“Reticências… um pensamento que ficou parado no ar. Uma frase sem complemento, alguma coisa que o vento trouxe e não quis contar”
Antônio Barreto
Alguém que não cabe em síntese. Plural, diverso, inquieto. Paulinho são muitos, carrega em si e em seu repertório muitos outros, homens de ontem e de agora. Um sonhador, despudoradamente sonhador. Paulinho me descortinou um mundo, alargou a vista, são muitos os momentos marcantes e importantes que vivemos juntos. Estamos para sempre juntos. Plantamos árvores, escrevemos livros e tivemos filhos, três: Flôr, José e Miguel.
Foram 10 anos cruzando estados. Ele, com o seu faro, caçando águas, luas, histórias, querendo emendar verdes sem fim. Paulinho me apresentou as Minas, os Gerais, o Rio de Janeiro, as serras, os parques, as montanhas. Sonhamos juntos muitas coisas, muitas se realizaram, ganharam forma de coleções, projetos, um beijódromo, um kuarup….quem diria.
Paulinho me apresentou um mundo inteiro…tirou meus pés do chão algumas vezes, muitas vezes…nossas viagens viravam projetos. Até a mais simples viagem, dava margem para um projeto… margem, não, Paulinho não é e nem gosta da margem… Paulinho é o leito do rio, profundo. Guimarães Rosa costuma dizer que a vida é eteceteras, mas eu tenho paixão por reticências…
Paulinho é uma reticência em minha vida, penso que eu seja também na dele. Conviver com o Paulinho, amá-lo imensamente foi muito desafiador para mim. Trabalho e amor, tudo muito junto e misturado, foi assim que a vida nos aproximou. Paulinho foi um salto, um sim que mudou a minha rota. Um mergulho profundo, intraduzível. Se eu juntasse todos os poemas que amo – Drummond, Quintana, Clarice, Cecília, Cora, Adélia, Florbela, Pessoa, Manoel de Barros, Bandeira, Leminsk – nada e ninguém fariam uma síntese do que foi viver 10 anos na presença dele…reticências. Elas dizem tudo o que a palavra não sustenta.
Viva Paulinho!
Laura Murta – Jornalista
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