DECEMBER 9, 2022

“Vou aderir a manifestação com a esperança de garantir pelo menos o frete de sobrevivência”, diz caminhoneiro montes-clarense

Conselho confirmou paralisação dos caminhoneiros no dia 1º de fevereiro; a expectativa é que em torno de 1,2 milhão de trabalhadores do setor de transporte, entre autônomos e celetistas, participem da greve nacional

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Caminhoneiros programam greve contra valor alto do combustível e preço baixo do frete /Foto: Walter Lúcio de Paula

O Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) confirmou a paralisação dos caminhoneiros para a próxima segunda-feira (1º). A expectativa é que cerca de 1,2 milhão de trabalhadores do setor de transporte, entre autônomos e celetistas, participem do movimento nos 22 estados brasileiros, além do Distrito Federal.

Elcio Breve de Lima, de 55 anos, é de Montes Claros e atua como caminhoneiro há 26 anos. Ele participou da greve feita pela categoria em 2018, que durou nove dias e questionava os reajustes frequentes do óleo disel. Três anos depois, o motorista conta que desta vez, além de reivindicar o preço abusivo do combustível, também quer garantir direitos conquistados em 2018, mas que ainda não estão sendo cumpridos.

“Vou aderir a manifestação coma esperança de garantir pelo menos o frete de sobrevivência, né. Porque ultimamente o dinheiro que estamos ganhando com o frete não dá nem para sobreviver, nem para manter o caminhão em pé. A gente precisa de um frete digno. Na verdade, já conquistamos esse direito, mas ele não é cumprido até hoje. A gente esperou, esperou, e até agora nada. Espero que seja atendido, pois é um pedido de socorro. Precisamos parar para reivindicar nossos direitos”, diz.

Elcio tem a esperança de que com a greve o preço do frete seja reajustado/ Foto: Arquivo pessoal

Em nota enviada para o Webtempo, o conselho esclareceu que “Na hipótese de esgotamento das vias administrativas de solução dos impasses até 31/01/2021, haverá paralisação nacional dos Transportadores  Rodoviários de Cargas (autônomos e empregados), no dia 1º de fevereiro por prazo indeterminado”.

Em entrevista exclusiva pelo telefone, o presidente do Conselho, Plínio Dias, disse que o setor está aberto para negociações com o governo e não descarta a possibilidade de um acordo antes da paralisação. “Estamos abertos ao diálogo a qualquer momento, tanto o Conselho Nacional e também a categoria”. Como explica Plínio, as principais reivindicações presentes na pauta são:

“O valor do frete não permite mais que o caminhoneiro mantenha sua família, pois a despesa do combustível consome 60% do que é faturado no frete. Ganhamos as leis em 2018, porém não são respeitadas. Tem julgamento paralisado no STF [Supremo Tribunal Federal]”, votação no senado que não é concluída. Leis que já são vigentes, mas não são respeitadas. Não querem pagar estadia coerente para os caminhoneiros. Tem empresas que não pagam saldo de fretes. Tem o Projeto BR do mar, que foi passado sem audiência pública, que querem reduzir para 40% as viagens longas em BR’S e levar os caminhões para os portos, que não tem estrutura para comportar os caminhoneiros”.

Plínio Dias, presidente do CNTRC diz que movimento quer garantia de direitos conquistados na greve de 2018/ Foto: Arquivo pessoal

Walter Lúcio de Paula, presidente da Associação de motoristas e autônomos do Brasil (AMAB), que tem base em Montes Claros, comenta que a ideia é mobilizar os caminhoneiros sem causar desordem. Ele também participa da diretoria do CNTRC, como secretário, e confirma que a paralisação vai ocorrer em todas as rodovias federais do país. Em Montes Claros, os pontos de concentração serão na BR-135 e BR-251. Questionado sobre a promoção de uma greve em meio a pandemia, o presidente da AMAB ratificou que todas as medidas sanitárias serão seguidas e que cargas essenciais, principalmente hospitalares, seguirão o curso normalmente.

“Esse movimento é ordeiro e pacífico. Estamos trabalhando justamente nisso. Não é para fechar estrada. Quem tiver com carros, carga perecível, ônibus, ambulâncias e caminhões com produtos hospitalares não serão impedidos de passar. Vamos paralisar apenas os caminhões com carga normal, para quem quiser aderir de forma voluntária à greve. Protocolei a manifestação junto a superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), para que a segurança seja garantida”, ressalta Walter.

Walter é o presidente da Associação de motoristas e autônomos do Brasil (AMAB), que tem base em Montes Claros/ Foto: Arquivo pessoal

Na data de 31 de dezembro de 2020, o CNTRC encaminhou um ofício para o Conselho Administrativo de defesa Econômica no qual trata sobre as vendas das refinarias da Petrobras e também reivindica a implantação da atual política de preços conhecida como “Preço de Paridade de Importação” (PPI). No texto, são pontuados os principais setores que serão afetados com o impasse.

“Prejudica a economia brasileira, que fica menos competitiva com os elevados preços dos combustíveis no mercado interno. Prejudica os transportadores rodoviários, tornando o seu modal de trabalho menos competitivo que os demais. Prejudica o consumidor brasileiro que tem de pagar PPI em produtos nacionais, mesmo sem ter renda para isto. Um exemplo claro é a informação do IBGE de que mais de 3 milhões de famílias brasileiras passaram a cozinhar com lenha, devido a alta nos preços do gás”.

Na noite desta quinta-feira (28), em participação na live transmitida pelo presidente Jair Bolsonaro (Sem partido), o ministro de infraestrutura, Tarcísio Freitas, comentou que entende a situação dos caminhoneiros, e que algumas medidas para amenizar a crise no setor devido a pandemia estão sendo tomadas.

Durante live, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro de infraestrutura, Tarcísio Freitas, pontuou as medidas que estão sendo estudadas

“A economia encolheu, isso obviamente afeta o preço do frete. Nós não vamos parar de trabalhar dentro de uma agenda que já está planejada, passo a passo, para melhorar a situação. Estamos apostando muito no documento de transporte eletrônico, que vai trazer simplificação, vai acabar com intermediário, vai trazer o pix para o transporte rodoviário, estamos avançando na mudança da Lei de pesagem, nos postos de parada que agora fazem parte das nossas concessões. Já determinamos aos portos que melhorem a estrutura de recepção. Eu acho que vai haver esforço, tem diálogo, e a gente precisa ter um pouco de paciência”, falou o ministro.

Bolsonaro completou a discussão sobre a greve destacando que uma das possibilidades para atender a categoria de caminhoneiros seria a redução em 9 centavos do preço do imposto federal aplicado sobre o combustível, mas disse que a ideia ainda será avaliada pelo ministro da economia Paulo Guedes. O ministro, por sua vez, afirmou ao presidente que a medida pode desencadear aumento de tributos em outras áreas.

“O imposto federal que existe [sobre o diesel] é o PIS/Cofins, que já tirou uma parte e está em 33 centavos [por litro]. Então, procurei a equipe econômica para a gente anular 9 centavos no diesel. Agora, cada centavo para diminuir no diesel, eu tive que buscar receita em outro local: ou criar um imposto ou aumentar outros impostos. E cada centavo no diesel equivale a 800 milhões de reais por ano”, analisou Bolsonaro.

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