DECEMBER 9, 2022

Heróis de jaleco

Além da Covid-19, profissionais de saúde são obrigados a enfrentar e conviver com uma velha inimiga: a falta de estrutura os hospitais

HEROIS DE JALECO

Ana Carolina Ferreira – DA REDAÇÃO

“ A pandemia veio mostrar que os investimentos em saúde nunca foram tratados de maneira séria. É um sistema muito frágil.”, desabafa o médico Gabriel Ramos (Crédito: Arquivo Pessoal)

A técnica de Enfermagem Maria Elza Oliveira Andrade morreu fazendo o que mais amava: cuidar do outro. Na cidade de Capitão Enéas, Bila, como era conhecida por todos, tratou de um paciente com a Covid-19 que estava internado no pequeno município de pouco mais de 14 mil habitantes. Ela acabou contraindo o coronavírus. No dia 22 de maio veio em busca de tratamento em Montes Claros, no entanto, dias depois, não resistiu e passou a fazer parte da triste lista com mais de 50 mil pessoas que já morreram com a doença.

A enfermeira Mara Fagundes, que há três anos e meio fazia plantões com Bila, ficou muito abalada com a perda da colega e amiga: “É como se estivéssemos em um campo de batalha, e uma colega fosse abatida. Com todos os recursos ali disponíveis, não tivéssemos como salvá-la. O sentimento é de impotência. Ela era a mãezona de todos, a que dava broncas e conselhos também. Ela acolhia, de maneira humanizada, a todos os pacientes.” Além de Bila, outras pessoas perderam a vida para a doença no Norte de Minas.

Enfermeira Maria Cândida Pimenta. Na foto, ela está com o caminhoneiro Leandro de Souza, vítima da Covid-19 (Crédito: Arquivo Pessoal)

Em meio a tanta tristeza, também há boas notícias. O caminhoneiro Leandro Carneiro de Souza saiu do Ceará rumo a São Paulo para entregar uma carga, porém encontrou a Covid-19 pela frente e teve que parar no meio do caminho. Com febre alta e muita indisposição, não conseguir seguir viagem. “Parei em um posto de combustível e pedi ajuda a um frentista. Não quis descer da carreta porque eu suspeitava do que poderia ser. Uma equipe do Samu me levou até um hospital de Montes Claros, onde fiquei quase 50 dias internado”, conta o caminhoneiro, que já voltou para o Ceará.
Na linha de frente que ajudou a recuperar Leandro Carneiro estava a enfermeira Maria Cândida Pimenta. Ela coleciona histórias de batalhas nesta pandemia. “A rotina é realmente um desafio, pois estamos trabalhando com algo novo, inusitado. Só que é muito compensador quando saímos do plantão com a sensação de missão cumprida.

Não é só o tratamento, a gente trabalha com os sentimentos do paciente, que se vê fragilizado, inseguro, com medo da morte. Pensamos na família, nos amores que ele deixou lá fora. E nós, profissionais da saúde? Tentamos ser fortes, cada um guardando o medo debaixo do jaleco”, emociona-se Maria Cândida.

A enfermeira Mara Fagundes (esquerda) com a técnica de Enfermagem Bila (centro), que morreu vítima de Covid-19. (Crédito: Arquivo Pessoal)

Além do coronavírus, os profissionais de saúde são obrigados a enfrentar e conviver com uma velha inimiga: a fragilidade da saúde pública. “Durante muitos anos, vimos um investimento grande na saúde primária, que é muito importante, mas esqueceram de outros setores, como os leitos de UTI, principalmente em cidades de médio porte. Há leitos sucateados, falta de profissionais e hospitais que funcionam como postos de urgência sem nenhuma estrutura. A pandemia veio mostrar que os investimentos em saúde nunca foram tratados de maneira séria. É um sistema muito frágil.”, desabafa o médico Gabriel Ramos. Diante dessa realidade, não é exagero afirmar que os profissionais de saúde são verdadeiros heróis.

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