita do governador como um marco para o município que jamais havia recebido visitante tão ilustre, ainda mais com uma notícia dessa. “A gente pensava que nunca ia sair do papel”, conta. Para Sandra, a população recebeu as palavras do discurso com alívio, já que havia uma preocupação com possíveis impactos ao rio e seu fluxo. “As pessoas tinham medo no início, mas isso já foi trabalhado. Mais de 95% de toda essa água deságua no mar, e a comunidade entendeu as explicações dadas durante a assinatura da ordem de serviço”, disse.
O município tem se empenhado em fornecer toda a documentação necessária para execução dentro dos prazos previstos, sobretudo as ambientais, indispensáveis para viabilização do projeto. A prefeita informou a comunidade sobre os impactos sociais inerentes a qualquer obra como essa, pois a rotina será quebrada pelo barulho e movimentação de máquinas. Só que os ibiaienses estão otimistas, pois além dos empregos, haverá aumento da procura por serviços como locação de imóveis, hospedagem e alimentação, o que já movimenta o comércio local. A cidade irá receber uma nutricionista e um chefe de cozinha que irão orientar os estabelecimentos para que haja padronização na qualidade e na oferta aos trabalhadores.
Outro legado positivo do projeto é o decorrente do aumento na arrecadação do Imposto Sobre Serviços (ISS). A gestora municipal faz planos como dinheiro que pretende usar com muita responsabilidade na execução de projetos que assegurem a melhoria da qualidade de vida da população. “As pessoas estão esperançosas de que dias melhores virão, estão contentes. A gente não esperava por essa pandemia, que já está completando um ano ceifando vidas. Essa obra entrou o ano dando esperança. Vamos partilhar nosso rio com nosso povo”, afirmou Sandra.
A prefeita acredita que além de todos os benefícios relacionados ao abastecimento e aos ganhos econômicos do projeto, há um aspecto importante que é a fé de que coisas boas virão. O eleitor está desmotivado, desacreditado da política, quietos, sem querer votar.
“Eu espero que isso possa mudar um pouco, que possamos mostrar para Minas Gerais e para o Brasil que existem gestores que querem trabalhar para o bem público. E eu aprendi muito com meu mestre e mentor Humberto Souto, prefeito de Montes Claros, que idealizou tudo isso que hoje é uma realidade”.
Histórico no setor
Clebio Batista, gerente de contrato da construtora Odebrecht, é motivo de grande satisfação a oportunidade de executar uma obra de tamanha relevância para a Copasa, que beneficiará de milhares de habitantes da região de Montes Claros:
Temos plena consciência de quão aguardado é este empreendimento e empenharemos os nossos melhores esforços para colocá-lo em funcionamento o quanto antes para que o maior número de pessoas possa usufruir de um sistema de abastecimento mais moderno e eficiente”.
A OEC possui quatro obras concomitantemente em andamento em Minas Gerais: além do contrato com a Copasa, a empresa executa uma fábrica para uma empresa farmacêutica de grande porte, o novo sistema adutor de Governador Valadares, para a Fundação Renova, e a construção de unidades de saúde numa PPP com a prefeitura de Belo Horizonte.
A OEC tem um amplo e significativo histórico de atuação no setor de saneamento. A empresa é responsável pela construção de mais de 250 plantas de tratamento, bombeamento e estações elevatórias, 157 quilômetros de emissários e mais de 5.700 quilômetros de tubulações, além de mais de mil quilômetros de canais. Em 2008 o grupo Novonor criou a antiga Odebrecht Ambiental, consolidando concessionárias de água e esgoto já pertencentes à empresa. Após um processo de forte investimento e expansão em cidades dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Maranhão, Goiás, Tocantins e Pará, tornou-se a maior empresa privada brasileira do setor de saneamento, sendo vendida em 2016 para um grupo canadense.
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