“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
Guimarães Rosa
Paulinho nasceu a fórceps, contrariado, queria permanecer no protegido útero de Dona Jacy. Seguramente sabia que sua vida seria uma sucessão de combates e confrontos e tentou adiar a sua entrada no campo de batalha. As contendas principiaram já na infância com os irmãos mais velhos. Embora fosse o caçula, queria competir e ganhar de todos, nas brincadeiras, nos esportes, nos argumentos e, se preciso fosse, na porrada. Nunca correu de um arranca-rabo, adora uma rinha, seja ela cerebral, política ou futebolística. Até mesmo no trato das amenidades, volta e meia, supita e dispara uma retórica caliente, lúcida e visionária. Em uma, duas horas de conversa é agradável, abre nossa cabeça, nos faz enxergar além da mesmice, mas aguentar o dia todo o vulcão de ideias, a quantidade de projetos que quer levar adiante, é exaustivo. Passar um dia inteiro na companhia dele deixa-nos mentalmente exauridos e, como se não bastasse, delega-nos uma lista de afazeres para providenciarmos: “É pra re-sol-ver!”.
Nos primeiros anos escolares, não adaptou em nenhum colégio, repugnava o ambiente autoritário e antidemocrático. Acabou sendo alfabetizado por uma professora particular, contratada exclusivamente para ensiná-lo em nossa casa. Aos trancos e arrancos refugou os colégios por onde passou, até mergulhar na política estudantil, quando foi eleito presidente do Diretório dos Estudantes Secundaristas de Montes Claros. Em plena ditadura organizou o primeiro ato público, em frente à Catedral, pelas liberdades democráticas. No palanque meteu a lenha no governo, mesmo a praça estando cercada por um destacamento do exército. Audácia nunca lhe faltou para levar adiante aquilo que acredita.
Precoce e exagerado em tudo que se propôs, aos 19 anos já era pai de Maria. A prole de 7 filhos foi completada por Nando, Júlia, André, Flôr, Miguel e José. Os dois últimos são mais novos do que seus netos João e Analu. Sua descendência é um bom exemplo do que ele sempre defendeu: fraternidade! Em 1979 foi para o Rio de Janeiro estudar Sociologia e trabalhar com o tio Darcy Ribeiro. Lá, juntou a fome com a vontade de comer. Participou e palpitou em todos os projetos do governo Brizola/Darcy: CIEPS, Sambódromo, Monumento de Zumbi, Universidade de Campos, Centros Culturais, Casa de Cultura Laura Alvim… Creio que aquele ambiente criativo de proliferação de ideias e de afoiteza para concretizar projetos lapidou Paulo Ribeiro e o distinguiu como um homem sonhador e realizador.
Quase ninguém sabe que Paulinho, com apenas 23 anos, foi o catalizador da luta pelo tombamento de todas as praias do estado do Rio de Janeiro, contra a especulação imobiliária e pela preservação da mata nativa, dos animais e dos pássaros da mata atlântica. A extensão do tombamento vai da Praia de Grumari até Paraty e Trindade, pelo litoral sul; e por Búzios, Cabo Frio, manguezais de Campos, pelo litoral norte. No começo da década de 90, Paulo Ribeiro reativou a TV Minas transformando-a na Rede Minas, com mais de 60 emissoras e, posteriormente, pelo seu êxito no meio televisivo, foi convidado para ser o presidente da Fundação Roquette Pinto, gestora da TVE, quando foi criada a “TV Brasil e Projeto TV Escola”.
Em Montes Claros e no Norte de Minas, é um grande defensor do meio ambiente e um dos criadores dos parques ambientais mais importantes da região. Só que existe outro Paulo Ribeiro, conhecido por poucos, de uma ternura imensa, generosidade desmedida e desprendimento absoluto pelos valores pecuniários, que sempre está em defesa dos mais humildes e em luta pelo bem comum. Esse é o Paulinho que mais amamos e que está impresso em nossos corações.
O que a vida nunca pediu a Paulinho foi coragem, não foi preciso, ele sempre a teve de sobra.
Ucho Ribeiro
Compartilhe: